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Opinião

Você sabe o que é ser uma garota nesse mundo? Fernanda Young que me ensinou

Hoje eu acordei muito triste. Eu sempre tento encontrar algum lugar de beleza na tristeza, e uma hora ele há de aparecer, mas agora eu estou só com saudade.

Ontem eu fui no cinema ver o seu filme, quer dizer, o filme da Susanna Lira, e olha, acho que você ia gostar bastante. Porque é um documentário sobre a Fernanda escritora. Tem também a apresentadora, claro. E a performer, a roteirista, a atriz, a mãe, a mulher do Alexandre, a obra de arte em si que era a sua existência, mas a palavra ali está acima de tudo. Você escrevia com tanta personalidade, você tinha uma língua tão sua, que a gente sai do cinema como se tivesse visitado um país com teu nome: o país Fernanda Young.

Nesse país, todo mundo sente tudo de forma incansavelmente intensa. A gente sofre muito, a gente ama muito, dança, não sai da cama, se arruma, passa dias de pijama, escreve nas paredes, se vinga, se declara, chora, é violenta, se arrepende, se desculpa. E no final transforma toda essa energia em texto, faz uma escova no cabelo e ensaia poses no espelho.

Eu me arrumei para te ver. Coloquei uma roupa bonita, um sapato alto e um batom vermelho. O figurino era parte fundamental da tua criação, e eu nunca mais esqueci do dia em que você me disse que eu tinha que me produzir para escrever, que isso chegaria nas frases, nos pontos, nas virgulas. No passaporte da tua cidadania, penteados e advérbios caminhavam juntos e sem hierarquia.

Algumas coisas no documentário - que esta em cartaz na programação do Festival É Tudo Verdade - me pegaram de jeito na noite de domingo. Acho que de todas elas, a mais forte foi a frase da Madonna, que por dois anos repeti no teatro quando fazia o Pós-F: Você sabe o que é ser uma garota nesse mundo?

Eu sei, Fernanda. E apesar da solidão imensa que costuma acompanhar mulheres atrevidas como a gente que, como você mesma bem disse, não costumam reverenciar os coronéis da cultura - e essa definição é perfeita - não há nada mais lindo do que ver uma artista ter a coragem de ser quem se é.

Como se não bastasse, você e Alexandre Machado escreveram as coisas mais geniais que a TV aberta já produziu. E formaram uma família forte, sensível, brilhante, e, detalhe importantíssimo, rebelde e punk. Aliás, preciso de uma serie nova do Alexandre para ontem. O Brasil precisa.

Pensando bem, eu não estou nada triste. Eu estou com você, Fernanda. Capturada, apaixonada, emocionada. Meio chorando e meio dançando, como costuma ser a vida.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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