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"Meu marido vendeu fotos minhas para sites pornô. Me refiz criando uma ONG"

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Rose Leonel

Em depoimento à Giorgia Cavicchioli - Colaboração para Universa

20/07/2018 04h00

A jornalista paranaense Rose Leonel teve fotos íntimas vendidas pelo então marido, depois que ameaçou se separar dele. O homem, que já foi condenado pela justiça a indenizá-la, mas que recorre da decisão, foi além; segundo Rose, ele se passou por ela e, por meio de e-mails enviados para amigos e contatos profissionais, fez parecer que ela se oferecia como prostituta. Rose enfrentou sérios problemas profissionais, psicológicos e também com os filhos. Hoje, ela tem uma ONG que ajuda mulheres na mesma situação.

"Depois de ver meu então marido jogando um iogurte em um dos meus dois filhos, decidi colocar fim ao nosso relacionamento de quatro anos. Foi nesse período que tive um choque: ele estava negociando com um especialista em tecnologia a divulgação de fotos íntimas minhas na internet.

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Tínhamos as senhas um do outro, e comecei a olhar o e-mail dele uma noite, antes de dormir. Foi quando descobri a negociação. Eles haviam combinado R$ 1.000. Procurei um advogado, que me disse que aquela situação não configurava um crime, mas que meu marido poderia ter de assinar uma notificação policial. Ela atestaria que ele seria o responsável por qualquer exposição de informações minhas.

Nós nos separamos e ele foi notificado. Depois disso, ele se transformou em um lobo voraz. Passou a ligar insistentemente para mim, fazendo ameaças. Dizia que não tinha medo de nada, que iria me expor, me destruir, acabar com a minha vida. Ele me deu duas opções: ou ficar comigo ou ter a minha vida destruída. Eu não aceitei voltar apesar da ameaça, pois achava indecente e degradante.

Ele então planejou a vingança: pagou sites de pornografia para divulgação das nossas fotos íntimas, enviou fotos em e-mails pessoais e profissionais meus, como se fosse eu enviando. Fui oferecida como prostituta pelo homem que um dia amei. Eu não tinha ideia de que seria um crime dessa dimensão. Há 12 anos, isso era novo para mim. Sou de Maringá, uma cidade do interior.

Ele ainda me colocou à venda em um site de compra. Fez montagens com a minha imagem e elas rodaram pelo Brasil e por outros países como Holanda, Portugal, Estados Unidos, Espanha e Alemanha. As fotos foram compartilhadas com mais de 15 mil pessoas. Ele distribuiu material impresso e CDs nas ruas da minha cidade.

Foram cinco anos de abuso. Ele só parou, quando foi condenado criminalmente a me pagar R$ 1.200 por mês, por um ano e 11 meses. Na Justiça Civil, a condenação foi de R$ 30 mil. Ainda não recebi nada. É público e notório que ele é dono de umas três lojas de produtos importados e mora em um condomínio de luxo. No entanto, ele tirou tudo de seu nome.

Perdi o emprego, meus filhos sofreram bullying e um deles precisou morar no exterior. Eles tiveram a infância roubada. De mim, foi roubado o direito de mãe, de andar com meus filhos pela rua. Por onde eu passava, era vaiada na cidade. Quase fui linchada. Fui torturada por mais de cinco anos. 

Entrei em depressão e só consegui encontrar forças para me reerguer ajudando outras mulheres que sofreram com crimes parecidos. Em 2013, criei a ONG Marias da Internet (mariasdainternet.org.br). Damos orientação jurídica, de perícia digital e apoio psicológico para mulheres de dentro e fora do Brasil. E estou escrevendo um livro. 

Ainda hoje, luto para que a punição para quem pratica esse tipo de crime seja maior. Propus o Projeto de Lei 5.555/2013, que pede pena de reclusão de dois a quatro anos mais multa para quem fizer atos semelhantes a esses. Ele já passou no Senado, com a nomenclatura 18/2017, voltou para a Câmara para ser revisado, e agora está em regime de urgência aguardando deliberação do plenário para seguir para sanção presidencial".