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Sammy Lee revela ter compulsão alimentar. Entenda o que isso significa

Sammy Lee - Reprodução/Instagram
Sammy Lee Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Toledo

De Universa

16/09/2020 16h35

Depois de alguns dias ausente dos Stories, a influenciadora digital Sammy Lee (mulher de Pyong, com quem tem um filhinho pequeno, Jake) decidiu revelar aos seus seguidores o que está acontecendo. Em uma sequência de posts em seu perfil, ela contou sobre seus recentes episódios de compulsão alimentar: "Eu como demais, até passar mal, mas não consigo parar. Tenho descontado toda minha raiva e a angústia da quarentena na comida".

Sammy disse que o pior momento é o café da tarde, quando a fome bate e é difícil fazer escolhas certas: "Não tenho vontade de comer saudável, e sim um desejo louco de comer um monte de besteira".

No entanto, a influenciadora tranquilizou seus fãs e afirmou que já começou a fazer terapia, decidida a tratar o problema. "É um processo de reconstrução. Não dá mais para ficar do jeito que eu estou. Descuidei de mim, da minha pele, do meu corpo. E olha que sou leonina, sempre gostei de me cuidar. Mas agora me sinto chata, reclamo de tudo e de todos. Quero ser mais paciente, levar as coisas na esportiva", desabafou.

Nessa mesma semana, outra influenciadora digital, Camila Monteiro, também assumiu por meio do Instagram sofrer de transtorno de compulsão alimentar e também estresse pós-traumático. "Eu tenho esses transtornos, mas eu não sou os meus transtornos. E nem você é. É importante receber um diagnóstico, mas é igualmente importante não carregar isso como uma sentença", escreveu.

A compulsão alimentar é um problema sério. E não se engane: não é compulsão repetir o prato do almoço, por exemplo, e sim comer quantidades absurdas de comida quando, no fundo, você nem está com tanta fome assim. "Na compulsão alimentar há uma sensação de falta de controle - é como se a pessoa não conseguisse parar de comer ou escolher o que e quanto ela vai comer. É diferente do exagero que a gente comete quando tem fome, a comida está gostosa e queremos repetir", esclarece Luiza Mattar, nutricionista especializada em comportamento alimentar e dona da página O que houve com a couve no Instagram.

Para reconhecer uma compulsão, a nutricionista recomenda fazer a si mesma as seguintes perguntas: "Comi uma quantidade muito grande de comida em um período determinado (de até duas horas) que outra pessoa como eu não comeria na mesma situação?" e "Tive sensação de perda de controle em relação ao quanto ou o que estava comendo?". Se a resposta for sim, é hora de ficar alerta. Um episódio isolado de compulsão alimentar não significa que a pessoa tem efetivamente um transtorno alimentar. Mas se esses episódios se tornarem comuns, o caminho é buscar ajuda profissional. "Procure uma nutricionista que entenda de transtornos alimentares. Muito pouco é falado na faculdade sobre compulsões alimentares e uma nutricionista cheia de boas intenções, mas com pouco conhecimento no assunto, pode atrapalhar mais do que ajudar. Um psicólogo e um psiquiatra, ambos especializados em transtornos alimentares, também são fundamentais nesse processo", explica.

Restrição gera compulsão

Nos Stories em que fala sobre o assunto, Sammy disse que agora está fazendo "dieta direitinho". Ela não deu detalhes sobre qual cardápio está seguindo, mas dieta e compulsão são questões que estão diretamente ligadas podendo, inclusive, manter uma relação de causa e consequência. A nutricionista traduz: "Geralmente, compulsões aparecem como resultado de um período de restrição alimentar, que é muito comum em dietas. Não dá para curar compulsão com foco no peso ou na perda dele, muito menos fazendo dieta. É preciso olhar para dentro, entender suas emoções, parar de fazer restrição alimentar, entrar em contato com seus sinais internos de fome, saciedade e com suas vontades. Exatamente o contrário do que uma dieta restritiva propõe". Além da dieta, os episódios de compulsão também podem aparecer em consequência de um período de instabilidade emocional, onde a pessoa usa a comida em excesso para tentar lidar com, ou esconder, seus problemas e sentimentos. O que tudo indica ser o caso da Sammy, já que ela revelou estar "descontando na comida toda sua raiva e angústia".

Quem sentiu na pele os efeitos nocivos de uma dieta restritiva foi Ciça Campos. Formada em comunicação, ela hoje é criadora de conteúdo digital e comanda a página Um Sorvete na Casquinha, onde compartilha suas experiências pessoais relacionadas a transtornos alimentares, depressão e ansiedade. "Comecei a ter compulsão aos 20 anos. Na época, tinha acabado de voltar do intercâmbio e ouvi, pela primeira vez na vida, que havia engordado. Sempre me gabei de ser aquela que come, come e não engorda. Fui correndo para uma nutricionista, que me passou uma dieta tradicional e bastante restritiva", lembra. Ciça, que se define como perfeccionista, seguiu as recomendações da médica à risca. Mas, logo na primeira semana, foi dormir com fome todos os dias. Chegou o sábado e ela decidiu, então, se dar de presente uma "escapada" da dieta, já que tinha ido tão bem durante todos os outros dias. "Fui com a minha família a uma churrascaria. Comi muito além da minha vontade e, mesmo assim, saí de lá pedindo para irmos a uma doceria, onde comi uma banana split, um sundae e quatro docinhos", assume.

Ciça Campos - Reprodução/Instagram  - Reprodução/Instagram
Após vencer a compulsão alimentar, Ciça compartilha seus aprendizados no Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Ciça conta que episódios assim começaram a se repetir em todas as oportunidades que ela tinha para dar uma desculpa e sair da dieta, como festas de aniversário, casamento, Natal e jantar fora com as amigas. "Quanto mais eu me restringia, mais ia acumulando aquele desejo de comer o que eu estava batalhando para evitar a semana toda. No meu caso, eram os doces, que sempre foram meu ponto fraco. Aquilo virava uma bola de neve e, de repente, explodia", relata. Em uma dessas ocasiões, ela devorou um bolo inteiro de uma vez só. "Parece que você foi possuída, não existe controle. É coisa de pegar comida crua, congelada, comer pelo desespero mesmo", detalha.

Quando já estava claro que havia algo muito errado, Ciça foi procurar um atendimento psicológico e logo começou a ter acompanhamento de uma nutricionista comportamental e de uma psiquiatra também: "Só na terapia fui entender as causas do problema. Além do fator dieta, no meu caso tinha um lado mais emocional também. Meus pais sempre trabalharam fora e nossos únicos momentos juntos eram as refeições. Se eu estava triste ou entediada, eles sempre me sugeriam fazer um lanche ou tomar um sorvete. Ou seja: as soluções apresentadas para as minhas emoções negativas sempre estiveram ligadas com comida. Isso se enraizou dentro de mim sem que eu nem percebesse".

Tem cura?

No caso da Ciça, foram seis anos de frequentes crises de compulsão alimentar, dos 20 aos 26 anos de idade. Hoje, aos 28, ela comemora dois anos sem nenhum episódio: "Você recebe alta do tratamento, como eu recebi, mas precisa se vigiar para sempre. Para mim, o fundamental para eu conseguir parar e me manter longe disso até hoje foi entender quais eram meus gatilhos, como dietas restritivas e problemas emocionais. A nutricionista comportamental me ajudou a entender essa relação com a restrição, a psicóloga me ajudou com a questão do lado emocional e, a psiquiatra, com o controle por medicamentos".