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Marina Santa Helena

Aproveite a pandemia para fazer as pazes com o espelho

Ju Romano, jornalista e influencer: "É momento de olhar pra dentro" - Divulgação/Wonder Size
Ju Romano, jornalista e influencer: "É momento de olhar pra dentro" Imagem: Divulgação/Wonder Size

Colunista do UOL

22/08/2020 04h00

Essa semana eu tive um papo delicioso com a jornalista e produtora de conteúdo Ju Romano, um dos nomes mais influentes do movimento #bodypositive no Brasil. Falamos de corpo na pandemia, pressão estética, gordofobia e do mercado de moda plus size. Procurei por ela porque a pergunta que mais martelava na minha mente era se a pandemia tinha trazido alguma mudança no nosso olhar sobre os corpos. Estaremos nós mais empáticos e acolhedores com eles? Se não estamos, como fazer as pazes com a nossa autoimagem num momento tão insalubre?

É meio óbvio que diante de todas as mudanças na rotina e previsões catastróficas para o futuro a gente busque algum conforto na comida. Outro ponto é que, segundo algumas teorias da psicanálise, é compreensível que no momento em que se perde o controle do externo, a gente passa a focar no nosso corpo, pois ele se torna a única coisa sobre a qual se tem algum "controle". Pra completar, o aumento do tempo médio das pessoas zapeando as redes sociais nos últimos meses também não ajuda muito quando o quesito é pressão estética.

E é justamente aí que a Ju Romano entrou para jogar algumas luzes. "Absolutamente tudo mudou. Rotina, comida, até o jeito de a gente se vestir, com a chegada das máscaras nos nossos looks. Como não esperar que nosso corpo mude também? E por que a gente foca no corpo?", questiona. "Estamos todos muito fragilizados, mas temos que acompanhar 'piadinhas' na internet sobre corpos gordos. É opressor! Pessoas estão morrendo e tem gente se preocupando com a gordura."

Me pareceu que ter uma relação melhor com nosso corpo é uma forma também de se proteger dessas agressões. E ela continua: "Eu sou uma mulher gorda, então o meu processo de desconstrução se deu mundo em torno do meu corpo gordo, mas o movimento body positive é para todos. Desde sempre somos ensinadas a inferiorizar e diminuir nosso corpo, e isso não ajuda a ninguém, só serve ao mercado que ganha dinheiro sobre a nossa infelicidade e satisfação corporal".

Sejam altos, baixos, magros, gordos, todos precisam ter uma relação mais positiva com seu corpo e ao mesmo tempo isso não significa conformismo nem que você não vai investir em si mesmo — mas se perceber de uma forma que se valorize e se sinta bem com o que você já tem.

E pra finalizar, me deixou com uma dica que ressoa até agora:

"É um momento de olhar para dentro, analisar o que você gosta em si. Esqueça um pouco seu corpo e pense sobre a sua vida, cada aspecto dela, carreira, filhos, relacionamentos. Perceba onde estão os vazios e como você pode preenchê-los. É muito comum a gente transferir para o corpo uma insatisfação emocional que está em outro aspecto da vida, como um relacionamento tóxico, por exemplo. Faça uma limpeza emocional. Se puder fazer terapia melhor ainda, mas olhe para sua vida com racionalidade para não jogar sobre o seu corpo frustrações que não cabem a ele.