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May the fourth: 4 lições sobre feminismo na saga Star Wars

Princesa Leia se tornou ícone entre as mulheres; mas, saga pode ser considerada feminista também? - Reprodução/iMDB
Princesa Leia se tornou ícone entre as mulheres; mas, saga pode ser considerada feminista também? Imagem: Reprodução/iMDB

Nathália Geraldo

De Universa

04/05/2020 17h55

"Somos a resistência". Transformado em expressão de luta das mulheres por igualdade de gênero, o lema de Princesa Leia, em Stars Wars, é uma das muitas lições feministas que se consolidam na saga — e ganham aplausos entre quem estava cansada de ver estereótipos machistas invadindo as telas de cinema.

Hoje, dia 4 de maio, é uma data especial para fãs da série de filmes. O "May the fourth be with you", é comemorado no mundo inteiro por quem é fã de Star Wars, com bastante orgulho. A saga, entretanto, ganha diversidade em sua narrativa aos poucos: até que em "Star Wars: A Ascensão Skywalker" (2019) a diversidade ganha força total no elenco.

    Mesmo quem não acompanha a franquia entende que Princesa Leia, eternizada por Carrie Fisher, se tornou uma referência para mulheres ao colocá-la como uma mulher múltipla — heroína e destemida. Rey, que aparece pela primeira vez em "Star Wars: O Despertar da Força" (2015) também é sinônimo de representatividade. "Ela tem força em seu caráter, força de luta, e sua independência", explica Cláudia Fusco, mestre em Estudos de Ficção Científica pela Universidade de Liverpool.

    O que mais podemos aprender sobre feminismo em Star Wars?

    "Star Wars" e as lições de feminismo

    • Celebrar diversidade, e cobrar mais

    Em 2017, surge a primeira asiática-americana, Kelly Marie Tran, em "Star Wars: Os Últimos Jedi". Apesar da diversidade, os fãs reclamaram por ela ter aparecido pouco na tela. Por outro lado, parte do público manteve uma conduta racista e não concordou com a personagem, atacando a produção à época. A guerreira Jannah (Naomi Ackie), negra, também sofreu com comentários racistas em "A Ascenção Skywalker".

    Ou seja, mesmo com os avanços, parte do público cobra por mais diversidade racial, e a aparição de personagens LGBTQI+ ou trans na saga.

    • Protagonismo, OK. E a união feminina?

    O protagonismo feminino, explica Cláudia, alçou voos maiores apenas nos dois últimos filmes. "Na trilogia clássica, Leia equilibra inúmeros papéis — interesse romântico, princesa, irmã, mensageira — em uma única personagem, que também era especialmente objetificada. Algo similar acontece a Padmé (Natalie Portman) na segunda trilogia, mas ela acumula ainda mais papéis, de interesse romântico à mãe sacrificada", destaca.

    É na terceira trilogia que as personagens femininas passam a conduzir suas próprias histórias, apesar de não serem, essencialmente, exemplos de união feminina.

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    "Rey (Daisy Ridley) é central para a saga Skywalker, Jyn (Felicity Jones) é a protagonista de Rogue One. No entanto, é possível debater sobre se isso tornaria os filmes feministas em essência; afinal, há pouca interação e cooperação entre personagens femininas, mesmo que elas apareçam com mais frequência na nova trilogia. E vale dizer que algumas até foram apagadas por conta da reação do público, como foi o caso de Rose Tico (Kelly Marie Tran) em 'A Ascensão Skywalker."

    • O respeito à pluralidade das mulheres

    Reconhecer o fato de que mulheres não são iguais também faz parte de uma das lutas feministas, dentro e fora das telas. É preciso, ainda, dar profundidade às personagens, explorando forças e fraquezas e não repetindo estereótipos ligados ao feminino.

    "Rey e Leia são exemplos de força feminina. Especialmente quando Leia se torna uma general e liderança estratégica da resistência, saindo do papel de princesa que era resgatada pelos seus dois salvadores. Rey é uma personagem interessante também, e sua evolução é interna. Ela traça uma trajetória baseada na jornada da heroína de Maureen Murdock [autora que criou uma estrutura de narrativa para a ficção], na qual a mulher, acima de tudo, busca entender qual seu papel nesse mundo. Acaba por ser, também, interesse romântico, mas nos dois primeiros filmes da nova trilogia, pelo menos, isso não a define", comenta Cláudia.

    A vice-almirante Holdo, a Capitã Phasma, e a humanóide Maz Kanata também tem perfis que podem ser explorados. "Nem todas são vistas mais a fundo dentro da trama", diz a especialista.

    • O machismo por trás das câmeras

    Manifestações contra protagonistas femininas, boicote a produções com pessoas LGBTQI+, infelizmente, ainda são provocadas por fãs do cinema. Para Cláudia, o público masculino por vezes é contra mudanças de elenco e narrativa. Uma demonstração da resistência às transformações dos filmes dos aos 70 e 80 para atualmente.

    Há tentativas de mais representatividade por trás das câmeras, afirma Cláudia. "Desde a substituição de George Lucas por Kathleen Kennedy na direção da Lucasfilm, a empresa tenta escalar um time diverso, de homens e mulheres com voz ativa nas produções", analisa. "Contudo, os principais roteiristas e diretores da saga são homens, e o público masculino também é responsável por recuos nas conquistas de algumas personagens femininas dentro do universo Star Wars. O machismo no entretenimento não está superado, nem de longe".