Topo

"Amor nos tempos de corona": casos vão de date adiado à lua de mel em xeque

A paixão sobreviverá a tempos de isolamento, contaminação e ansiedade generalizada? - Phynart Studio/Getty Images/iStockphoto
A paixão sobreviverá a tempos de isolamento, contaminação e ansiedade generalizada? Imagem: Phynart Studio/Getty Images/iStockphoto

Nathália Geraldo

De Universa

14/03/2020 04h00

Em tempos de coronavírus, os dates, as viagens de lua de mel e até mesmo a recaída — aquele momento em que ficar com o ex parece ser uma boa ideia — não têm mais o mesmo significado.

Tudo está cercado de medo: pouca gente quer se expor à contaminação, que causa doença respiratória, para apenas manter os planos "de casalzinho" ou, quem sabe, ir a um encontro para agitar um pouco a vida amorosa; afinal, um beijo é só um beijo, exceto se ele transmitir coronavírus, certo?

Como diz um dos muitos memes na internet sobre o tema: "Parece ironia querer viver saudável no século da pandemia". Fato é que, para se manter longe do risco de contaminação, algumas pessoas têm mudado a rotina, inclusive nesse âmbito da vida.

Será que o amor sobreviverá a quarentenas, isolamento e à recomendação de se evitar contato com "secreções contaminadas" do outro?

Amor nos tempos de coronavírus

Há um pânico global — segundo especialistas, não justificado — em relação ao coronavírus. A OMS, por exemplo, acaba de declarar a Europa como o novo epicentro do vírus e, por essa razão, o deslocamento de pessoas de seus países de origem para o continente, e vice-versa, tem gerado preocupação.

"De quarentena com a ex"

A interação com a ex, que tinha voltado da Europa — e passado pela Itália e pela Espanha — foi, aliás, a forma de contaminação de um aluno do curso de Geografia da Universidade de São Paulo, a USP. De acordo com mensagem que circula no WhatsApp, de sua autoria, a ex-parceira chegou a dormir em uma noite — e apesar de ele não mencionar um "remember", a internet logo entrou na onda dos memes causados pela situação "De quarentena com o ex":

"Meu crush me disse para ficar de quarentena"

Para a fotógrafa Amanda*, que voltou para o Brasil recentemente depois de ter passado um mês viajando por países europeus, entretanto, tal situação alarmante se tornou o motivo certo para retomar a conversa com o contatinho. É que ela chegou a São Paulo "bem gripada", e resolveu pedir ajuda de seu médico que também é seu "crush".

"Eu tenho um crush, correspondido, com meu otorrinolaringologista. Aí, falei com ele sobre estar me sentindo doente, e foi ele que disse para eu ficar de quarentena. Até pensamos em marcar um encontro, mas adiamos, porque eu não posso trocar fluidos com ninguém, né?", contou para Universa.

A fotógrafa conta que o interesse entre os dois surgiu há uns dois anos, "desde que eu fiz uma cirurgia para retirar cistos no nariz, por conta das minhas crises alérgicas"; mas, aparentemente, o amor ainda terá que esperar. "Ele acaba de viajar para Tailândia também, então, quando ele voltar, ainda vamos avaliar quando será seguro nos vermos, já que ele virá do exterior", pontua.

Apesar de estar isolada, em casa, seguindo recomendação de seu crush/médico, Amanda disse que não teve confirmação do coronavírus. "Ele sugeriu que eu fizesse o teste só se eu piorasse. Como melhorei, estou só tomando as medidas de cuidados básicos".

"Não vai dar, o coronavírus está por aí"

"Eu estava conversando com um homem no Tinder e disse a ele que estava viajando. Ele me perguntou: "com o coronavírus por aí!?" Então, desfez o match. Namorar é talvez a coisa mais divertida que já fiz".

Desmarcar o date por medo de estar em lugares aglomerados — ou por receio de beijar a boca de alguém contaminado — também já faz parte do comportamento de algumas pessoas. A dermatologista Isabella* , que acaba de voltar de umas férias na Europa, chegou a mandar uma foto do resultado negativo do teste de coronavírus para o crush pelo whatsApp. "Foi bom para tranquilizar o boy, que estava reticente em me encontrar quando contei ter acabado de voltar da França."

A OMS não tem recomendações expressas sobre evitar beijar ou abraçar alguém que não tenha quadro de coronavírus confirmado, apesar de, há um mês, especialista da Universidade Queen Mary de Londres, ter classificado o coronavírus como "vírus social" e que, por isso, seria prudente a redução de demonstrações de afeto como essas.

"A lua de mel: Europa ou Nordeste?"

Gabriella Dias e Diego Noura casal coronavírus - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gabriella e Diego pensam em mudar o destino da lua de mel, da Europa para o Nordeste
Imagem: Arquivo Pessoal

Já para a designer Gabriella Dias e o analista de sistemas Diego Noura, o coronavírus atingiu diretamente o roteiro de lua de mel. Os dois se casam em 12 de junho, e programam a primeira viagem internacional — para Inglaterra, Portugal e França — onde, inclusive, o Museu do Louvre está fechado por tempo indeterminado. A viagem, conta a designer, pode mudar, a depender do avanço do vírus nos próximos meses.

"Decidimos tudo uma semana antes do Covid estourar na mídia. E, mesmo a nossa viagem sendo daqui a três meses, estamos apreensivos quanto prosseguir com a compra de todas as coisas. Na verdade, estamos meio paralisados diante de tudo isso, apesar de meu noivo estar menos assustado que eu", explica.

Para o casal, a ideia de mudar o destino da viagem não está descartada. "Estou seriamente repensando e planejando, quem sabe, casar em junho, dar um pulo ali no nordeste e deixar a Europa para o ano que vem, se nenhuma nova gripe 'anabolizada' surgir até lá".

Gabriella conta que a incerteza sobre um "colapso global" também a deixa apreensiva sobre o custo com a viagem. "Fora a alta das moedas estrangeiras, não sabemos se a pandemia realmente vai ser contida até lá, ou se vai ter um colapso global, em que precisaremos de todas as nossas economias. E não seria prudente gastar muito em uma viagem". Vale dizer que, até agora, as projeções dão conta apenas de perdas dentro do sistema macroeconômico mundial.

"Lave a mão", avisa Tinder. Em Brasília, mesas separadas

Os aplicativos de paquera, e as redes sociais — que também já são plataformas de flerte — entraram no tema. Entre um like e outro do Tinder, por exemplo, os usuários são orientados a lavarem suas mãos e usarem álcool em gel para se prevenirem da contaminação.

As mudanças também chegaram aos locais de encontro — sim, tomar um litrão com o @ não será mais igual. Em Brasília, de acordo com a Agência Brasil, bares e restaurantes são obrigados a dispor mesas a uma distância mínima de dois metros entre elas. A mesma medida foi tomada na Itália, país sob quarentena.

De todos os resultados possíveis do coronavírus, esse parece ser o mais tranquilo para quem está em um primeiro date: com certeza, o casal ao lado não ouvirá nenhum detalhe da conversa inicial de ninguém.