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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Natália no BBB: sofrimento de uma mulher negra não pode ser entretenimento

Reprodução/Globoplay
Imagem: Reprodução/Globoplay

Colunista de Universa

17/03/2022 11h18

Na última madrugada do BBB, a designer de unhas Natália teve um surto dentro do programa. Depois de beber (e todos sabemos que álcool pode turbinar esses episódios), ela teve uma discussão com Linn da Quebrada que culminou com cadeiras sendo jogadas, muito choro e um risco real de que ela se machucasse fisicamente —internamente, ela já estava em sofrimento.

Ver Natália ter essa crise séria foi angustiante. Não é possível que alguém ainda ache que assistir a um episódio de sofrimento psíquico intenso de uma mulher seja algo "divertido". Ainda mais sendo de uma mulher negra, que historicamente tem uma carga de sofrimento gigante.

Para piorar tudo, a cantora Linn da Quebrada ficou super culpada ao ver o surto da amiga. Aos prantos, ela dizia: "eu não sou um monstro! Eu não sou um monstro".

Que circo sadomasoquista é esse, que nos faz assistir a esse tipo de dor em nome de um suposto "entretenimento"? "Saúde mental" é um termo que está na moda. Mas, e na prática? Vamos continuar fingindo que é ok ver um surto ao vivo?

A Globo também precisa se manifestar e deveria ter agido para conter a situação. Durante a madrugada, alguns telespectadores alertaram para isso. Caso da psicóloga Déia Freitas, criadora do podcast "Não inviabilize", que escreveu em seu perfil do Twitter que a Globo foi irresponsável por não cuidar da participante.

"Tô bem chocada com a produção desse BBB, como que, com a Natália assim, a produção não toma providência, não chama um médico, não faz nada?"

Sim, saúde mental (e uma empresa como a Globo já devia saber disso) é tão importante quanto a saúde física. Se um participante quebra o pé, ele recebe atendimento. Se surta ao ponto de se bater (isso aconteceu com Natália) deveria receber o mesmo pronto atendimento.

Mas não vejo erro só na Globo. Todos nós também já devíamos saber que ver alguém fora de controle, tendo um surto real, é algo do qual se deva rir ou fazer piadas.

"É cada vez mais difícil defender esse formato de programa como entretenimento, né? Atualmente a gente tem muito mais informação sobre saúde mental e aí fica complicado confinar um monte de gente numa casa, liberar álcool e esperar pelo pior", disse o jornalista e podcaster Thiago Theodoro.

Sim, basicamente, o BBB é um programa feito para que os participantes surtem e a gente assista.

E isso vem piorando a cada ano, com invenções como a "xepa", onde participantes sofrem com falta de comida, o que também aumenta a propensão ao desequilíbrio, e dinâmicas como o "jogo da discórdia!", uma espécie de noite do "bullying".

Nesta quinta-feira (17) pela manhã, Natalia refletiu sobre os acontecimentos da noite passada. Pediu desculpas, disse que bebeu em excesso e que, por não ter vávulas de escape" que costuma ter fora da casa, como treinar ou pilotar, acabou se exaltando. "Estou me sentindo muito mal, sim. Não estou bem. Mas queria pedir para não desistirem de mim".

Natália não é a primeira a ter um episódio agressivo dentro de casa. Ano passado, muita gente riu com Gil do Vigor gritando " eu não aguento mais!", berrando e chutando coisas. Mas ver alguém perder o controle (e isso pode acontecer com qualquer um de nós) não tem graça. Ou, pelo menos, não devia ter