Casa "verde" no Vietnã tem fachadas repletas de plantas e resgata influência construtiva histórica
Ho Chi Minh – Em 2008, Hoang Thi Thu Ha resolveu deixar Toronto, mesmo tendo acabado de conhecer seu então futuro marido, Jung-Chin Shen. Seu pai falecera dois anos antes e ela sentiu que precisava voltar para a cidade de Ho Chi Minh para viver com sua mãe.
Porém, a casa da família, estreita e mal iluminada - um design residencial comum no Vietnã - era desconfortável. Janelas abertas deixavam entrar muita poeira e, ao fechá-las, a casa ficava abafada.
Arquitetos locais contam que o design tubular e delgado foi o que inspirou a popular expressão vietnamita “nha ong”, ou “casa-tubo”, há mais de dois séculos. As primeiras versões possuíam pátios internos e feixes de luz natural, mas como as cidades do país foram ficando cada vez mais populosas, as casas se tornaram menores e seus interiores mais escuros.
Desejo de mãe
A mãe de Ha - de 70 anos - Tong Thi Thuoc, ansiava pela “casa-tubo” na qual vivera quando criança em uma vila nos arredores de Hanoi: uma estrutura espaçosa e arejada onde sua grande família socializava ao redor de uma cozinha externa e de um lago no quintal.
Ha e Shen, que nasceu em Taipei, sonhavam com uma vida de casados em um oásis urbano refrescado pelas brisas naturais e repleto de plantas nativas.
A "Casa Verde Empilhada", em Ho Chi Minh, é uma versão das tradicionais casa-tubo do Vietnã. O projeto é do arquiteto vietnamita Vo Trong Nghia
Então Ha, agora com 32 anos, começou a conversar com Vo Trong Nghia, um arquiteto vietnamita celebrado que aprimorou sua estética minimalista no Japão e que compartilhava do apreço de Ha pelo design sustentável.
Em 2010, Ha e Shen contrataram o projeto que Nghia chama de “Casa Verde Empilhada”: uma “casa-tubo” com quatro andares e cerca de 220 m².
“Em Hanoi e em Ho Chi Minh, você se sente péssimo por causa do trânsito e do clima”, disse Nghia, de 35 anos. “Eu quis reduzir aquela pressão e oferecer verde para estas cidades.”
O padrão construtivo
O arquiteto construiu a casa em um período de oito meses pelo equivalente a US$150 mil. O novo prédio situa-se entre dois terrenos vazios de uma área residencial perto de uma estrada movimentada, num bairro a leste da cidade.
Placas de concreto branco compõem as fachadas frontal e de fundos. Tais estruturas estão posicionadas para desviar a luz do sol direta, enquanto ainda possibilitam que a brisa natural flua para o interior e alimente as samambaias e flores nativas que estão plantadas ao longo da parte superior das placas.
No piso térreo, a entrada principal exibe uma escada que leva aos pavimentos superiores e a entrada do estreito quarto de Thuoc, que dá para um pequeno pátio.
Os três andares acima do chão contam com uma área de estar e cozinha, um quarto principal e, no topo da casa, o quarto dedicado ao filho do casal e um jardim suspenso. Por sua vez, uma abertura central protegida por uma claraboia leva luz para a casa – e permite que, do quarto principal, seja possível olhar para baixo e ver a cozinha ou para cima e, se as condições permitirem, espiar a lua.
Entre a memória afetiva e a contemporaneidade
A casa pode parecer descolada – suas formas peculiares fazem lembrar uma instalação de arte contemporânea – mas os ambientes interligados recordam a Thuoc sua espaçosa casa de infância.
“Eu sou tradicional e minha filha é moderna, mas isso não é um problema,” diz a senhora de 70 anos. “O verde é nosso interesse comum”, conclui.
