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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rogério Caboclo: por que acusação de assédio não surpreende nenhuma mulher

Rogério Caboclo - Lucas Figueiredo/CBF
Rogério Caboclo Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Colunista de Universa

07/06/2021 11h19

Nojo. Esse é o sentimento de qualquer mulher ao ouvir os diálogos entre o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rogério Caboclo, e uma funcionária que o acusa de assédio. Os diálogos foram exibidos neste domingo (6) no "Fantástico" (Globo). Caboclo foi afastado da CBF por 30 dias depois de ser denunciado na sexta (4) por assédio moral e sexual à comissão de ética da instituição.

Na conversa, com voz melosa, ele fala absurdos para a mulher. Entre detalhes íntimos da sua vida com a esposa (do estilo "ela está fazendo ginástica, vai ficar tesuda") e perguntas sobre a vida sexual da funcionária, ele pratica assédio e constrangimento. Em certo ponto, pergunta: "Você se masturba?".

Essa conversa horrível pelo jeito não é o pior assédio praticado por ele. A funcionária afirma também que o chefe ofereceu para ela um biscoito de cachorro (!) e a chamou de "cadelinha". Nojo.

Mas o pior de tudo é que, apesar desse caso nos causar nojo e repulsa, o assédio não surpreende nenhuma mulher ativa no mercado de trabalho.

Todas nós sabemos que esse tipo de coisa acontece. Se nós mesmas não passamos por algo parecido (muitas vezes em versão mais "light", mas ainda assim abuso), temos alguma amiga que já passou.

As histórias de mulheres que tiveram que pedir demissão depois de "cantadas" insistentes de chefes são comuns nos banheiros femininos de firmas. Quase toda mulher já ouviu de colegas ou chefes insinuações sobre suas roupas, sobre sua aparência ou outro comentário que a deixou desconfortável.

E não, eu não estou exagerando. Segundo pesquisa realizada pelo Linkedin e a consultoria Think Eva, no ano passado, quase metade das mulheres (47%) já sofreu algum tipo de assédio no ambiente de trabalho. Entre elas, 15% pediram demissão por esse motivo, ou seja, uma em cada seis brasileiras pediram demissão por causa de abuso. É muito.

E, para piorar, 78% das entrevistadas na pesquisa disseram acreditar que nada acontecerá se denunciarem esses crimes às empresas onde trabalham.

Que tal?

Elas não estão erradas. Ainda é muito raro que justiça seja feita quando uma mulher denuncia o abuso.

No caso da acusação contra Caboclo, a CBF fez pouco — 30 dias? — e parece ter agido para "apagar um incêndio". Depois de o caso ser divulgado, da pressão dos patrocinadores, a confederação não tinha outra opção.

Segundo reportagem do site "Ge", há um mês os dirigentes da CBF já sabiam que a funcionária tinha provas contra o presidente. Ela relatou que os assédios aconteciam desde abril do ano passado. Imagina passar mais de um ano sendo assediada pelo seu chefe imediato? Como ir para o trabalho assim? Horrível. E deve estar acontecendo com várias mulheres agora mesmo.

Errata: este conteúdo foi atualizado
O texto publicado anteriormente dizia que Rogério Caboclo é ex-presidente da CBF; dirigente foi afastado por 30 dias, mas segue à frente da confederação

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL