Saiba quais podem ser os culpados pela dor de cabeça infantil
Minha paciente estava perdendo muitas aulas na escola por causa das dores de cabeça. O exame físico se mostrou completamente normal e os sintomas pareciam enxaqueca –ela relatava uma sensação latejante nos dois lados da cabeça, sentia-se mais à vontade quando o quarto estava às escuras e muito melhor ao tomar ibuprofeno.
Pedi que criasse um "diário da dor de cabeça", anotando quando aconteciam as crises, quanto tempo duravam, o que as faziam melhorar ou piorar. Em vez disso, naquela noite, ela e a mãe terminaram no pronto-socorro, onde realizaram uma tomografia computadorizada da cabeça.
O exame deu normal, o diagnóstico foi enxaqueca; mãe e filha se sentiram melhores. Elas temiam que a garota pudesse ter um tumor cerebral.
Dores de cabeça são comuns em crianças, interferindo na escola, nas atividades, na vida em geral. Muitas crianças têm enxaquecas, até mesmo as jovens demais para descrever os sintomas. Às vezes, elas batem nas cabeças em reação a dor. Outras crianças têm dores de cabeça do "tipo tensional", às vezes, ligada à rigidez muscular ou ao estresse.
As dores de cabeça na infância podem estar relacionadas a enfermidades, desde alergias, passando por infecções no ouvido e chegando a sinusites. Na maior parte das vezes, não indicam uma doença perigosa. Porém, para muitos pais, a sombra de um diagnóstico terrível espreita no canto do quarto às escuras, onde uma criança com dor de cabeça está deitada com um pano molhado sobre a testa.
Às vezes, as crianças com dores de cabeça necessitam de neuroimagem –tomografias e ressonâncias do cérebro. Porém, vários estudos recentes e abrangentes levantaram dúvidas sobre tomografias realizadas em pacientes mirins. Segundo eles, a radiação do exame pode aumentar a chance de desenvolvimento de câncer, embora o risco geral ainda continue sendo muito pequeno.
Estipulou-se que os médicos sigam diretrizes criteriosas no uso desses exames, mas muitos pais ainda desconhecem os riscos e as diretrizes. Estudo publicado neste mês na "Pediatrics" examinou um grupo enorme de crianças que passaram por, pelos menos, duas consultas médicas em função de dores de cabeça, sem apresentar traumas ou lesões. Segundo os pesquisadores, mais de 25% delas fizeram tomografia.
Crianças que passaram no pronto-socorro tinham maior probabilidade de fazer tomografia do que as que se consultavam com o pediatra ou clínicas de neurologia. "Contudo, mesmo fora do pronto-socorro, o uso de tomografias era bastante elevado", disse Andrea DeVries, diretora de pesquisa do HealthCore, subsidiária da seguradora WellPoint, e principal autora do novo estudo. Ela observou que quase dois terços das crianças que fizeram tomografias não passaram pelo pronto-socorro.
Quem realmente precisa de neuroimagem? Os médicos se preocupam com uma dor de cabeça severa que piora, com quaisquer anormalidades no exame físico ou mudanças sugerindo uma patologia no cérebro. Tais mudanças podem variar de distúrbios no andar, movimentos dos olhos, confusão e letargia. Embora náusea e vômitos costumem acompanhar a enxaqueca, vômitos também podem indicar um aumento de pressão no cérebro. Pode ser um sinal de perigo em uma criança que teve concussão recente.
Sintomas do gênero logo levam a dor de cabeça ao reino de uma emergência neurológica. Dores de cabeça que acordem a criança ou ocorram somente de um lado também podem ser motivo de preocupação.
"Para crianças cujas dores de cabeça não se encaixam em um padrão claro de enxaqueca, o exame de vista é uma etapa importante do diagnóstico”, disse Andrew Lee, médico neuro-ofaltmologista do Methodist Hospital, em Houston. O exame também é crítico caso os pais tenham percebido olhos se cruzando.
Em situações sérias, o exame ocular pode revelar sinais de pressão elevada no cérebro. Em um nível mais trivial, o exame pode constatar que a dor de cabeça da criança é causada por vista cansada.
"Os pais talvez não notem até a idade de leitura, na terceira ou quarta série", disse Lee. As dores de cabeça que surgirem nessa época, e que são pioradas pela lição de casa ou leitura, podem ser tratadas com óculos para corrigir a visão deficiente e exercícios para fortalecer os movimentos dos olhos.
E ainda temos a concussão. Segundo estudo, realizado em 2012, que examinou crianças com trauma na cabeça, três meses após as lesões, muitas relataram dores de cabeça. Na maior parte das vezes, elas melhoram, mas algumas terão cefaleias durante meses, e uma parcela muito pequena pode ser acompanhada por ela por mais de um ano.
Heidi Blume, neurologista pediátrica do Hospital Seattle Children's e principal autora do estudo, citou a tática "Smart" para ajudar as crianças a lidarem com as dores de cabeça recorrentes. "S" é de sono, o qual deve ser o suficiente. "M" é para não pular refeições e beber líquido para se manter adequadamente hidratado. "A" é de atividade física, pois seu excesso ou falta pode levar a dores de cabeça. "R" é de relaxamento. "T" representa os gatilhos a serem evitados, como fumaça de cigarro ou determinados tipos de comida.
As crianças podem tomar analgésicos (paracetamol e ibuprofeno, entre outros), mas não devem usar aspirina. Quem tem enxaqueca também pode ser beneficiado com remédios preventivos. As dores de cabeça podem ser desencadeadas pelo estresse, e viver com dor crônica pode provocar depressão. Um objetivo das clínicas de dor de cabeça é fazer as crianças voltarem à escola e ajudá-las a dar conta de suas atividades regulares, evitando os gatilhos da dor.
"Muitas crianças vão superar as dores de cabeça", disse Daniel Bonthius, professor de pediatria e neurologia da Universidade de Iowa. "A medicina moderna ainda não compreende por que acontece a dor de cabeça e por que ela desaparece."
* Perri Klass é médica pediatra.
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