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Marina Santa Helena

Volta da Era Disco na cultura pop reflete nossa nostalgia por bons momentos

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

19/09/2020 04h00

Recentemente, Miley Cyrus, Doja Cat, Sza, Dua Lipa, Kylie Minogue, Iza e outros grandes nomes da música pop mostraram que a era disco está de volta. Sintetizadores, faixas com elementos eletrônicos, maquiagens glam, muito glitter e roupas reluzentes são alguns dos elementos que desde o início do ano vinham retornando aos poucos aos holofotes e que agora parecem dominar a cena da música pop.

Não é novidade para ninguém que vivemos um momento histórico complexo: pandemia, crise financeira, queimadas, ansiedade, saúde mental fragilizada. Nesse contexto, é bem comum relembrar de momentos afetivos, em que a vida parecia mais fácil para encarar a realidade da vida adulta.

Apesar de nostalgia ser uma palavra que antigamente era relacionada a um distúrbio comportamental, hoje, depois de extensos estudos, provou-se que relembrar bons momentos da vida faz com que as pessoas se sintam mais otimistas com relação ao futuro.

Um dos pioneiros no estudo desse sentimento e responsável pela forma como usamos esse conceito hoje é o doutor Constantine Sedikides, da Universidade de Southhampton. Ele afirma que a nostalgia é algo que nos torna um pouco mais humanos.

E, como de boas intenções o inferno está cheio, a partir desses estudos, rapidamente a nostalgia deixou de ser só um sentimento bom e logo se tornou uma tendência mercadológica - exatamente o que se vê quando se assiste o clipe de uma das divas pop que citei no começo do texto.

Muitas tendências estéticas nascem de uma leitura oposta de outro caminho posto. Se pensarmos no período da contracultura dos anos 60, as roupas eram largas e coloridas, mas ainda assim eram feitas de tonalidades opacas. Quando a era disco aparece, trás uma estética totalmente oposta, de brilhos e paetês, como se fosse um manifesto para curtir a vida de forma glamourosa.

Mas, isso ia muito além das roupas. Também como muitas tendências, disco era uma forma de se ser moderno nos anos 70. Musicalmente, o som de sintetizadores misturado com soul e funk era a epítome da modernidade. Tanto que quando David Bowie ouviu pela primeira vez "I Feel Love", de Donna Summer, música que é considerada um marco da era disco, decretou "esse é o som do futuro".

Paralelamente, liberdades recém-conquistadas, como a revolução sexual, eram ostentadas nas letras, no visual e nas atitudes na pista de dança.

Depois desse momento, a era disco foi embora e voltou inúmeras vezes. Mesmo com esse gênero já em declínio, em 1987, Whitney Houston traz uma releitura clássica do momento quando lança "I Wanna Dance With Somebody", cheia de elementos sonoros e estéticos que fazem referência à disco.

Studio 54 - Tim Boxer/Getty Images - Tim Boxer/Getty Images
Dançarinas fazem performance disco na abertura do Studio 54, em New York City, em abril de 1977
Imagem: Tim Boxer/Getty Images

Quando Madonna lança "Hung Up" em 2005, com sintetizadores marcantes e sample do Abba, um dos expoentes da era disco, também traz a tona uma nostalgia por esse momento. Mais recentemente ainda vimos Daft Punk, primeiro em "Get Lucky", com Pharrell Williams e depois com The Weeknd em "Starboy".

Madonna dança Hung Up - Michael Caulfield/Getty Images - Michael Caulfield/Getty Images
Madonna dança "Hung Up"
Imagem: Michael Caulfield/Getty Images

E, finalmente chegamos à Dua Lipa, com Future Nostalgia, lançado este ano, que une todo o combo visual a la Studio 54, sonoridade ultra disco e título que faz total referência à tal nostalgia.

É no mínimo curioso ver que - num momento em que se tem tantas opções no entretenimento -, escolher algo que nos é mais familiar parece o caminho mais seguro.

A música é uma área que, assim como a moda, está em constante transformação. Ela acompanha as mudanças na cultura, na sociedade e na tecnologia e lança tendências que são distribuídas pelas mais diversas áreas.

Então, não é à toa que a era disco, marcada por festas, glamour e leveza, volte com mais força num momento de pandemia, em que as pessoas se sentem nostálgicas por algum divertimento fora de casa.