Entrei no grupo "Mulheres com Bolsonaro" e fui expulsa em dois minutos
Desde que o grupo de mulheres contra o candidato Jair Bolsonaro foi criado no Facebook, a Universa tem produzido reportagens relatando os diversos movimentos femininos nas redes. Na manhã desta terça-feira (18), pedi para fazer parte do movimento a favor do candidato do PSL, o "Mulheres com Bolsonaro #17 (Oficial)" para fazer uma matéria com as eleitoras do candidato. Fui aprovada, mas expulsa em dois minutos.
Para entrar no grupo, precisei responder a algumas questões feitas pelos moderadores. A primeira delas era quem é meu candidato à presidência; a segunda, minha ideologia política e o que eu achava sobre feminismo. Fui sincera. Disse que sou repórter do UOL e que queria entrevistar algumas meninas que declaram apoio ao candidato e fazem parte do grupo. Deu certo.
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Mas minha apuração durou dois minutos. Fiz o mesmo pedido em um post. Muitas mulheres responderam à minha mensagem dizendo que topavam falar comigo. Contudo, entre 20 comentários, algumas alertaram as companheiras sobre a possibilidade de eu ser uma “cilada”. Na hora, fui expulsa.
O grupo Mulheres Com Bolsonaro #17 (Oficial) não aparece mais na minha busca (fui banida mesmo). Nele, há 773 mil pessoas (e mais cerca de 700 mil pessoas que foram convidadas mas ainda não aceitaram o convite). A página que reúne mulheres contra o candidato tem 1,4 milhão de mulheres (e mais 1,1 milhão de convidadas que ainda não aceitaram o convite).
Segurança, aborto, decepção com o PT e nada de sexo!
Apesar de ficar pouco tempo entre as eleitoras do Bolsonaro, consegui conversar com três delas. A administradora Fabricia Lima, de 33 anos, não entende porque fui retirada do grupo. "Acho que devem tê-la confundido com um perfil falso e excluído de forma equivocada".
Preocupada com a violência, afirma ter se decepcionado com o PT. "Acredito em todas as propostas de Bolsonaro contra a violência e nunca mais voto no PT", afirma. Moradora da Baixada Fluminense, para ela, viver no Rio de Janeiro está difícil. "Impossível subir o morro com uma bandeira branca na mão, tem que intervir".
Só que ela acha que tem que intervir "direito". "A intervenção não melhorou em nada a violência no Rio porque o governo não dá apoio", explica. "Bolsonaro propõe uma união entre Exército, Polícia Federal, Marinha e PM para o combate ao crime", ela diz. Questionada sobre o porquê de a proposta em questão não constar no plano de governo do candidato, Fabricia diz que o ouviu dizer isso em entrevista concedida a algum veículo, mas não soube precisar qual.
A administradora é contra a descriminalização do aborto "não pelo ato de abortar em si, mas porque a mulher brasileira não foi educada para viver em um país onde o aborto é liberado". "Se a maioria nem usa preservativos, imagina se o aborto for legal? Vão sair transando e abortando".
Mãe de dois filhos, garante que deve ser a única responsável por falar sobre sexo com as crianças, não a escola. "Não sou contra gay, cada um faz o que quiser. Agora, educação sexual é meu papel de mãe".
Machismo?
Bolsonaro disse, em entrevista, que não remuneraria homens e mulheres da mesma maneira, já que elas engravidam. Mas Fabricia não se importa. "Se um dia isso acontecer comigo, vou ao Ministério Público reclamar". Já a resposta do presidenciável à deputada Maria do Rosário, em que ele disse que não a estupraria porque ela não merece, agrada a eleitora. "Ela estava defendendo estuprador, eu faria o mesmo", afirma.
A ocasião também não preocupa a secretária Denise Oliveri, de 22 anos. "Não acho que foram declarações machistas. Aceitaria, sim, receber menos que homem", diz. Para ela, Bolsonaro é o único candidato que apresenta propostas realistas para a economia. "Ele tem o Paulo Guedes e é a favor de menos direitos trabalhistas". Denise também é, se for para "favorecer o pleno emprego". Quanto ao Paulo Guedes (provável ministro da economia do candidato), ela não o conhecia, mas acredita ser um bom nome já que promete "privatizar a torto e a direito".
Preocupada com a violência, a jovem considera as propostas de castração química para estupradores e redução da maioridade penal medidas urgentes. "Só não concordo totalmente com o porte de armas, mas ainda acho melhor do que não ter como me defender". Ela sabe, é claro, que tais medidas dependem do congresso, não do presidente.
Voto "no chute"
Cansada de ser assaltada, a estudante de matemática de Curitiba Dayane Batista, de 25 anos, vai votar "no chute". "Não sei se o Bolsonaro é bom, espero que seja", diz. "Quero que o Brasil seja seguro como são os Estados Unidos. Minha prima mora lá e diz que é maravilhoso".
A paranaense garante que já foi eclética. “Votei no PT, ia votar naquele que faleceu no acidente de avião. Nunca mais voto no PT, agora vou tentar o Bolsonaro. Não sou a favor da violência, nem vou sair matando os outros, mas acho que o Brasil precisa fazer leis que promovam o medo”. E sem apego. “Mas, se ele não fizer nada direito, não voto nunca mais”.
Segundo a jovem, seu candidato, às vezes, fala muita besteira. “Não gosto disso de pagar salários diferentes para homens e mulheres. Ontem, mesmo fiz uma entrevista e uma mulher perguntou se eu pretendia ter mais filhos. Uma mulher! Achei um absurdo. Nós, que somos, muitas vezes, provedoras do lar, criamos filhos e netos sozinhas”, revela.
Dayane diz que não soube da declaração do vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, em evento do Sindicato da Habitação (Secovi), que famílias sem pais e avôs são fábricas de desajustados. “O que? Ele disse isso? Ele é louco, é? Um filho vive sem pai, mas não vive sem mãe”.
Ainda assim, prefere o machismo à insegurança. “Não achei bacana o que ele disse para a deputada [Maria do Rosário]. Eu não tenho outra opção".
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