Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'Me aventurei em app para casados para testar meus desejos e fetiches'

Marina tem 54 anos e está casada há 28 com um homem com quem divide uma história de ótimos momentos sexuais, e outros nem tanto - aqueles afastamentos que a vida se encarrega a provocar. Como todo casal que envelhece sexualmente bem e tem bom convívio, eles revelavam seus desejos, mas também infidelidades. Toda essa troca aconteceu enquanto eles escolhiam continuar juntos, várias vezes, a cada crise conjugal.

"O amadurecimento nos faz olhar para sexualidade de um jeito mais livre. Já não existe o normal ou o correto. O que existe é um sujeito sexual múltiplo! Você pode ter prazer em uma relação tradicional, ao mesmo tempo em que goza realizando um fetiche. Quando você pensa que a vida pode render mais 20 ou 30 anos saudáveis, volta a fazer sentido sair dos desejos usuais, ou parte deles, para querer genuinamente os inventados, que com o tempo foram caindo no território da vergonha".

O marido de Marina se chama Olavo. Em um dos momentos de confissão, Olavo contou que procurou acompanhantes três vezes quando estava sem transar com a esposa. Depois o número subiu para quatro, e tinha um detalhe na conta verdadeira: foram duas amigas, uma secretária e uma acompanhante.

Olavo tem um perfil sedutor, é alto e com voz macia e quente, segundo Marina. E tem o hábito de seduzir balconistas, atendentes de lojas, a moça do pedágio. Faz as mocinhas sorrirem e "se abrirem" para ele, que fica sempre levemente inclinado no balcão, fazendo um gracejo inteligente.

Para Marina, que já havia também beijado dois homens em um bar, em ocasiões diferentes, as infidelidades do marido faziam parte de um arranjo possível nos hiatos da convivência intima a dois. Foi honesta também sobre os beijos segredados até então.

Mas eis que essa abertura e afrouxamento da censura, abriu as comportas do desejo de Marina. Ela resolveu usar um aplicativo para casados. No perfil, a frase de apresentação era: "mulher casada que precisa de sexo". Nas preferências: "uma aventura, sexo casual". Ela abriu sua conta e não olhou mais o app, só no dia seguinte, quando notou que já tinha um monte de caras pedindo para que ala abrisse seu álbum privado - foram mais de vinte.

Com calma, ela selecionou o público. Começou pelos mais próximos, que eram um tenista, um advogado e um engenheiro. As idades variavam entre 35 e 60 anos. Cinco dias depois do perfil criado, sua rede já contava com oito homens, que migraram para o WhatsApp e não tinham vergonha de fotos de pênis duros ou gozando.

Enquanto isso, empolgada, Marina transava com Olavo todas as noites - e às vezes até pela manhã. Pedia para ele tirar fotos e filmar, o que lhe serviu para conseguir ver de perto sua própria vagina, lábios, tudo. Ela amou tirar fotos sensuais e recortava, ampliava, se via gostosa, desejante. E claro, mandava os nudes para os outros homens pelo WhatsApp.

Quatro dos eleitos lhe chamaram atenção, vamos aos detalhes: O tenista era casado e adora enviar nudes e vídeos de sexo tântrico, mas depois que Marina respondeu com um vídeo fazendo sexo com o marido, ele sumiu. Ela perguntou o porquê, ele respondeu que "era muito para ele, não dava conta". O advogado se tornou mais amigo do que qualquer outra coisa. Tinha troca de fotos, mas conversavam muito, e Marina usava as experiências sexuais que ele contava como ideias para transar com Olavo. O engenheiro com barba aparada e 42 anos disse que gosta de se aventurar, mas quando ela sugeriu a fantasia de sexo a três, incluindo Olavo, negou. Já com o vendedor a relação ficou cada vez mais séria. Carente e dizendo que a esposa só fazia sexo "mecânico", a troca com Marina foi se intensificando até que chegaram ao motel.

Continua após a publicidade

Toda essa experiência intensa de homens desejando Marina, tornou o sexo uma espécie de fissura, adição. Ela contou uma parte para Olavo - tirando o encontro real no motel - mostrou fotos, vídeos e áudios, o que também o excitou muito. Mas conhecer a experiência desejante das parcerias pode ser excitante e angustiante ao mesmo tempo. Por mais racional que seja acolher a vontade alheia, nem sempre o resultado emocional é capaz de ser tão acolhedor.

Olavo fez uma busca e apreensão no celular de Marina e descobriu muito mais do que ela havia decidido compartilhar com ele. Descobrir o histórico digital é uma bomba, porque todas as nuances e fantasias estão lá, escancaradas. Mesmo com toda a boa vontade do mundo é preciso muita maturidade para não jogar para o alto uma relação de amor. Diálogos jamais imaginados, práticas antes impensáveis, datas, percepção de intensidade, confidências, fotos, vídeos.

Mas Marina e Olavo são desse tipo de casal que enfrenta dissabores. De lá para cá, passaram por todo tipo de fase que vocês possam imaginar: crise, briga, ansiedade, curiosidade, sexo e tesão. Conversaram muito, romperam e fizeram as pazes inúmeras vezes. E estão, mais uma vez, decidindo se vão recasar. O que acontece é que a vida pode ser muito curta para ignorar e repreender os desejos, mas isso não quer dizer que você deixa de amar seu grande amor. Inclusive, dizem que podemos ter vários casamentos, alguns deles com a mesma pessoa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes