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Opinião

Você recebe afeto suficiente? 32% dos brasileiros não se sentem amados

Quero endereçar uma questão importante: brasileiros não se sentem amados. Nós podemos ser conhecidos como os mais animados, receptivos, festeiros, os que amam contato físico, mas existe uma melancolia junto com tanta celebração. E não sou eu quem está cravando esse dado, é a pesquisa "Global Happiness 2024", realizada em 30 países pela Ipsos entre dezembro de 2023 e janeiro de 2024, com uma amostra de 24.269 entrevistados, mil desses no Brasil.

No quesito "sentir-se amado", Colômbia (86%), Índia (84%), Nova Zelândia (82%), México (81%) e Indonésia (81%) lideram a lista. O Brasil ficou com a 27ª colocação, com 68% dos entrevistados expressando esse sentimento. Esta pontuação coloca o país empatado com a Suécia. Outras nações com baixa satisfação no tema incluem Japão (51%), Itália (63%) e Coreia do Sul (63%).

Antes de qualquer conclusão, é preciso lembrar que se sentir amado envolve variáveis bastante subjetivas, individuais e atravessadas pela cultura. Ideias preconcebidas sobre como o amor deve ser podem não corresponder à realidade de um relacionamento específico e podem levar à sensação de não ser amado.

No Brasil, vivemos ainda sob a égide de fortes componentes românticos, constantemente confrontados pelos ideais atuais sobre desenvolvimento individual e liberdade sexual. Há, visivelmente, um desencontro no desejo e na capacidade das pessoas se comprometerem com o amor como um projeto de vida.

Amar implica no investimento ativo na relação, na conexão, na aceitação das particularidades alheias. Falta tempo e disposição para tal e a frustração acumulada pelas relações que não acontecem a contento tornam as pessoas desacreditadas das relações.

Às vezes, mesmo quando as pessoas estão fisicamente presentes, podem estar emocionalmente distantes, o que pode fazer com que os outros se sintam negligenciados e não amados. O envolvimento com o trabalho e com a tecnologia, que invade os espaços de intimidade, lazer e descanso - quando poderíamos nos conectar aos entes queridos - é, sem sombra de dúvida, a maior reclamação.

Mas, é importante reconhecer que a percepção de não ser amado nem sempre reflete a realidade do amor que está disponível para uma pessoa. Às vezes, as pessoas podem não expressar seu amor de maneiras que sejam reconhecidas ou valorizadas pelo receptor. São aqueles casos em que para um a linguagem do amor só é traduzida em abraço, mas, para outro, é o ato de fazer o almoço ou mandar mensagem toda noite desejando bom descanso. O desencontro nas demonstrações de afeto pode levar à sensação de não ser amado, mesmo quando o amor está presente. A falta de comunicação clara sobre os sentimentos e necessidades leva a esta incompreensão.

Traumas emocionais ou experiências negativas anteriores também afetam a capacidade de se sentir amado no presente, não percebendo ou não acreditando nas ações amorosas do outro. Conflitos não resolvidos, falta de comprometimento ou desequilíbrios de poder em relacionamentos podem levar à sensação de solidão.

Pessoas com baixa autoestima podem ter dificuldade em acreditar no amor que lhes é dado, independentemente de quão genuíno seja. Em termos de Brasil, talvez resida aqui uma das causas que fazem uma boa parte do nosso povo insatisfeito nesse quesito.

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Dito isso tudo, gostaria de propor uma tarefa: pense no que te faz se sentir amado. Como você reconhece e reafirma para si que um familiar, amigo ou parceiro te ama? Quando você se sente acolhido e querido? Ao chegar em uma resposta sincera, que tal trocar essa informação valiosa com os que te fazem bem? Inclusive, aproveite e pergunte como você pode provocar um sentimento tão bom e reconfortante para os que ama também. É com comunicação e alinhamento que nos tornamos mais próximos, fortalecidos e amados.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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