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Relacionamentos estéreis: o que são e como eliminá-los da sua vida

Entre os motivos de se manter uma amizade vazia está o medo de rejeição - Getty Images/iStockphoto
Entre os motivos de se manter uma amizade vazia está o medo de rejeição Imagem: Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

08/08/2019 04h00

Relacionamentos afetivos tóxicos e abusivos, em geral, são permeados por inveja, controle ou competição e, pouco a pouco, minam a autoconfiança e o amor-próprio das pessoas. No campo das amizades, são as relações estéreis - termo cunhado pela psicoterapeuta francesa Christel Petitcollin - que mais prejudicam a nossa vida. Como? Simplesmente não agregando nada, absolutamente nada, a ela. São relações cujas conversas giram em torno das condições atmosféricas, atrações da TV, amenidades, perguntas genéricas ou aleatórias sobre conhecidos em comum... Quando as pessoas envolvidas se encontram para um café, por exemplo, o papo não sai do plano superficial, girando apenas em torno de amenidades e de uma espécie de obrigação implícita de forçar uma conexão que, se um dia existiu, parece não existir mais. Ao final, ambas vão embora com a impressão de que sequer se encontraram.

De acordo com a psicóloga Livia Marques, do Rio de Janeiro (RJ), há insistência em manter esse tipo de relacionamento por diversos motivos, entre os quais o medo da rejeição e do julgamento alheios. "Em alguns casos, a amizade é antiga, de infância. Em outros, a motivação é fazer networking. Mas muita gente tem essas amizades por hábito, por gentileza, por achar que devem algo ao outro. Trata-se de um comportamento comum", diz Livia, que alerta que pessoas costumam adoecer por manterem essas relações estéreis. "Afinal de contas, são relações que não adicionam, nem afetivamente, nem em acolhimento, e muito menos em networking, já que o trabalho é um assunto que às vezes sequer é mencionado", completa.

Atualmente vivemos relações cada vez mais conectadas virtual e superficialmente, e menos conectadas real e profundamente. "Uma das primeiras necessidades do ser humano é conexão e aceitação. Criar laços e vivenciar a sensação de pertencimento são primordiais para o bem-estar emocional de qualquer um. Sendo assim, pessoas acabam construindo relacionamentos somente para se sentirem aceitas, amadas ou até mesmo 'populares', preenchendo o vazio interno com encontros que não agregam nada em suas vidas", opina a psicóloga Raquel Fernandes Marques, da Clínica Anime, de São Paulo (SP).

Entre os diversos prejuízos que esse tipo de relacionamento produz, o abalo na autoestima e na habilidade social se destacam. Parece ser impossível manter outro tipo de amizade. Mas dá para eliminar ou pelo menos minimizar o impacto desses relacionamentos na vida. Antes de tudo, é preciso cuidar bem da autoestima. "Quando ela está num nível saudável, você se valoriza, toma consciência de que está numa relação que não é tão construtiva e entende que não precisa se obrigar a se encontrar com quem não soma. Quando digo soma, falo de afeto, acolhimento, amizade real", declara Livia. "Lembre-se: o que não lhe acrescenta te faz perder tempo. Ou seja, a energia que você poderia estar gastando em algo útil e produtivo acaba sendo direcionada para coisas em vão", afirma a psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental Ellen Moraes Senra, do Rio de Janeiro (RJ).

Quando é difícil romper a amizade, é importante saber se afastar - ou estabelecer uma distância sadia - sem culpa, encontrando-se com a pessoa apenas nos momentos necessários. Para cultivar relacionamentos que acrescentam, busque pessoas que se importam de fato com você e que sejam capazes de trocar, discutir, ter papos bacanas e de puxar a sua orelha se for preciso, porque amigo de verdade também faz isso. "Use o seu poder de escolha para investir em relações com conteúdo. Muitas vezes precisamos saber dizer 'não'. Fazer o que é melhor para nós é um ato genuíno de amor-próprio. Assim, saber quando se afastar desse tipo de relação é tão importante quanto saber selecionar aquilo que lhe faz bem", pondera Livia.

Raquel lembra que conhecer alguém não significa intimidade. Segundo a psicóloga, intimidade é consequência de uma afinidade solta, prazerosa e natural que brota espontaneamente do convívio, de vivências partilhadas e da sintonia que se constrói a partir da relação de confiança e reciprocidade. "Portanto, é primordial identificar o que você espera de cada relação de sua vida e analisar os seus comportamentos e decisões. Quando a pessoa não se conhece bem e não sabe do que gosta, acaba falando 'sim' para todos e para tudo. Nesse caso, o problema não é o 'não' em si, mas a falta de autoconhecimento que acaba gerando uma pessoa neutra, sem personalidade e, portanto, sem palavra ativa para se livrar de relacionamentos estéreis que só sabotam seu crescimento", explica Raquel.

Para Rejane Sbrissa, psicóloga clínica de São Paulo (SP), outra medida crucial é trabalhar o receio de se expor e sair da zona de conforto criada em torno de si, já que muita gente não rompe as relações estéreis por comodismo. "Se existe esse nível superficial de interação com muitas pessoas, pode ser que o problema seja você. Aposte no autoconhecimento para perder o medo de falar de si e livre-se de crenças e inseguranças que limitam sua vida. Só assim você vai atrair relacionamentos que acrescentam", aconselha.