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Maria Ribeiro

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Xuxa, Balão Mágico, Saul Klein: sou a psicopata dos documentários

Colunista de Universa

18/07/2023 04h01

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Na sexta, foi a Xuxa. Fui dormir sonhando com ela. Sábado e domingo, Balão Mágico. Cantei todas as músicas escondida no quarto. Sim, meus filhos estão de férias. E são grandes. A garota aqui sou eu.

Às vésperas de ter minha menopausa legitimada por exames de sangue, passei o último final de semana inteiro nos anos 1980, e tenho duas ou três coisas para dizer sobre os envolvidos —antes de me declarar de vez para o Tob, com 40 anos de atraso. Te amo, Tob. Dito isso, uma dica: vejam documentários nacionais. Melhor, vejam documentários. Eu sou uma verdadeira psicopata.

Vejo os do Oscar, os do Tudo Verdade, os do tipo Cinema Direto —meus preferidos— os da família real inglesa, os cabeçudos, os de fofoca, os difíceis, os realmente úteis, os de autoajuda que ajudam dois dias, os investigativos. Documentário, para mim, é realidade com paixão, uma parceria bonita do jornalismo com o entretenimento —no melhor sentido da palavra entretenimento. Cinema com C maiúsculo.

Vale a pena parar para ver. Para falar do maior, temos Eduardo Coutinho, que já nos deixou — mas a vida pode ser boa, seus filmes estão aí. No cardápio brazuca, também estão as obras de João Moreira Salles, Joel Zito Araújo, Petra Costa, Luiz Bolognesi, Carlos Nader e José Padilha.

Na TV e na internet —será que ainda há essa distinção?— , temos, há anos, o "Globo Repórter" (que me mostrou o Brasil) e tudo que agora inclui Juliana Dal Piva, Caco Barcellos, Pedro Bial, Renato Terra (obrigada pela "Nara", Renato), Mônica Almeida, Ricardo Calil, Caio Cavechini, Tatiana Issa, Guto Barra e um monte de gente que vou esquecer —sem falar nos que não conheço. Que são muitos, já que eu estou velha, e estou falando da minha turma.

Recentemente, aqui no UOL, tivemos uma prova contundente da importância desse tipo de jornalismo. Semana passada, Saul Klein, herdeiro das Casas Bahia, foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar uma indenização no valor de R$ 30 milhões por tráfico e aliciamento de mulheres para fins sexuais. Na condenação, constava o trabalho de apuração de Pedro Lopes, Camila Brandalise e Cristina Fibe.

O mesmo aconteceu com João de Deus, que, depois da denúncia da holandesa Zahira Mous em uma rede social, e do programa e da série feitos por Pedro Bial e Camila Appel —e do livro de Fibe— foi preso e agora condenado.

Depois de 4 anos em que jornalistas tiveram que competir, e que ainda competem, com mentiras e montagens que nos levaram a lutar de novo por uma realidade compartilhada, uma moralzinha como essa não faz mal a ninguém, além de fazer bem ao Brasil, que é o que importa.

Fui longe, afaguei meu diploma e falei um monte de nomes que talvez vocês não guardem. No fundo, comecei esse texto para dizer do meu apreço pelo jornalismo, do meu amor por Xuxa e Balão Mágico, e do prazer de compreender o meu passado nesse lugar, de primeiros ídolos. Minha infância é feita dessas figuras, e é doloroso, educativo e emocionante ver essa composição do passado. No mais, minha gratidão um tanto egoísta àquelas crianças que talvez não devessem estar trabalhando, mas me apresentaram Djavan e Roberto Carlos. O tempo e a vida não poupam ninguém.