Andressa Urach em comissão de Direitos Humanos: não tenho curso, sou capaz
Nomeada para o cargo de assessora da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a ex-modelo Andressa Urach abandonou esta semana a faculdade de enfermagem e se matriculou num curso de gestão pública. Os novos estudos, ela garante, vão se somar "aos trabalhos voluntários que faço em presídios femininos e com mulheres vítimas de violência" e serão suficientes para abraçar o posto na assembleia.
À Universa, Andressa fala sobre essa nomeação -- por um deputado, presidente da Comissão e pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, mesma congregação da qual Andressa faz parte -- relembra o vício em cocaína, o abuso sexual que sofreu na infância e fala da "importância de dar segundas chances a criminosos". Veja a entrevista completa:
Você não tem formação, especialização ou cursos nas áreas de Direitos Humanos. Sente-se preparada para assumir o cargo?
Sim. Ele não exige formação superior e nenhum curso proporciona a vivência que são os trabalhos voluntários que fiz por quatro anos, em presídios femininos e projetos que cuidam de mulheres vítimas de violência doméstica. Nas prisões, o deputado Sergio Peres (do PRB, que a convidou para o cargo) ia pregar a palavra de Deus e eu contava a minha história como forma de inspirar as mulheres a recomeçar. Também pela igreja, e por meio de conversas e cursos, ajudava mulheres vítima de violência doméstica a lidarem com o trauma. Abandonei a faculdade de enfermagem, que comecei no ano passado, e me matriculei em um curso de gestão pública, para entender de burocracias. Minha função vai ser atender pessoas que tiveram seus direitos humanos violados e ajudá-las. Trabalharei com uma equipe que, aí sim, é especializada.
Acha que está nesse cargo porque o deputado é pastor da sua igreja?
Não, ele acredita que eu posso ajudar pessoas. Eu serei o ouvido dele aqui. Além dos presídios e dos projetos com mulheres, também fiz trabalho voluntário em uma ONG que cuida de crianças e adolescentes com síndrome de Down. Eu fiz bastante campanha para ele nas minhas redes sociais, assim como fiz para o Jair Bolsonaro. Quando o Sergio foi eleito, conversou comigo sobre a possibilidade de eu ser assessora e eu aceitei.
Com o que trabalhava antes de ser nomeada para a Comissão?
Eu trabalhei como repórter da Record até 2017. Em 2015, lancei um livro com a minha história e, quando o contrato com a TV acabou, passei a viver das vendas desse livro. Foram mais de 1,5 milhão de cópias vendidas. Voltei para o Rio Grande do Sul para ficar perto da minha mãe, decidi perdoá-la (Andressa explicará o motivo para esse perdão mais abaixo) e começar do zero.
Qual é a sua opinião sobre a ministra da Mulher, Família e de Direitos Humanos, Damares Alves?
Prefiro não opinar sobre o trabalho dela. Eu não a conheço pessoalmente, mas quero marcar uma reunião com ela. Tenho uma amiga que está mais próxima dela e vou pedir que faça essa ponte. Quero falar sobre futuros trabalhos.
O direito ao aborto é pauta de muitos ativistas de Direitos Humanos. Você é contra ou a favor que mulheres possam fazer aborto se assim quiserem?
Acho que há assuntos mais importantes para serem debatidos do que uma opção pessoal. Não gosto de assuntos polêmicos e acho que minha opinião não faz diferença na vida das pessoas.
Você vai trabalhar com Direitos Humanos, gosta de falar da "importância de dar uma segunda chance aos bandidos" e fez campanha para Bolsonaro, que, entre outras coisas, disse que 'bandidos não são pessoas normais' e defende que o policial mate 'uns 15 ou 20'. Alguma contradição nessas posições?
Eu não preciso concordar com tudo que ele diz. Acho que se você cometeu um erro, deve pagar por ele, mas não é matando que se resolve o problema. É preciso dar a essas pessoas oportunidade de emprego e cursos para que ela volte ao mercado de trabalho.
Tem algum motivo ou interesse pessoal nesse trabalho com mulheres que sofreram violência?
Sim. Sofri violência física e psicológica na infância. Minha mãe não tinha condições de me criar e meu pai me rejeitou, então ela me deu para a mãe do homem com quem ela estava se relacionando. O marido dessa mulher abusou sexualmente de mim até meus oito anos, que foi quando ela descobriu e me devolveu para a minha mãe biológica. Ela era muito nova, tinha 15 anos, e descontava em mim o peso da maternidade. Me batia muito. Depois disso, fui agredida por namorados. Então, eu sei bem o porquê de uma mulher não denunciar.
Você teve outras passagens difíceis na vida. Poderia falar sobre elas?
Sim. Eu era viciada em cocaína, vivia na prostituição de luxo, era agressiva, tinha depressão, síndrome do pânico e, antes da infecção (que teve nas pernas depois que aplicou um químico nas coxas para aumentá-las), estava me envolvendo com criminosos e chefes de facção. Pensava, constantemente, em suicídio. Foi muito difícil me recuperar. Tive a oportunidade de fazer novas escolhas e acho que todo mundo deve ter.
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