"Coloquei fogo no corpo para me matar, mas meu filho me salvou"
Em dezembro de 2017, a manicure Maiara Mendes, 28, tomou uma atitude que deixaria marcas definitivas na sua vida: ateou fogo no corpo após uma discussão com o ex-marido. Nesse depoimento, ela compartilha sua dor, conta como superou a tragédia e resgatou a sua autoestima:
“Fui casada por quatro anos. No início, meu casamento era bom, mas, com o passar do tempo, meu ex-marido começou a se envolver com drogas, bebidas, passava dias fora de casa e isso causava muitas brigas entre a gente. Eu trabalhava como manicure, criava meus três filhos –de outro relacionamento–, cuidava da casa, da comida, pagava todas as contas e não tinha o apoio dele. Ele só se importava com os vícios dele. Eu estava sobrecarregada, tinha depressão e não aguentava mais aquela situação.
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No dia 8 de dezembro de 2017, trabalhei no salão e cheguei em casa por volta de 18h. Meu ex-marido não estava lá. Liguei para ele várias vezes, mas ele não atendeu. Saí pelo bairro para ver se o encontrava. Ele estava no bar e discutimos. Voltei transtornada e decidida a acabar com os meus problemas. Só tinha um pensamento: tirar a minha vida.
Eu ardia em chamas: tive 70% do corpo queimado
Ao chegar em casa, achei um recipiente de álcool de cinco litros, uma reserva que ele guardava para o carro. Tive um surto. Fui para o quintal, joguei álcool e ateei fogo no meu próprio corpo. Meu filho mais velho e meus cunhados ouviram meus gritos e me socorreram. Eu ardia em chamas. Eles jogaram água e usaram uma blusa para apagar o fogo. Eles chamaram o SAMU e eu fui levada a um em hospital em Anápolis, em Goiás.
Meu estado era grave e os médicos não sabiam se eu sobreviveria. Tive queimaduras de 1º e 2º graus em 70% do corpo. Queimei as pernas, braços, seios, barriga, costas e parte do rosto. Fiquei um mês internada na UTI e fiz várias raspagens.
Meu ex foi embora de casa quando recebi alta, e minha mãe veio do Pará para ficar comigo. Minha recuperação foi difícil. Sentia muita dor e coceira. Durante um mês, eu ia ao hospital um dia sim e um dia não para os enfermeiros trocarem os curativos. Eles tiravam as faixas do meu corpo, me davam banho com água gelada, faziam limpeza, passavam pomada e me enfaixavam novamente. Iniciei um tratamento com psicólogo, psiquiatra e fisioterapeuta.
Antes da tragédia, eu era uma mulher vaidosa, tinha o cabelo comprido, minha pele era bonita. Ao olhar para o espelho e ver o meu corpo cheio de queimaduras e minha cabeça raspada, eu não me reconhecia. Eu via outra pessoa, não era eu. Eu não saía de casa e não recebia visitas.
Viver pelos meus filhos foi o que meu deu forças para me reerguer
Um dia, o meu filho mais velho pegou na minha mão e disse: ‘Mamãe, nós somos fortes, nós vamos sair dessa juntos’. Naquele momento, eu vi que tinha que viver por eles e tive forças para me reerguer.
A Tatiane Felix, presidente do Sobreviva (Centro de Acolhimento aos Sobreviventes de Queimaduras e Feridos), soube do meu caso e me ofereceu apoio. Ela elevava a minha autoestima e me incentivava a usar lenços, a me maquiar, a fazer minha unha. Comecei a participar das reuniões na ONG, onde pude colocar para fora as minhas emoções e conversar com outras vítimas de queimaduras.
Fizemos um ensaio fotográfico e eu pude enxergar a minha beleza além das cicatrizes. Nos dias em que acordo me sentindo feia, me encaro no espelho e digo que sou linda e que vou melhorar cada vez mais.
Eu achava que, devido à minha condição, nenhum homem se interessaria mais por mim, mas, há cinco meses, comecei a namorar o Paulo Henrique. Nos conhecíamos de vista. Ele perguntou como estava a minha recuperação e nos aproximamos. Eu ficava acanhada de mostrar o meu corpo; ele também tinha receio de me tocar com medo de me machucar, mas, com amor e companheirismo, conseguimos superamos as adversidades.
Não sinto mais vergonha das minhas cicatrizes
Eu me arrependo do que fiz. Olhando para trás, vejo que poderia ter me divorciado, buscado ajuda médica, da minha família e dos meus amigos. Infelizmente, não tenho como mudar o que aconteceu, mas tenho a oportunidade de recomeçar e de ser feliz, independentemente das dificuldades.
Hoje, tenho uma vida normal, faço os meus tratamentos, voltei a trabalhar, estou mais próxima dos meus filhos, vou à igreja e cuido da minha casa. Não sinto mais vergonha das minhas cicatrizes e tenho amor-próprio. Olhar para as minhas queimaduras me faz lembrar que Deus me deu mais uma chance de viver”.
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