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Cuidados paliativos garantem qualidade de vida e não simples "consolo"

Colaboração para o UOL

14/07/2010 00h01

Não é possível cuidar de um doente em estado terminal sem que haja acompanhamento médico. E, para isso, há formas de tratamentos, como a medicina paliativa. A psicóloga e fundadora da Associação Brasileira de Cuidados Paliativos (ABCP) Ana Georgia Cavalcanti de Melo explica que essa área engloba aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais integrais e contínuos aos pacientes com doenças crônico-evolutivas. Os objetivos são o controle da dor, o alívio de sintomas e a melhora da qualidade de vida.

Em 2010, o pedido para que a medicina paliativa se transforme numa área de atuação (um subespecialidade de clínicos, geriatras, cancerologistas, pediatras e médicos de família) foi acatado, mas é aguardado o parecer da comissão mista de especialidade que analisa a proposta.

Antigamente, muitas pessoas entendiam que os cuidados paliativos só eram aplicáveis no final da vida como uma forma de “consolo” aos pacientes terminais, no entanto, segundo Ana Georgia, há muito que se fazer. “Frente a um diagnóstico de uma doença que irá progredir, intervenções como tratamentos diversos e cirurgias devem ser aplicados, se não há esperança de cura, com o foco na manutenção da qualidade de vida e na prevenção e alívio dos sintomas. Se as intervenções médicas, psicológicas, sociais e de toda a equipe forem cada vez mais precoces, mais alívio trarão para o paciente e para os familiares. É uma forma mais digna e humana de cuidar”, salienta.

Alma e corpo conscientes

Um mito desmentido por Maria Goretti Sales Maciel, médica de medicina de família e comunidade, diretora científica e sócio-fundadora da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), é de que se pode cuidar paliativamente apenas com certa orientação profissional. “Não existe cuidados paliativos sem o assessoramento de uma equipe multidisciplinar e preparada. É um tratamento complexo”, garante.

O paliativista cuida de pacientes que sofrem de doenças graves com perspectiva de morte, mesmo com possibilidade de cura. E tais patologias promovem grandes modificações na vida das pessoas. No caso do câncer, o primeiro efeito é em relação ao trabalho, mas com o tempo, as complicações se multiplicam e os tratamentos perdem eficácia, aumentando a fragilidade do doente em todos os aspectos.

Assim, os cuidados paliativos, segundo Ana Geórgia, devem ser oferecidos desde o início do diagnóstico, durante os tratamentos, até o final da vida e no luto. “Os cuidados paliativos são um direito do ser humano, em qualquer condição, religião, idade, não é um privilégio, é uma opção terapêutica. Muitos tratamentos são paliativos e nem por isso deixam de ser eficientes, apenas não são curativos. São integrais, porque devem abranger todas as necessidades e são contínuos, porque devem ser oferecidos durante todo o percurso da doença”, afirma.

Alguns alvos dos cuidados são os desconfortos físicos como náusea, vômito e barreiras de comunicação efetiva em doenças neurológicas, sempre com ênfase no alívio e, se possível, na prevenção. Da mesma forma, as outras frentes do tratamento não são menos eficazes, já que garantem bem-estar psicológico e até espiritual, diminuindo a percepção da dependência, e combatendo o sofrimento intolerável. Algo muito longe do caráter fútil que já foi atrelado erroneamente aos paliativos. (Daiana Dalfito)