Caso de Ben Affleck prova que alcoolismo não tem cara
Em sua página no Facebook, nesta terça-feira (14), Ben Affleck assumiu que completou recentemente um tratamento contra o alcoolismo. Quando uma figura bem-sucedida como o ator americano assume sofrer da dependência da substância, quebra-se o estereótipo de que alcoólatra é só aquele sujeito que vive escorado em um balcão de bar.
“Uma pessoa que beba todo dia, mesmo que na manhã seguinte saia para trabalhar, pode ser considerada dependente química”, afirma o psiquiatra Leonard Verea, formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia de Milão, na Itália. Não conseguir ficar sem beber, independentemente da quantidade, já caracteriza dependência.
Perda do controle
Como o alcoolismo é uma doença progressiva, a perda do controle sobre a relação com o álcool é o próximo passo para a instalação do problema.
“É uma questão de tempo para que a pessoa que bebe todo dia perca o controle sobre o quanto ingere de álcool. E aí começam os prejuízos para o trabalho, a vida conjugal e/ou familiar”, diz o também psiquiatra Sabino Ferreira de Farias Neto, formado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e fundador da Clínica Maxwell de Tratamento para Dependência Química, em Atibaia, no interior de São Paulo.
Aceitação do álcool dificuta
Para Verea e Farias Neto, o fato de a bebida ser aceita socialmente dificulta tanto para o dependente quanto para quem está ao redor dele enxergar que o consumo de álcool se tornou um problema.
“Tenho um paciente que disse ter vindo se tratar porque não aceita o fato de a mulher ter pedido a separação. Ele bebe todos os dias e se vangloria de não ter papas na língua, de falar o que pensa. O que ele não se dá conta é que a dependência do álcool é o que o faz perder o filtro sobre o que pode ou não ser dito. Ao longo do tratamento, ele deve perceber como a bebida afeta a vida dele”, conta Leonard Verea.
Alcoólatra de fim de semana
A psicóloga Miriam Barros, especialista em terapia familiar, aponta outro tipo de bebedor que merece atenção. “Tem o alcoólatra de fim de semana, aquele que começa a beber na sexta-feira à noite e só volta a ficar sóbrio na segunda. Esse é o começo, mas a tendência é que não pare por aí. O alcoolismo é uma doença que demora a aparecer.”
De acordo com dados do Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) --organização da sociedade civil de interesse público--, a dependência física, com suas consequências devastadoras para a saúde, aparece geralmente após quatro a seis anos de consumo regular para o adolescente e depois de seis a oito anos para o adulto. Ainda segundo a entidade, o uso nocivo de álcool contribui para o desenvolvimento de mais de 200 doenças, incluindo alguns tipos de câncer.
Encarando o problema
Segundo Miriam, enquanto o doente não assume que precisa tratar a dependência, um caminho é a família procurar ajuda. “Há grupos de apoio aos familiares de alcoólatras, como o Al-Anon e o Coda [Codependentes Anônimos], e é bom que os parentes se tratem também. Muitas vezes, os familiares têm comportamento facilitador, sem se dar conta. São excessivamente tolerantes com a pessoa que bebe ou abastecem a casa com bebida, achando melhor que o indivíduo não beba na rua.”
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