Topo

Print de soldados russos e reconhecimento facial: como site ajuda na guerra

iStock
Imagem: iStock

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt, do Rio de Janeiro

11/03/2022 16h53

O reconhecimento facial por meio de fotos tem virado uma arma na "guerra virtual" entre Rússia e Ucrânia. Grupos online de "detetives amadores" estão usando a tecnologia para identificar e rastrear soldados russos.

O presidente-executivo de uma empresa chamada Tactical Systems, identificado apenas pelas iniciais YC, afirmou em uma reportagem do site Wired que é um deles.

Ao tirar um print de tela com o rosto de um soldado russo barbudo, que apareceu em um vídeo publicado pelo líder da Chechênia, Ramzan Kadyrov, ele iniciou a investigação online utilizando o site FindClone.

Essa plataforma permite fazer reconhecimento facial gratuitamente, basta fazer o upload de uma imagem.

Segundo o site Wired, em cerca de uma hora, ele chegou ao resultado.

O FindClone identificou supostamente o mesmo soldado em uma foto apertando a mão de Kadyrov. O homem barbudo da investigação seria Hussein Mezhidov, um comandante checheno envolvido em um dos ataques da Rússia à Ucrânia. Até a conta no Instagram do soldado foi possível encontrar.

Em uma tentativa de confirmar a identidade de Mezhidov, foi utilizado ainda um serviço de comparação facial da Microsoft, abertamente acessível. O software indicou que as fotos seriam da mesma pessoa.

"Quanto mais esses indivíduos são identificados publicamente e sabem que a comunidade está seguindo seus movimentos, menor a chance de cometer crimes de guerra", contou o YC à Wired.

E ele não está sozinho. Recentemente, o grupo jornalismo investigativo independente Bellingcat recorreu ao serviço de verificação de rostos da Microsoft. Foi possível observar que a foto do rosto enfaixado de um suposto piloto russo que teria sido abatido na Ucrânia recentemente era, na verdade, o de um piloto que tirou uma foto com Vladimir Putin em 2017 na Síria.

Os algoritmos da Microsoft obtiveram uma pontuação baixa e disseram que os rostos não eram os mesmos.

Um grupo de inteligência ucraniano chamado InformNapalm entrou em contato com a Wired e confirmou também ter usado plataformas de reconhecimento facial para identificar soldados em fotos.

Testando o FindClone

A Wired fez um teste na plataforma com a foto de um homem que um conselheiro do governo ucraniano alegou ser um soldado russo capturado. O resultado chegou em menos de cinco minutos, trazendo até o perfil do sujeito nas redes sociais.

Tilt também testou a plataforma FindClone. Para começar, o site pede um número de telefone celular para fazer o cadastro —pode ser aqui do Brasil mesmo.

A pessoa recebe uma ligação de um número russo e precisa adicionar os cinco últimos dígitos como código de confirmação de cadastro. Por fim, é preciso criar uma senha de acesso.

FindClone - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Depois, basta fazer o upload da foto com o rosto da pessoa que deseja descobrir mais informações. É possível fazer a pesquisa em seis tentativas gratuitamente.

Os resultados mostram o cruzamento da identificação facial em fotos publicadas e de perfis no VKontakte — uma popular rede social russa.

FindClone - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Usamos fotos divulgadas na conta oficial do Ministério da Defesa da Ucrânia no Twitter, num post que mostra soldados russos capturados pelo 93.º Batalhão Mecanizado da Ucrânia.

FindClone - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Demorou menos de dez segundos para o FindClone exibir o resultado com o nome da pessoa — que coincide com o nome publicado pelo Ministério de Defesa — e o link do perfil da rede social no VKontakte, que estava com status bloqueado.

FindClone - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Porém, tecnologias erram

O que acontece quando ocorre uma identificação errada? Famílias e amigos podem ser expostos por um erro de algoritmo. E, segundo a Wired, essas falhas são mais comuns em fotos sem uma visão clara do rosto da pessoa, que acontece muito nos registros de conflitos.

As preocupações de Jameson Spivack, um associado do Centro de Privacidade e Tecnologia de Georgetown, são voltadas para o uso da tecnologia pelo governo, principalmente em momentos de conflitos.

Spivack aponta que o reconhecimento facial não funciona de forma confiável em imagens que não capturam as pessoas de frente, com o rosto exibido de forma não nítida. E isso traz uma limitação para os investigadores da polícia, principalmente em imagens capturadas em câmeras ou registros de guerra.

Além disso, não se sabe como o banco de dados do FindClone foi feito. Se a base de rostos usados para a comparação do algoritmo tiver mais informações de pessoas brancas, por exemplo, a tecnologia será ainda mais imprecisa com rostos diferentes do que ela conhece.