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Mulheres contam casos de gordofobia no 1º encontro: "Coca Zero, né?"

Carolina Ribeiro, DJ, já passou por um date gordofóbico - Arquivo pessoal
Carolina Ribeiro, DJ, já passou por um date gordofóbico Imagem: Arquivo pessoal

Nathália Geraldo

De Universa

17/02/2020 04h00

Começa logo depois do match. A gordofobia - preconceito contra gordos que pode acontecer de diversas formas, inclusive em frases aparentemente inofensivas para muita gente— é uma realidade enfrentada por muitas mulheres gordas que estão em busca de um relacionamento. Nos aplicativos de paquera, os comentários gordofóbicos podem acontecer ainda no mundo virtual.

Mas há histórias que extrapolam o contato na internet e o constrangimento acontece no primeiro date. Segundo as mulheres ouvidas por Universa, a situação pode gerar traumas, especialmente ligados à autoestima e ao medo de críticas dentro de um relacionamento.

Relatos de gordofobia no date

"No Tinder, deixo claro que sou gorda. Parece que ele não acreditou"

A autônoma Carolina Ribeiro prefere mostrar que é gorda por meio das fotos que elenca para colocar nos aplicativos de relacionamento. Isso não a livra, entretanto, de passar por situações de gordofobia com seus pretendentes — ainda que, dentro do Tinder, eles elogiem sua aparência, como conta para Universa.

"Dei match em um homem e nem 'oi' ele disse; foi para um 'Nossa, que linda!'. Passamos a conversar até o dia de nós vermos. E ele me dizia que eu era atraente, que ia 'fazer e acontecer comigo'. Fui encontrá-lo na estação de trem para conversar e ele me olhou com espanto, como se estivesse diante de um animal exótico. Parecia tão desinteressado, que eu dei meu jeito e fui para casa. Quando cheguei, ele me bloqueou", diz.

"O jeito que ele me olhou de cima a baixo me traumatiza até hoje. E eu morro de medo de que outra pessoa repita tal feito. Vale dizer que não edito minhas fotos de app, e sempre deixei claro que sou gorda. Parece que ele não acreditou...".

Ele corrigiu meu pedido: "Coca Zero, né?"

Talita Torres - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
"Essa é a cara que mostra como eu me senti quando o cara me corrigiu", comenta Talita
Imagem: Arquivo pessoal

A estudante Talita Torres ouviu do pretendente que tinha conhecido pelo Tinder, no primeiro encontro, que ela deveria pedir Coca Zero na lanchonete em que eles estavam.

"Na época, eu era 35 kg mais magra do que sou hoje, mas muitas pessoas me viam como gorda, porque eu tenho quadris largos e 1,64 metro. Bem, marcamos o encontro na lanchonete, e eu comentei que tinham uns milkshakes muito legais no cardápio. Ali, ele já fez um comentário: 'Mas são muito grandes, né?'", conta.

Depois de pedirem os sanduíches, Talita foi alvo de um comentário gordofóbico ao pedir um refrigerante ao garçom. "Eu falei que queria uma Coca, e o cara completou: 'Zero, né?'". Eu simplesmente respondi: 'Não. Normal, né?'. Sem contar que sou alérgica a aspartame...A Coca Zero me faria muito mal! Este foi, claro, o primeiro e último date com ele."

Para Talita, lidar com seu próprio corpo sendo gorda — e manter um relacionamento, já que ela namora, atualmente —, tem sido mais natural.

"Meu namorado também é considerado plus size; e digo que o corpo um do outro não faz diferença no relacionamento", analisa. "A única questão que eu tenho é achar roupa para mim. Eu sou o menor tamanho na loja plus size e não tem o meu tamanho nas outras lojas".

Me viu e mudou: de conversas diárias a "só querer sexo"

A estudante de Direito Fernanda* conta que, quando usava aplicativos de paquera, tinha o hábito de colocar alguns efeitos na foto, e não expunha seu corpo. Após ter dado o match com um "veterinário lindo, moreno, alto de olhos azuis", os dois passaram a conversar pelo Instagram (aliás, rede social cada vez mais usada para a paquera). Depois do contato presencial, no entanto, Fernanda conta que ele a olhou "de cima a baixo", um constrangimento que associa ao julgamento de sua forma física.

"No Instagram, ele era sempre carinhoso, dizia que estava se apaixonando, que eu era maravilhosa, que não via a hora de me conhecer. Só que, como ainda dava para ver o que as pessoas curtiam na rede, percebi que ele dava like só em fotos de mulheres de lingeries e 'com corpos de revistas'", relata.

Momentos antes do date, ela enviou a ele uma foto 'natural', sem edição e o corpo. Ao se encontrarem, conta, o pretendente analisou sua aparência o tempo inteiro. "Ele não escondeu em nenhum momento a cara de desapontado. Foi super seco o encontro inteiro e ainda por cima ficou emburrado. No dia seguinte, parecia outra pessoa...Demorava para responder e ainda deixou claro que só queria sexo. Nunca me senti tão mal comigo quanto naquele dia que ele viu minha foto.

Ficou óbvio que era porque ele estava esperando uma mulher com corpo de modelo e, ao ver que eu não era isso, passou a ser um completo babaca".

*A entrevistada pediu para que seu nome fosse trocado