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Ana Canosa

Mulheres precisam aprender a oferecer a vulva, com orgulho, para sexo oral

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Imagem: Getty Images

Ana Cristina Canosa Gonçalves

Colunista do UOL

26/11/2020 04h00

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Na ultima live do podcast Sexoterapia, falei uma frase que repercutiu bem entre as seguidoras de Universa: "as mulheres precisam aprender a oferecer a vulva com orgulho, para o sexo oral."

Os dados estatísticos sobre sexo oral são vergonhosos. De acordo com uma pesquisa brasileira com homens de 18 a 30 anos, 43% não fazem sexo oral na parceira - a mesma pesquisa mostra que só 35% dos que recebem devolvem o ato. Agora, quantos desses homens recebem frequentemente sexo oral das parceiras? Incríveis 78%. Uma diferença enorme.

Não que as mulheres gostem mais de fazer sexo oral nos homens, mas condicionadas pela necessidade de agradar e de satisfazerem necessidades alheias, entram no modo automático. No livro "Garotas & Sexo", Peggy Orenstein mostra como o sexo oral pode ser também uma tentativa de evitar o sexo com penetração, quando as jovens não estão a fim de transar com seus pretendentes ou parceiros e, para que as deixem "em paz" resolvem partir para a prática. Como se fossemos obrigadas a resolver a excitação masculina de qualquer maneira e, como se a cabeça dos homens fosse explodir, caso não consigam gozar.

O problema não é o fato de os homens desejarem sexo e pedirem o sexo oral. Estão no jogo para ter satisfação sexual. A questão é certamente quando apelam para a ignorância, quando não para a violência, seja física ou emocional, para obterem o que querem. E claro, quando não estão dispostos a oferecer prazer sexual para as suas parceiras na mesma medida.

Sim, os homens também não são obrigados, mas ninguém é, ou seja, as mulheres também não são. A prática do sexo oral pode ser nojenta para algumas pessoas e temerosa, por também ser via de contágio de algumas ISTs. Mas boa parte dos homens tem mais é preguiça, pois estão em posição privilegiada: tem um pênis que conhecem bem, o colocam para fora sem vergonha nenhuma, além de uma permissão social para o prazer. Diante disso, muito sexo rapidinho, feito em local sem privacidade, favorece muito mais ao homem do que a mulher. Sem contar a falta de intimidade emocional entre os parceiros, que inibe a mulher na hora de oferecer sua vulva para a prática.

São muitas as crenças que recaem sobre a genitália feminina e a o comportamento sexual da mulher que a fazem recuar: ou é vergonha da sua vulva, por ter lábios menores ou maiores, mais escuros ou assimétricos, ou fantasias sobre o odor e o sabor, ou ainda sobre ser oferecida demais. Há também as mulheres que ainda acham que a penetração é o que vale durante o sexo e simplesmente esquecem que a sua vulva é um órgão extremamente sensível e excitável. Toda ela, não só o clitóris.

Outro dia uma paciente que adora sexo oral, saiu pela primeira vez com um crush. Quando partiram para o sexo, ela fez sexo oral nele, porque adora, mas ele nada. Uma hora ele estava lá, beijando a barriga dela e nada de descer. Para ela não reproduzir aquela ação de empurrar a cabeça dele para baixo, como frequentemente os homens fazem, a cena clássica dos filmes pornôs, ela simplesmente disse: "olha, adoro sexo oral", no que ele respondeu: "ainda não, para fazer isso precisamos de mais intimidade"...

...Oi? Interessante que quando ela foi lá fazer oral nele esse pudor todo não apareceu, ele desfrutou é bem feliz.

Do lado feminino ainda pesa um grande equívoco, o de fingir orgasmos. Enquanto as mulheres fingirem que gozam, normalmente quando está rolando uma penetração, ou para que o sexo acabe logo, pois estão entediadas, ou porque tem "pena" da frustração que isso pode causar no parceiro, reforçam a ideia de que o sexo oral e outras estimulações corporais são desnecessárias.

Não é à toa que as pesquisas indicam que mulheres que fazem sexo com mulheres, tem mais orgasmos do que mulheres em relação heterossexual. A exploração do genital tende a ser muito mais intensa. Mesmo que as crenças para o sexo oral também estejam presentes, há maior sinergia e entrega, conhecimento sobre necessidades femininas além de disposição para a troca.

Oferecer a vulva pode ser difícil no começo, principalmente se você está iniciando o jogo erótico com alguém e ainda está um tanto insegura com a sua genitália ou com a sua autonomia sexual. Mas é preciso insistir, não dá para esperar que o outro seja generoso, pois o mundo, infelizmente, não é assim.

Se você está fazendo sexting com um crush, vá logo introduzindo a cena do sexo oral. Na hora da prática, além de sussurrar que você pira no oral, ajeitar o corpo para a prática do 69 pode ser uma boa, ou ir devagarinho escalando o corpo da pessoa deitada, até quase "sentar" no rosto do outro (sem pressão, óbvio).

Lembre-se sempre de levar consigo preservativo masculino, para sexo oral no homem e um preservativo interno (conhecido como camisinha feminina), abrindo-o e colocando no seu genital como barreira para o sexo oral feminino. Ou ainda compre uma calcinha que tem uma abertura nos genitais coberta com látex. E rebole, querida, orgulhosa e sendo feliz!