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Ana Canosa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A timidez atrapalha minha vida sexual. Como reverter essa situação?

Se por um lado os tímidos têm menos parceiros sexuais, também apresentam menos comportamentos sexuais de risco, o que é um ponto bem positivo - Getty Images
Se por um lado os tímidos têm menos parceiros sexuais, também apresentam menos comportamentos sexuais de risco, o que é um ponto bem positivo Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

13/02/2021 04h00

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Gostaria que você falasse sobre pessoas com dificuldades em convívio social (timidez, fobia social, etc) e que tem dificuldade com sexo. A busca por profissionais do sexo pode ajudar nessa dificuldade? No sentido de conseguir ser mais seguro na hora do sexo.

A timidez é um atributo de temperamento ou personalidade, que provoca abalo na confiança, constrangimento na aproximação com os outros e falta de habilidade social. Já a fobia social provoca ansiedade intensa frente a situações de interação pessoal e/ou situações de desempenho, causando prejuízo na vida da pessoa. Ambas as condições podem afetar a exploração da identidade sexual, afinal os relacionamentos românticos são cenários nos quais as habilidades de relacionamento são desenvolvidas e cultivadas.

Se já não é fácil ser tímido, imagina no Brasil, onde as pessoas são super táteis, abraçam e se beijam mesmo sem conhecer muito bem o outro e onde há muitas expectativas, inclusive profissionais, para que as pessoas sejam expansivas.

Todos nós desejamos projetar uma imagem positiva de nós mesmos nos outros e, sexualmente falando, homens e mulheres tímidos podem sentir maior pressão para adequarem-se a expectativas roteirizadas para o seu gênero.

Algumas pesquisas sobre comportamento sexual de pessoas tímidas mostram que os homens, comparados aos seus pares não tímidos, sentem-se mais pressionados para desempenhar sexualmente, praticam sexo solitário com mais frequência e consomem mais pornografia. No caso de mulheres tímidas, a atitude sexual é mais conservadora e expectante.

Pensando sobre a interferência dos ideais sexualmente construídos, pergunto se essa sua vontade em fazer sexo com uma profissional tem maior ou menor influência sobre um estereótipo sexual, que você imagina que aconteça na vida real. Falo isso porque muitas pessoas não gostam do sexo pago, justamente porque tudo pode acontecer de maneira plástica e atuada, frustrando um componente importante da atividade sexual que é o sentido de ser desejado(a) e de criar uma certa conexão.

Você corre o risco de sair do encontro achando que qualquer comentário positivo sobre sua atuação, seja na verdade uma ferramenta usada comumente na profissão e não algo legítimo, o que pode não lhe ajudar. Dito isso, se você decidir por esse caminho, seria legal abrir o jogo logo de cara, dizendo que está na relação para aprender, bater um papo antes, sentir que a profissional compreendeu sua necessidade e está disposta a lhe ensinar.

No Brasil, desconheço a atividade da(o) profissional do sexo que se especializa em ensinar práticas sexuais, ou também da substituta sexual, alguém que se dispõe a ajudar pessoas com queixas sexuais. No filme "As Sessões", uma terapeuta sexual americana é uma especialista em exercícios de consciência corporal, e inicia sexualmente o protagonista do filme, um homem que tem limitações físicas. Há também o livro, sendo baseado em história real.

Na série Master of sex você verá como o papel da substituta sexual ajudou o casal de pesquisadores a desenvolver ferramentas para o tratamento de queixas sexuais em pessoas sem parceria, e como é uma atividade sensível, sujeita a desalinhos. Nunca é fácil trabalhar com a intimidade sexual alheia.

A boa notícia é que já temos no país os Sexological Bodyworks, terapeutas que trabalham focando em 3 pilares de autoconhecimento corporal: respiração, som e movimento, ajudando na identificação de sentimentos e emoções ligados à sexualidade. Na modalidade bodywork a pessoa é chamada a consciência sendo guiada pelo profissional, encorajando e auxiliando na redução do sentimento de vergonha, segundo eles, um dos grandes motivadores das inibições sexuais.

Os terapeutas sexological bodyworks não fazem sexo com seus pacientes, como a terapeuta do filme As sessões, mas é possível que, dependendo do caso e do desenvolvimento do trabalho, o paciente seja convidado a se auto estimular. Por isso, ao escolher essa abordagem, investigue se o profissional fez formação em sexologia e converse com ele sobre o que esperar do trabalho.

Depois, você também pode explorar o tantra, onde a percepção corporal é acessada pelo relaxamento através do toque e ambiente mais intimista, onde pode acontecer estimulação genital, além de respiração e expansão da energia. Além de receber, você pode também aprender a fazer uma massagem tântrica, que normalmente faz sucesso entre as pessoas, mas sugiro que isso aconteça quando estiver mais seguro com seu corpo erótico.

Aliás, em paralelo, caso ainda não tenha esse compromisso semanal, busque um psicoterapeuta para lhe ajudar com a timidez. Alguns profissionais, inclusive, utilizam tecnologia da exposição à realidade virtual para apresentar pacientes a situações que imprimem ansiedade, a fim de treinar suas habilidades em ambiente controlado. Tem um app brasileiro o SocialUP3D que tem, inclusive, cena de aproximação com um possível par romântico. Também sei que alguns experts de tecnologia estão desenvolvendo ferramentas de realidade virtual de cunho sexual, que eu imagino poderão auxiliar também nos casos de excesso de ansiedade diante do jogo erótico.

De qualquer forma, gostaria de lembrá-lo que muitas pessoas curtem um tímido, então eu, se fosse você, tentaria usar isso a seu favor.

Embora as pessoas tímidas se engajem menos em sexo casual, o uso de apps de relacionamento pode ajudar a treinar habilidades de comunicação amorosa e erótica. Sugiro que você coloque logo na descrição do seu perfil que é uma pessoa tímida, reforçando essa sua característica positivamente. Se por um lado os tímidos têm menos parceiros sexuais, também apresentam menos comportamentos sexuais de risco, o que é um ponto bem positivo.

E confie: tem muita gente que adoraria investigar as sensações corporais com alguém que está disposto a se descobrir.