Projeto urbanístico vencedor para o Rio 2016 aposta no legado dos jogos
Deixar como herança aos cariocas a estrutura das Olimpíadas de 2016 integrada à cidade é a principal marca do plano urbanístico vencedor do Projeto Olímpico do Rio de Janeiro, anunciado nesta sexta-feira.
Em entrevista à BBC Brasil, o urbanista australiano Adam Williams e arquiteto britânico Bill Hanley disseram que o projeto do Rio reproduz alguns conceitos presentes no 'masterplan' de Londres, também assinado por eles.
Para evitar desperdício, o plano apresentado pelo escritório londrino da Aecom, uma multinacional americana, prevê estruturas provisórias para evitar subaproveitamento no futuro.
"Para alguns, o projeto talvez não pareça espetacular à primeira vista. Mas nós quisemos ser pragmáticos, fazendo algo que se adeque às necessidades da cidade e funcione em seu contexto, sem recorrer a grandes gestos arquitetônicos", disse Williams.
O projeto traça os planos de urbanização de uma área de mais de 1.000 km² na região do Autódromo de Jacarepaguá, um terreno triangular com dois lados voltados para uma lagoa, na zona oeste do Rio.
Durante os jogos, o Parque Olímpico vai abrigar disputas de 15 modalidades esportivas, como basquete, judô e saltos ornamentais (os projetos de cada instalação esportiva não fazem parte plano urbanístico e serão escolhidos em novo concurso).
As diretrizes para o plano urbanístico estabelecem que, após os jogos, parte da área deve se transformar em um bairro, enquanto outra – com estruturas olímpicas permanentes – daria lugar ao Centro Olímpico de Treinamento (COT).
A recomendação era que pelo menos 60% da área desse lugar a empreendimentos futuros (residenciais ou comerciais), ficando o restante (cerca de 40%) para o COT.
"Nós desafiamos esse número e propusemos que apenas 25% continue sendo o Centro Olímpico. Achamos que 40% era grande demais, um espaço que seria custoso manter, e vimos que a área menor pode satisfazer as exigências da cidade e do comitê olímpico", argumenta Williams.
De acordo com o urbanista, o principal aprendizado com a Olimpíada de Londres foi conceber espaços eficientes para abrigar os jogos, mas sem gerar estruturas que vão ser subutilizadas e custar caro para manter no futuro.
Concurso
Promovido pela prefeitura e pelo Instituto de Arquitetos Brasileiros (IAB), o concurso internacional contou com 60 trabalhos apresentados por escritórios de 18 países.
Os projetos eram identificados por números, para que o júri avaliasse as propostas sem conhecer seus autores. Outros finalistas também eram estrangeiros: em segundo lugar, ficou um projeto dos Estados Unidos, e em terceiro, um de Portugal.
Presidente do IAB, Sérgio Magalhães ressalta dois parâmetros fundamentais estabelecidos para os concorrentes: eles deveriam levar em consideração "o tempo olímpico"; e "o tempo da cidade como um todo".
"Tinha que ser um projeto excepcional durante os jogos e também para o o tempo além de 2016. Esse projeto conseguiu isso, com um desenho urbanístico de muita qualidade e até com certa referência a valores paisagísticos do rio, como o calçadão de Copacabana", aponta Magalhães, chamando a atenção para a via sinuosa preta e branca que corta o terreno e remete a um dos ícones do Rio.
Inspiração
Adams diz que a referência a Copacabana foi uma de diversas inspirações buscadas para fazer com que o espaço parecesse algo “familiar” aos cariocas, e não algo estrangeiro.
A equipe buscou inspiração na cultura da cidade e em arquitetos com Oscar Niemeyer, Lucio Costa e no paisagismo de Roberto Burle Marx.
O Aterro do Flamengo projetado por Burle Marx, por exemplo, foi a referência para desenhar a "orla" da Lagoa de Jacarepaguá.
"Sabemos que os cariocas gostam muito de praticar esportes e atividades de lazer, algo que o Aterro proporciona", diz Williams.
"Não queríamos chegar e projetar prédios mirabolantes. Queríamos ter elementos com os quais as pessoas pudessem se identificar e que já funcionassem bem na cidade."
Trânsito
O resultado do concurso foi anunciado no Parque Aquático Maria Lenk, ao lado do Autódromo, e parte do futuro complexo.
Williams admite que ficou um bom tempo parado no trânsito, em pleno meio-dia, antes de conseguir chegar de Jacarepaguá, na zona oeste, de volta à Copacabana, na zona sul, trajeto que será feito por muitos turistas e jornalistas durante os jogos.
Ele acredita, entretanto, que a cidade já esteja remediando os problemas do trânsito e da mobilidade pública com a abertura dos corredores expressos de ônibus (BRTs) e com a extensão do metrô, projetos que deverão ficar prontos a tempo da Olimpíada.
O urbanista não nega que o terreno que tem “em mãos” seja isolado e pouco amigável a pedestres. Mas acredita que, com o tempo, aquela área ficará cada vez mais integrada à cidade.
"A região da Barra é uma parte do Rio relativamente nova. As estruturas corretas estão começando a entrar nos eixos, e com o tempo isso vai amadurecer. Há muita oportunidade aqui, muito potencial de desenvolvimento, e espero que nossas conquistas sejam replicadas e possam influenciar uma área maior", afirma.
"Espero que ajude as pessoas lá fora a pensarem na Barra quando pensarem no Rio, da mesma forma que pensam no Leblon."
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