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Ana Canosa

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Participei de ménage com um amigo, mas agora isso me perturba. O que fazer?

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Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

16/02/2021 04h00Atualizada em 16/02/2021 11h16

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Pergunta do leitor: Eu aceitei participar de um ménage e agora me sinto inseguro por ter transado com um amigo próximo, que frequenta minha casa. Isso está acabando comigo. O que eu devo fazer?

Nosso desejo é marcado pelas experiências pessoais e também condicionado pela cultura. Muitas fantasias sexuais são reproduções do que vemos em filmes e narrativas literárias, e o ménage nunca esteve tão em pauta. Normalmente, o caminho para a relação não monogâmica começa por essa prática, em que um casal convida uma terceira pessoa para o sexo.

Nas relações heterossexuais, o famoso duas mulheres e um homem é a fantasia sexual mais frequente para os homens e atrai certa curiosidade de algumas mulheres. Já o inverso - dois homens e uma mulher - pode não ser aceito tão facilmente pelos homens, pois isso implicaria em abrir mão da exclusividade do macho, no sentido patriarcal do termo.

No ménage, os protagonistas experimentam sentimentos variados, como a posição de ser desejado por mais de uma pessoa, de receber muitos estímulos ao mesmo tempo e de ver sua parceria usufruindo da brincadeira, o que pode ser bastante excitante.

Mas é também nesse contexto que os sentimentos menos confortáveis, como o ciúme e a exclusão podem ser experimentados. No plano da fantasia, é bem mais fácil aceitar sua parceria fazendo sexo com outra pessoa do que na vida concreta, pois embora saibamos que o desejo é livre, a triangulação sempre ameaça a posição de exclusividade que gostamos de ter.

Mas não é só isso. Quando a gente abre a nossa caixa de pandora, podemos nos surpreender com o prazer obtido pelas práticas que no calor da excitação pareceram interessantes, mas que contrariam valores ou crenças sobre o que é adequado ou não, colocando a sua identidade sexual na berlinda.

É frequente a noção de ridículo, de estranhamento, de culpa e a confusão em relação à identidade sexual, ou na maneira como se conduz a relação afetiva. A vergonha de ter sua intimidade 'descoberta' pode gerar uma espécie de ressaca moral. E o medo do julgamento, provoca sentimentos de inadequação e podem abalar a confiança das pessoas.

Por isso que muitos evitam fazer práticas dessa natureza com conhecidos, a fim de preservar as relações fraternas de possíveis confusões. É o mesmo que acontece com as pessoas que evitam falar de suas fantasias sexuais, com medo de que a parceria deixe de amá-las se souberem o que lhes alimenta o desejo. É preciso ter coragem e abertura para investigar o ser transante, pois ao abrirmos nossa intimidade nos tornarmos vulneráveis.

Você pode conversar com seu amigo próximo e lhe contar sobre seu desconforto ou simplesmente deixar que a vida siga seu rumo, e decidir se vale a pena viver nova experiência quando ela de fato se apresentar.

Um psicólogo sempre pode ajudá-lo a compreender melhor seus medos e anseios; se você está confuso e sofrendo, talvez seja interessante começar por aí, antes de mergulhar de cabeça numa parte de si mesmo que você parece ter dificuldade de aprovar.

Quer que Ana Canosa analise sua dúvida em sua coluna? Mande perguntas para universa@uol.com.br com o assunto #sexoterapia. Mantemos o anonimato.