Topo

Por que balas tipo Halls preto dão sensação de frescor? A ciência explica

Getty Images/iStock
Imagem: Getty Images/iStock

Aurélio Araújo

Colaboração com Tilt, de São Paulo

13/04/2022 19h27

Você já se perguntou por que balas de menta —tipo o famoso halls preto— causam uma sensação de frescor na boca, fazendo com que a língua pareça mais gelada, mesmo na temperatura ambiente? A resposta está na ciência.

O frescor da bala ocorre por meio de uma substância química chamada "mentol", composto orgânico obtido em plantas como a menta e a hortelã, segundo informações do site Mundo Educação.

Nosso sentido do paladar, sozinho, não é capaz de gerar essa sensação "geladinha". Por isso, a bala causa esse efeito diferente.

A menta e a hortelã fazem parte da mesma família, cujo nome científico é Lamiaceae. Porém, é bom lembrar que não são a mesma coisa.

A planta que conhecemos como menta é a Mentha spicata, comumente usada para temperos, sendo mais suave. Já a hortelã é a Mentha piperita, que tem um sabor mais forte e ardido, presente em pastas de dente e chicletes.

Sabor geladinho

Essa sensação de frescor é, na verdade, um truque gerado pelo mentol. Ele afeta o sistema de receptores sensoriais que temos para monitorar fatores como toque, temperatura e dor, o chamado sistema somatossensorial.

Trata-se de uma complexa rede de neurônios, diferentes dos sistemas que são responsáveis pelo nosso paladar e pelo olfato.

Nós possuímos neurônios que podem sentir, por exemplo, se faz frio ou calor. Eles monitoram o ambiente usando proteínas especializadas, presentes nas membranas celulares. Essas proteínas controlam canais que podem permitir que a matéria passe pela membrana celular, mas esses canais ficam fechados até que a proteína receptora detecte o estímulo que está procurando.

Então, quando elas sentem frio ou calor, as proteínas envolvidas permitem a passagem da matéria pela membrana. O processo ativa um sinal elétrico enviado para o cérebro, como uma mensagem que diz "receptores de frio da língua foram ativados".

Chave falsa e estímulo sexual

Usando uma metáfora mais simples, é como se o receptor de frio da língua fosse uma fechadura que só se abrisse com uma chave: coisas geladas. Mas o mentol tem uma espécie de "chave falsa", que faz com que a fechadura se abra e o cérebro interprete isso como uma sensação gelada na boca.

Sua língua não está gelada de verdade. Se dúvida, basta chupar uma bala de menta para ver que ela permanece na mesma temperatura.

"A principal razão pela qual temos tanta sensibilidade na boca, nos olhos e no nariz diante de pimenta e mentol é porque as terminações nervosas estão muito próximas da superfície", explica o químico Paul Wise, do Centro Monell de Sentidos Químicos, instituição sediada nos Estados Unidos, em entrevista ao site LiveScience.

Justamente pela sensibilidade elevada, muitas pessoas utilizam balas como o Halls preto para o sexo oral, por exemplo.

No entanto, é importante alertar que as balas não são desenvolvidas para isso, e podem sim causar reações inesperadas ao entrar em contato com órgãos como o pênis e a vagina, tais como irritações e incômodos.

Vantagem evolutiva do mentol

Uma das hipóteses para a existência do mentol tem a ver com a evolução das espécies: cientistas acreditam que os ancestrais das plantas do tipo desenvolveram suas características para a sobrevivência das espécies.

É o que afirma o químico Paul Wise, do Centro Monell de Sentidos Químicos, instituição sediada nos Estados Unidos. Em entrevista ao site LiveScience, ele explica que "as plantas provavelmente desenvolveram compostos para utilizar como mecanismo de defesa e, pela seleção natural, elas entenderam que alguns deles funcionavam".

Dentro dessa linha de raciocínio: as plantas que produziam compostos que causavam frescor tinham menos chance de atrair predadores, porque eles estranhavam a sensação e as evitavam. Assim, elas conseguiam se reproduzir, espalhar as suas sementes de forma mais eficaz e prolongar a vida da sua espécie.