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Por que achamos os cachorros tão fofos? A ciência e a genética explicam

Cachorro deitado no chão, sozinho em casa - Chiper Catalin/Pexels
Cachorro deitado no chão, sozinho em casa Imagem: Chiper Catalin/Pexels

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

24/04/2022 04h00Atualizada em 24/04/2022 16h57

Não tem como negar que o olhar "pidão" de um cachorrinho é capaz de amolecer o coração de qualquer dono. Mas por que as feições desses bichinhos mexem tanto com os seres humanos? Um estudo da Universidade Duquesne, nos Estados Unidos, revela características anatômicas presentes nos cachorros que podem explicar essa ligação entre as duas espécies.

No estudo, os pesquisadores relatam terem descoberto que os músculos da "sobrancelha" que contorcem os rostos caninos em expressões tão fofas não estão presentes em lobos, seu parente mais próximo. Isso faz os pesquisadores acreditarem que essa musculatura surgiu nos cachorros depois que eles foram domesticados pelos humanos.

"O movimento interno da sobrancelha levantada em cães é impulsionado por um músculo que não existe consistentemente em seu parente vivo mais próximo, o lobo", disse a anatomista da Universidade de Duquesne Anne Burrows.

"Esse movimento faz os olhos de um cachorro parecerem maiores, dando-lhes uma aparência infantil. Eles também podem imitar o movimento facial que os humanos fazem quando estão tristes", acrescentou a psicóloga evolucionista Bridget Waller, da Universidade de Portsmouth, Reino Unido.

Mas, ainda segundo o estudo, essa mudança na "expressão" não foi algo superficial e pode ser explicada pela genética. Os cães não possuem apenas musculatura diferente da dos lobos, mas até as estruturas desses músculos também são diferentes. A composição interna da musculatura facial do cão mudou e ficou bastante semelhante à dos seres humanos.

As amostras do músculo ao redor da boca (orbicularis oris) mostram que cães e humanos têm mais fibras musculares de contração rápida em relação às fibras de contração lenta, enquanto os lobos possuem mais fibras de contração lenta.

As rápidas são perfeitas para reações imediatas, como levantar sobrancelhas ou latir, mas se cansam mais rapidamente. As lentas mantêm movimentos por mais tempo, como os necessários para o uivo de um lobo, por exemplo.

"Ao longo do processo de domesticação, os humanos podem ter criado cães seletivamente com base em expressões faciais semelhantes às suas, e com o tempo os músculos dos cães podem ter evoluído para se tornarem 'mais rápidos', beneficiando ainda mais a comunicação entre cães e humanos", disse Burrows.

40 mil anos de evolução

Quando o vínculo dos seres humanos com esses animais começou, há cerca de 40 mil anos atrás, a comunicação rápida entre espécies forneceu uma vantagem de sobrevivência contra predadores mútuos.

"Os cães são os únicos entre os mamíferos em seu vínculo recíproco com humanos, o que pode ser demonstrado através do olhar mútuo, algo que não observamos entre humanos e outros mamíferos domesticados, como, por exemplo, os cavalos ou gatos", acrescentou Burrows.

A longa história entre homem e cães criou uma parceria diferente de qualquer outra, que se desenvolveu e prosperou por milênios de mudanças. Ao longo desse tempo, os cães também influenciaram na evolução humana.

Já é comprovado que os seres humanos são atraídos por uma aparência facial infantil - um conjunto de características infantis conhecidas como 'esquema do bebê'. Essas características incluem uma cabeça grande em comparação com o tamanho do corpo, olhos grandes e nariz pequeno - características compartilhadas por muitos filhotes, incluindo os cães e os nossos.

O cérebro humano revela que os rostos de bebês (independentemente da relação de parentesco) atingem diretamente a neurofisiologia e ativam nosso comportamento de cuidado e proteção. Dados de abrigos de animais sugerem que isso também se aplica a cães: aqueles que têm características faciais com esquema de bebê aprimorado têm mais chances de serem adotados primeiro.

Os resultados preliminares da estrutura muscular foram apresentados na reunião anual da Associação Americana de Anatomia.