Motociclistas da 99 temem apreensões de motos em SP: 'Me sinto procurada'

Motociclistas que trabalham para a 99Moto disseram a Tilt temer as apreensões das suas motocicletas em meio ao embate entre a 99 e a Prefeitura de São Paulo desde que a plataforma passou a oferecer o serviço na capital paulista. "Estou me sentindo uma procurada pela polícia", disse uma fonte.

A administração da cidade afirma que um decreto local proíbe transporte de moto por aplicativo, enquanto a 99 se apoia em uma lei federal.

O que aconteceu

Paulo*, 37, faz viagens na categoria desde 2023 em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde mora. Nesta semana, começou a pegar algumas corridas para a capital, apesar do receio dele e de outros colegas de ver a moto apreendida em blitze da gestão municipal. A 99 permitiu oferecer viagens na capital nesta semana, mas somente em regiões fora do centro expandido.

Tilt apurou que motociclistas estão se comunicando em grupos nas redes sociais para informar sobre blitze tanto na capital, como na região metropolitana. A prática é crime no Brasil, sendo enquadrada pelas autoridades no artigo 265 do Código Penal, que prevê pena de reclusão de um a cinco anos e multa para quem atentar contra a segurança ou o funcionamento de serviços de utilidade pública.

Medo de acidente a gente sempre tem, mas eu estou acostumado porque transporto pessoas há anos. Já na questão de fiscalização, alguns motoboys têm medo. Não posso falar por todos, mas os que eu converso nos grupos estão com receio por causa [das blitze], que parecem estar aumentando justamente por causa dessa situação. Não sei se a 99 está incomodando a prefeitura também [com o fornecimento do serviço].
Paulo, em entrevista a Tilt

Ana*, de 35 anos, moradora de Diadema, também na Grande São Paulo, disse ter visto mensagens em grupos em que os colegas alertam para as apreensões em blitze. Ela contou que um dos motociclistas avisou sobre uma fiscalização em Osasco, na região metropolitana, onde o transporte por aplicativo em motocicleta é permitido. Muitos trabalhadores, segundo Ana, também preferem não comentar o assunto publicamente porque enxergam a situação como uma "briga de gente grande".

Para Ana, as ações do prefeito Ricardo Nunes fazem os motociclistas se sentirem de "mãos atadas". Ela conta que já recebeu corridas para sair de Diadema nesta semana e fazer viagens pela capital, mas decidiu não se arriscar. Mesmo sem oferecer o serviço novo, se sentiu pressionada. A motociclista, que costuma primeiro fazer corridas na sua região para depois realizar entregas na capital, pretende diminuir o ritmo do trabalho por conta da fiscalização, e já se preocupa com o prejuízo financeiro.

Fui fazer entrega na capital e fiquei com receio. Todo mundo que está na rua é mãe e pai de família. É muito difícil estar na rua para a gente, como condutor. Você subiu na moto e já está pressionado. É mal visto. Agora, se você tem um garupa, você é parado em São Paulo. Você não pode estar com o celular no suporte porque você é um suspeito. Está parecendo que somos procurados. Estou me sentindo uma procurada pela polícia, que vai ser presa a qualquer momento. É um absurdo.
Paulo, em entrevista a Tilt

Para Paulo, quem trafega sobre duas rodas está "mais visado" nas blitze. Mesmo com a documentação da motocicleta e CNH (Carteira Nacional de Habilitação) em dia. "Se tivermos com passageiro homem, a polícia realmente para mesmo [porque pensa que pode ser 99Moto ou assaltantes também]. Agora mulher, a polícia não para tanto. É mais difícil. Se tiver dois numa moto, você fica mais visado e é mais parado", destacou.

Continua após a publicidade

O motociclista disse querer continuar trabalhando para a 99Moto e aguarda a conclusão da disputa. O risco de perder a motocicleta por uma corrida de R$ 10 não vale a pena, diz. "É muito risco para pouco ganho. Tem que ter algum respaldo jurídico, se não for autorizado, não vai vingar e a maioria dos motoboys vai desanimar mesmo".

Prefeitura apreende 18 motos em 3º dia de atuação

As 18 apreensões na sexta-feira (17) ocorreram nas zonas norte, sul e leste, segundo a prefeitura. Houve apreensões de motos que começaram o trajeto em outras cidades com destino à capital. Na quarta (15) e na quinta (16), foram apreendidas outras 23 motocicletas, totalizando 41 apreensões em três dias.

A gestão municipal ainda divulgou que, em um dos casos, o serviço era prestado mesmo com o motociclista carregando mochila de entrega e com a moto equipada com um pequeno baú. "Para estabelecer a proibição desse tipo de transporte na capital, a Prefeitura se baseou em dados concretos sobre o aumento de sinistros, mortes e lesões com o uso de motocicletas na cidade", concluiu.

99 diz que apoiará trabalhadores que tiveram motos apreendidas

Plataforma afirmou que vai pagar todos os custos associados ao que classificou como "apreensões ilegais" durante blitze em todo o Estado. Em nota, a 99 apontou que os motociclistas parceiros que já acionaram a plataforma recebem prioridade e que os passageiros afetados serão ressarcidos.

Continua após a publicidade

Motociclistas afetados devem entrar em contato com a empresa pelo aplicativo. É necessário clicar em "Central de Ajuda" e selecionar a opção "Recebi uma apreensão enquanto dirigia". É necessário enviar cópia da multa, informações bancárias completas, termo de acordo assinado, e documento social com foto (CNH ou RG). Após análise, a plataforma fará o reembolso do valor em até cinco dias úteis.

Passageiros lesados também podem acionar a 99. Os clientes devem acessar a opção "Ajuda" no aplicativo e selecionar "O motorista me deixou no lugar errado". Depois do acionamento, a empresa fará o envio de um cupom com o valor da corrida solicitada.

Empresa diz que nas 48 horas iniciais do serviço houve 50 mil viagens na capital. No primeiro dia, o número foi de 10 mil corridas. Nos dois dias, ainda segundo a plataforma, não houve registro de acidente.

A 99 seguirá defendendo a legalidade da categoria e os direitos tanto da empresa quanto de seus usuários.
Empresa, em nota

Ouvida por Tilt, a autônoma Nathália Silva, 24, disse usar o serviço na região metropolitana e mal espera a primeira oportunidade para solicitar uma corrida para a capital. A passageira afirma que é atraída pelo custo-benefício e a diminuição do tempo de deslocamento. "É muito exaustivo você ter que ficar sempre acordando duas, três horas antes para conseguir chegar no lugar no horário porque a locomoção da região do ABC para São Paulo é muito difícil."

*Nomes fictícios

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.