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Opinião

Sou monogâmica, mas divido amor com namorado, amigas, filhos e até analista

Casei duas vezes. Sempre achando que era para sempre. Eu sei, aqui tem uma pausa, que pode ser irônica, triste, cínica ou benevolente. Mas olhando para trás - com a compreensão de agora, naturalmente - acho que fiz tudo mais ou menos como deve ser. Se apaixonou? Casa. Com amor, não tem como dar errado.

Estamos falando de uma jovem de 21 anos, de um momento em que ainda somos feitos de projeção e não de experiência, de quando a ideia do par amoroso é a grande promessa da infância. A ilusão possível depois do Papai Noel e Coelho da Páscoa. A metade da laranja, a figurinha brilhante, o ingresso vip da existência: ser o tudo de alguém, o band-aid infalível na solitária condição humana. AHÃ.

Spoiler: "eu e você, você e eu", meu povo, só no útero e na voz do Tim Maia. Alguém devia criminalizar esse pacto. "Um pra um" não funciona nem no Largados e Pelados.

Naquela época, relacionamento aberto era coisa de tropicalista, e, pelo menos no meu entorno, pouquíssimas mulheres questionavam a maternidade. O lance era cumprir o script. Juntar e procriar. Assim como nossas mães e nossas avós, mas, eventualmente, podendo abrir mão do vestido (como assim? Desistir da melhor parte?).

Eu já tinha batido todas as cotas de transgressão na família. Estava com um cara que tinha o dobro da minha idade, e que já era pai de uma dupla de moças crescidas. Além disso, havia escolhido ser atriz, uma profissão estranhíssima aos olhos dos meus pais.
Para mim, nada disso importava. Eu não tinha medo, eu não tinha mundo, eu não tinha a morte. Assim, em 1999, saí da casa em que morava com a minha genitora e fui, pela primeira vez, dividir, com um companheiro, CEP, TV e almoços de domingo.

Com 26 fiquei grávida, com 27 fui mãe e com trinta separei. Para fazer tudo de novo em seguida, e só ficar solteira aos 41 anos, quando jurei nunca mais me jogar nesse esporte de risco e correr atrás de todos os namorados que não tive na adolescência.

Mas por que cargas d'água estou, do nada, falando de casamento? Porque esse final de semana, vi um amigo dizer - em um altar - a coisa mais bonita que já tinha ouvido em uma celebração de união: "Vou te amar para sempre".

Achei tão honesto que, de alguma forma, fiz as pazes com todos os "para sempre" que não foram "para sempre". E tive vontade de tentar mais uma vez. Não que eu já não seja comprometida. Por aqui, os nós de marinheiro envolvem praticamente duas mãos cheias.

Não, não vai ser nessa encarnação que serei capaz de praticar o poliamor - e isso tem mais inveja do que crítica, que fique claro. Mas minha vida, hoje, mesmo sendo do time da monogamia, é dividida, não apenas com meu namorado, mas com cinco grandes amigas, dois filhos incríveis, uma analista gênia e várias conexões que me alimentam e que me dão vontade de falar coisas interessantes e passar batom e colocar sapatos.

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Uma delas é aqui. Primeiro nas palavras, depois na troca. Uma parceria hoje, aos 48, só me convence quando aceita - e até estimula - que eu tenha outras. Novas e antigas, frequentes ou esparsas, ao vivo e online. No mais, para não deixar dúvidas, essa é uma coluna de amor.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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