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Artemis x Apollo: conheça as diferenças entre as missões da Nasa para a Lua

Gene Cernan, astronauta da Apollo 17 e último homem na Lua, em dezembro de 1972 - Nasa
Gene Cernan, astronauta da Apollo 17 e último homem na Lua, em dezembro de 1972 Imagem: Nasa

Marcella Duarte

De Tilt, em São Paulo

18/12/2022 04h00

A última vez que humanos pisaram em solo lunar foi em 1972, na missão Apollo 17. Exatos 50 anos depois, a Nasa conseguiu um avanço importante para repetir o tão sonhado retorno à Lua na missão Artemis 1: cuja cápsula Orion retornou do espaço no último domingo (11), após uma bem-sucedida viagem de teste.

Nestas cinco décadas, as tecnologias espaciais evoluíram muito, mas algumas coisas seguem praticamente do mesmo jeito. Vejas as diferenças e semelhanças, nos foguetes e outros sistemas, entre os históricos programas Apollo e Artemis.

Objetivos: vencer a Rússia x explorar Marte

A principal meta do programa Apollo era "vencer" a corrida espacial, durante a Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a hegemonia mundial. E conseguiu: os soviéticos orbitaram e pousaram primeiro na Lua, mas os norte-americanos são os únicos que caminharam em nosso satélite até hoje.

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Cápsula Orion, com a Terra "minguante" ao fundo, durante missão Artemis 1
Imagem: Nasa

E a Artemis quer mais: pisar na Lua novamente é apenas uma primeira etapa para se estabelecer uma presença humana permanente por lá, com uma base lunar e uma estação em órbita.

O objetivo é que toda essa estrutura servirá para, futuramente, chegarmos ainda mais longe — em especial, a Marte —, explorando as profundezas do Sistema Solar.

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Modernos paineis solares da nave Orion
Imagem: Nasa

Nave: astronautas irão mais longe agora

Ambas são pequenas e compostas, basicamente, por duas partes:

  • módulo de comando: chamamos de cápsula, onde ficam os astronautas.
  • módulo de serviço: fornece propulsão, eletricidade e ar.

A Apollo também tinha um módulo lunar acoplado, para pouso na Lua — a Artemis futuramente fará isso de uma maneira diferente.

A nave Orion — que nas próximas viagens será ocupada por astronautas — obviamente tem muito mais tecnologias que a Apollo, permitindo missões de maior alcance, duração e complexidade, com mais segurança para os tripulantes.

Uma das similaridades entre as duas é o processo de reentrada a mais de 40.000 km/h na Terra e sequência de paraquedas para pouso no mar (amerissagem), incluindo a altitude e tempo de implantação de cada um.

Principais diferenças:

  • O módulo de comando da Apollo pesava cerca de 5.400 kg; o da Orion pesa aproximadamente 10.400 kg. É apenas essa parte que retorna à Terra; o resto vira lixo espacial.
  • Enquanto na missão há 50 anos era possível enviar três tripulantes por até 14 dias na nave, a Orion consegue abrigar quatro astronautas por até 21 dias no espaço.
  • Por ser maior, a nova cápsula da Nasa requer paraquedas maiores.

Mais vantagens da Orion:

  • Computadores de voo, softwares, materiais de composição, incluindo peças impressas em 3D, as matrizes solares e o escudo térmico são mais avançados
  • Será capaz de levar seres humanos bem mais longe do que já foram no espaço.
  • Há 50% mais espaço habitável, podendo carregar mais instrumentos, suprimentos e pessoas com conforto.
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Módulo de serviço e de comando da nave Apollo, orbitando a Lua
Imagem: Nasa

Foguete mais poderoso já feito pela Nasa

A diferença entre eles é, basicamente, a força e a maneira de serem impulsionados para o espaço. Como curiosidade, ambos foram lançados da icônica plataforma 38B, do Centro Espacial Kennedy, na Flórida (EUA).

Lado a lado, o foguete Saturn 5, do programa Apollo, é pouco mais "alto" que o SLS (Sistema de Lançamento Espacial), de Artemis: 110 metros e 98 metros, respectivamente. Mas tamanho não é documento; o SLS é o foguete mais poderoso já produzido pela Nasa.

