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Defensora de batom e vaidade: quem é a 1ª mulher na chefia da PM do RS

Bruno Dias

Colaboração para Universa

12/01/2020 04h00

Pioneira na Brigada Militar do Rio Grande do Sul, instituição equivalente à polícia militar, onde entrou aos 21 anos, em 1986, Cristine Rasbold conta que ela e suas colegas da primeira tropa feminina foram recebidas com um pezinho atrás.

"É claro que a gente chamava a atenção. Era uma novidade: ao mesmo em que tinham pessoas nos incentivando, também tinha muita gente desconfiada: 'Como será esse trabalho? Será que vai dar certo? Será que elas vão conseguir?'", lembra a coronel, que no começo trabalhava dando apoio no trânsito e em eventos e fazendo patrulhamento em rodoviárias e aeroportos, por exemplo.

A desconfiança foi ficando para trás e, em novembro de 2019, Cristine, aos 56 anos, foi protagonista de mais um evento histórico para as mulheres. Tornou-se a primeira mulher a chegar ao alto escalão da Brigada Militar (BM), como chefe do Estado-Maior, cargo que centraliza todo o planejamento estratégico do comando da instituição no Rio Grande do Sul.

Cristine não tinha militares na família. Nascida em Curitiba e filha de pais gaúchos, era recém-formada em direito e trabalhava como funcionária pública do Ministério do Trabalho quando soube do curso para integrar a primeira tropa feminina. A brigada estava completando 150 anos à época e via na incorporação de mulheres uma forma de se modernizar.

"Sempre gostei de filme policial, filme de guerra, onde tinha forças armadas. Então, já tinha um olhar para isso tudo, uma leve preferência por esses temas", explica a coronel, que foi avisada pelo pai sobre o concurso da BM. Entre as pioneiras, apenas Cristine e mais uma colega ainda estão na ativa.

Oficiais vaidosas

Há mais de 30 anos na corporação, Cristine é testemunha das mudanças em como as mulheres são vistas nesse tipo de função.

"Para conquistar essa confiança, a gente precisava demonstrar muita seriedade. Nós passamos todos esses anos das nossas vidas com os cabelos presos, pouca maquiagem. Foi-se deixando algumas coisas ao longo dos anos", diz sobre a vaidade das oficiais mulheres e as conquistas que podem parecer pequenas para quem vê de fora.

"A gente pode ser uma excelente profissional com unhas pintadas, batom, nada disso vai ser um demérito para a profissão. A vaidade é importante para a mulher. É um pequeno detalhe, mas poder botar cor nas unhas, por exemplo, é significativo."

Cristine Rasbold ressalta que, na atividade do policial militar, é preciso ter equilíbrio emocional para atender ocorrências, lidando geralmente com pessoas fragilizadas.

E lembra como características tidas como femininas fazem a diferença nessas horas ao lembrar de um caso em especial, quando estava em serviço de madrugada e teve que atender um acidente de trânsito.

"Quando cheguei para ver o andamento, lembro que a pessoa me viu e falou: 'Graças a Deus, uma mulher'. Porque ela estava se sentindo vulnerável naquele momento", conta a coronel.

Fortalecendo as mulheres

A partir de 1997, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul unificou seu contingente, e as mulheres foram incorporadas aos batalhões com as mesmas funções dos oficiais homens.

Atualmente, existem em torno de 2.700 policiais militares mulheres na ativa na BM, 15% do efetivo total. Segundo a chefe do Estado-Maior, a presença é fruto de um trabalho diário das pioneiras, que enfrentaram desafios e provaram que poderiam atuar em todas as modalidades de policiamento.

"Foi o nosso trabalho que consolidou esse caminho. Foi um enfrentamento mesmo. Não é um trabalho fácil, mas, ao mesmo tempo, é muito gratificante poder trabalhar com a comunidade", destaca a coronel, que vem batalhando desde o início para que as oficiais mulheres sejam valorizadas dentro da corporação.

"É justamente para fortalecer as mulheres que estão no dia a dia, em todas as frentes de trabalho junto a brigada militar, que estou aqui. Só represento todas essas mulheres."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado, existem em torno de 2.700 policiais militares mulheres, e não oficiais mulheres, na ativa na Brigada Militar.