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O arquiteto Nghia - que utilizou bambu como o principal elemento de design no pavilhão do Vietnã na World Expo de Xangai, em 2010 - disse que pretendia recapturar o espírito da casa-tubo tradicional com a “Casa Verde Empilhada”, mas de modo que a construção fizesse sentido em um estilo de vida moderno e ecologicamente consciente.
Mas alcançar tal objetivo em uma projeto de 4 x 20 m exigiu alguma criatividade – como revestir as paredes internas com delgadas pedras cinzas e instalar janelas de vidro do chão ao teto, próximas às paredes exteriores cobertas por plantas, para fazer com que os ambientes estreitos parecessem mais largos.
O arquiteto posicionou a cozinha no primeiro andar para economizar espaço no térreo, onde fica o pátio externo e onde a família planeja plantar uma grande árvore. Ha, que trabalha para uma sucursal do Petrovietnam - a empresa de petróleo e gás do país, conta que está considerando como candidata arbórea um espécime que vale o equivalente a US$ 2 mil.
A estética elegantemente esparsa da casa lembra o trabalho de um arquiteto que inspirou Nghia: Tadao Ando, o designer japonês cujos prédios modernistas celebram a luz natural e que tem como referência a arquitetura tradicional de seu país. Quanto ao nome - que Nghia disse ter criado ao buscar uma tradução num dicionário vietnamita-inglês -, a “Casa Verde Empilhada” sugere, corretamente, a união da eficiência industrial com a sensibilidade ambiental.
Mais casas verdes
A casa não é certificada segundo o código verde de construção do Vietnã, adotado no ano passado, mas fica claro que Nghia tem um olho agudo para o design ambientalmente inteligente, segundo Melissa Merryweather, diretora geral da Green Consulting Asia, uma empresa de consultoria de arquitetura em Ho Chi Minh. Estar ali dentro é como “estar em um ninho na selva”, avalia.
O banheiro da suíte da casa vietnamita possui entrada de luz central, além de uma banheira
Nghia espera construir mais residências como a “Casa Verde Empilhada”. Nove unidades já estão em construção em Hanoi e Ho Chi Minh, todas custando menos de US$200 mil. Um bom argumento de vendas é que, apesar do clima quente e abafado do país, a família gasta somente US$ 25 por mês em eletricidade e raramente usa o único ar condicionado da casa. Em uma recente tarde de primavera, só um ventilador de chão funcionava na cozinha enquanto Thuoc salteava um repolho.
Ha diz que seria bacana se as ruas da cidade estivessem cheias de casas empilhadas e cheias de verde, porém acha que os projetos de Nghia misturam luxo e simplicidade de um modo que muitos vietnamitas ricos e de classe média ainda não compreendem ou apreciam.
Alguns vizinhos perguntam para Ha se aguar as plantas toma muito de seu tempo, enquanto outros dizem que a casa parece fechada demais. Ha diz que tem prazer com seus afazeres diários com as plantas e que a casa possibilita mais interação entre a família do que qualquer outra de suas moradias anteriores.
Por exemplo, em fevereiro nasceu Darren, o primeiro filho do casal. Agora, enquanto amamenta no quarto principal, Ha pode conversar com sua mãe na cozinha que fica logo abaixo, através da entrada de luz natural.
Quando Darren tiver seu próprio quarto no quarto andar, ele vai dormir perto dos fundos cheios de plantas e do telhado com o jardim gramado. Ha e seu marido Shen, de 42 anos, professor de administração estratégica e de estudos de negócios internacionais - que agora divide seu tempo entre Ho Chi Minh e Toronto - disse que eles esperam que a ambiência ecológica vá ajudar o garoto a desenvolver uma forte consciência ambiental.
“Minha mãe nasceu amando a natureza”, diz Ha, ao olhar o futuro quarto de Darren. Pequenas borboletas amarelas passeavam perto da janela e o cheiro do jasmim que vinha do jardim invadia a casa. “Ideias verdes são transferidas de geração para geração”, complementa.
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