Foguetes Saturn 5 e SLS - Nasa - Nasa
Foguetes Saturn 5 (esquerda) e SLS (direita)
Imagem: Nasa

Também dá para ver que a construção deles é diferente. Cerca de 75% do impulso na decolagem do SLS vem de dois propulsores sólidos (solid rocket boosters, ou SRBs) — aqueles "mini foguetes", um de cada lado do estágio principal.

Junto com os 4 motores RS-25, abastecidos com hidrogênio e oxigênio líquidos, são produzidos mais de 4 milhões de quilos de empuxo para sair da Terra.

Após dois minutos de subida, os boosters caem de volta à Terra (são recuperados e podem ser reutilizados).

Já o Saturn 5 da missão antiga tinha um corpo único, sem SRBs — estes só foram desenvolvidos mais tarde, na década de 1970, para o projeto do ônibus espacial (inclusive, os do SLS são adaptados dele). O foguete operava com 5 motores F-1, movidos a querosene, em seu estágio principal, produzindo cerca de 3,5 milhões de quilos de empuxo na decolagem.

Ou seja, o SLS produz cerca de 15% mais empuxo que o Saturn 5, se tornando o foguete mais poderoso do mundo a voar até hoje — em breve, pode ser superado pela Starship, que está sendo desenvolvida pela Space X.

Muitas missões "de teste"

Os dois programas são complexos, envolvendo uma série de missões, durante anos. Falamos muito da Apollo 11, que colocou o homem na Lua pela primeira vez, e da Apollo 17, a última, mas um total de 14 missões (da 4 a 17) foram ao espaço, entre 1961 e 1972.

A tragédia da Apollo 1, que pegou fogo em solo, matando três astronautas, fez a Nasa ter muito mais cautela.

A primeira a ser lançada, Apollo 4, é comparável com a Artemis 1: um voo sem astronautas a bordo, para testar os sistemas de comunicação, navegação e orientação.

A diferença é que a Apollo 4 apenas orbitou a Terra, durante 8 horas, chegando a pouco mais de 18 mil quilômetros de distância; a Artemis 1 foi um teste bem mais extremo: ficou 43 dias no espaço, indo mais longe do que qualquer nave feita para levar humanos, a 434 mil quilômetros do nosso planeta.

O futuro da Artemis 2

A Artemis 2, prevista para o ano que vem, será um pouco mais tranquila: uma viagem de dez dias, dando uma volta até o lado oculto da Lua, a cerca de 400 mil quilômetros da Terra (o mais distante no espaço profundo que qualquer ser humano já foi).

Sim, haverá quatro astronautas a bordo. Comparável com as missões Apollo 7 e 8 (a 9 e 10 também foram parecidas, mas focadas em testar o módulo de pouso lunar).

Em 2025, finalmente, o objetivo é "alunissar" (aterrissar na Lua) e desembarcar dois astronautas no polo Sul, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante o programa Apollo, com algumas áreas sempre iluminadas e outras sob sombras eternas, onde espera-se encontrar gelo.

Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já pousou lá. Essa é a Artemis 3 — a "nova" Apollo 11, levando o 13º e o 14º ser humano a pisar em nosso satélite, se tudo correr como planejado.

Coincidência ou não, o retorno da Artemis 1 aconteceu exatamente 50 anos após a última vez que o homem pisou na Lua: em 11 de dezembro de 1972, os astronautas da missão Apollo 17, Eugene Cernan and Harrison Schmitt, se tornaram os últimos seres humanos a caminharem por lá.

Os planos da Nasa

Se bem-sucedido e com verbas, o programa Artemis vai fazer mais que a Apollo: instalar o "Lunar Gateway", que orbitaria nosso satélite e serviria de ponto de apoio para missões (como uma Estação Espacial em miniatura), e estabelecer uma base permanentemente habitada no satélite.

Outra grande diferença é que ele será mais inclusivo, enviando a primeira astronauta mulher e o primeiro homem negro à Lua — na Apollo só foram homens brancos.