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Strip no sofá: publicitária dá aula de striptease online durante a pandemia

A publicitária Ingrid Astásio que dá aulas de strip-tease online - Arquivo pessoal
A publicitária Ingrid Astásio que dá aulas de strip-tease online Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Alves

Colaboração para Universa

20/06/2020 04h00

A publicitária Ingrid Astásio, 25, não imaginava que a chegada da quarentena iria dar a ela a chance de ampliar sua atividade paralela como professora de pole dance e twerk. Com a pandemia da covid-19, os estúdios onde ela trabalhava em São Paulo suspenderam suas atividades. E ela, que trabalha com produção de conteúdo, transferiu as aulas das salas de dança para a internet e criou o Strip no Sofá.

Conhecida como Donadih, ela conta que a demanda por suas aulas vem crescendo já que, devido ao distanciamento social, muitas mulheres se afastaram de seus companheiros, namorados e crushes e viram no Strip no Sofá uma forma de manter o relacionamento quente até esse período acabar.

"Quando montei as aulas, eu não tinha pensado nisso porque estou 200% solteira e não tenho nem para quem enviar os vídeos. Mas, bem na primeira semana, alunas me falaram: olha, eu mandei para o boy, e ele adorou. Daí eu comecei a acrescentar algumas coisas, como expressão facial, tipos de olhares, quando é legal sorrir e os tipos de sorriso", diz.

As aulas acontecem uma vez por semana, por um aplicativo, e duram em média uma hora. Custam R$ 20. Começam com aquecimento e relaxamento corporal para não causar lesões. Em seguida, são feitos exercícios isolados, como rebolar e tirar a blusa ao mesmo tempo ou diferentes tipos de caminhadas. E, por fim, vem uma coreografia com uma música sensual.

Nos Estúdios, Donadih dava aulas para uma média de nove alunas. Agora, está com 15 e já chegou a ter 25 participantes numa única aula online.

Nas aulas, não é usado nenhum tipo de mastro ou barra, já que a maioria das mulheres não tem esses objetos em casa. A falta de apetrechos não atrapalha, diz Donadih. O que faz falta é o contato visual.

"Eu fico com a janela do meu notebook ligada com vários quadradinhos, tentando ter um controle de tudo. Quando é aula presencial, eu olho aluna por aluna de uma maneira muito mais atenciosa. Por outro lado, com as aulas virtuais, eu vejo que as pessoas estão se permitindo mais. Seja no twerk ou no strip, as alunas se soltam mais porque estão literalmente em casa."

Sem estereótipos

Ingrid, que também dá aulas particulares para toda a comunidade LGBT, ressalta que tem alunas de todos os tipos. Com as aulas virtuais, ganhou adeptas até no exterior.

"Na minha última aula de strip, tinha uma aluna de 21 e uma de 53 anos. Tenho aluna em Nova York, em Recife, no Sul do Brasil. E, em questão de corpo, tem todos os estilos possíveis."

Dih, que não se encaixa nos clichês de corpo perfeito, revela que já sofreu preconceito, justamente por não encontrar pessoas com o mesmo biotipo no pole dance, mas nunca não se intimidou com isso.

"Eu já ouvi muitos comentários de mau gosto: que eu sou puta, vulgar ou até associados ao meu peso e à minha aparência. Mas eu consegui filtrar isso e relevar com o tempo", diz.

Sem vergonha

Quem se sente intimidada em fazer striptease com outras mulheres olhando pode ficar tranquila. Ninguém tira todas as peças de roupa durante a aula e também há a opção de manter a câmera desligada.

Camila Geraldi, 32, é publicitária e faz aulas de pole dance com Donadih há um ano. Ficou entusiasmada com a ideia do Strip no Sofá porque estava sem praticar atividade física desde o início da pandemia.

"É incrível a aula. É superlibertadora. Quando a gente pensa em pole dance ou em outros tipos de dança assim, a gente pensa muito em sexualidade. E sensualidade não necessariamente tem a ver com sexualidade. Sensualidade é pra gente também", diz Camila.

Outra adepta das aulas virtuais é a advogada Ana Beatriz Castro, 53. "Dá pra você cuidar do seu ego, do seu lado feminino e se sentir mais empoderada. Eu danço, gravo e mando para o boy. Ele curte de verdade", conta, aos risos. "A Dih é uma mulher fora dos padrões, um exemplo muito marcante. Ela sensualiza escândalos."

Turma Mulherão

Desde criança, Dih sempre adorou dançar. "Eu sou aquela criança dos anos 90 que tinha um monte de VHS dançando É o Tchan", recorda.

Ela fez balé, um pouco de jazz e até se aventurou em dança de rua. "Me comunicar com o corpo sempre foi natural para mim, mas até então eu nunca tinha levado muito a sério", diz.

Há cinco anos, ela conheceu o pole dance e não parou mais de dançar. "O pole tem uma questão física, exige um esforço muito grande, trabalha a flexibilidade. É uma atividade muito completa."

Donadih começou a dar aulas no mesmo estúdio em que praticava pole dance. Foi ali que criou a turma Mulherão: "uma aula exclusiva para as minhas plus sizes, que são meninas gordas ou não magras", explica.

"A minha imagem acaba influenciando porque é mais próxima da realidade. Eu acho que ajudou muito na questão do sucesso das minhas turmas e das minhas aulas."