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Por que guerra entre Rússia e Ucrânia vai piorar crise no mercado de chips

Barbara Mannara

Colaboração para Tilt*, do Rio de Janeiro

25/02/2022 12h44

Os impactos da invasão da Rússia na Ucrânia, que teve início na madrugada do dia 24 e já deixou mais de 100 mortos, também podem chegar ao mercado de chips, setor que foi muito afetado pela pandemia de covid-19.

Até o início da guerra na Ucrânia, diversos componentes utilizados em eletrônicos como notebooks, celulares e até televisores já viviam uma crise intensificada de distribuição por problemas de exportação nos meses de distanciamento social. Esse problema elevou preços de celulares, videogames, televisores, eletrodomésticos, carros, entre outros.

Previsões estimavam que o cenário melhoraria a partir da segunda metade de 2022. Porém, agora o panorama agora é outro.

A crise na área de semicondutores pode se agravar porque a Ucrânia é uma das grandes produtoras de gás néon, fundamental para a fabricação de chips.

Já a Rússia é um exportador de paládio. Cerca de 35% do metal raro, utilizado em componentes de memória e sensores, vem do país.

De acordo com a Techcet, empresa de pesquisa de mercado, a Ucrânia fornece mais de 90% do neônio de grau semicondutor para os Estados Unidos. O gás envolve exatamente os dois países em conflito, já que é um subproduto da siderurgia russa mas é purificado na Ucrânia.

O agravamento da crise dos chips pode atingir grandes marcas como a Intel, que utiliza 50% do gás néon proveniente da Europa Oriental, segundo a empresa de serviços financeiros JPMorgan.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

O mercado de chips já não estava bem de saúde. No início de fevereiro deste ano foi divulgado que 15% dos fabricantes de produtos eletrônicos tiveram que interromper parte da produção. Isso aconteceu por conta da escassez mundial dos chips e falta de componentes de produção. Os dados são da Abinee, a associação que representa o setor.

Para ter uma ideia, cerca de 73%, ou seja, sete em cada dez fábricas de aparelhos eletroeletrônicos que utilizam semicondutores na produção, têm dificuldade para encontrá-los no mercado.

Produção em cenário de conflito

Em meio ao conflito entre Rússia e Ucrânia, o posicionamento de algumas fabricantes de semicondutores tem sido aguardar enquanto avaliam a crise. Isso porque muitas empresas já vinham diversificando a origem dos insumos de fabricação, segundo reportagem da agência de notícias Reuters.

Em nota, a Intel disse na quarta-feira que ainda não previa nenhum impacto, mesmo após a notícia do conflito, ainda segundo reportagem da Reuters.

Já a ASE Technology, empresa taiuanesa de testes e empacotamento de chips, afirmou que seu fornecimento de material permanece estável "neste momento".

A SK Hynix, fabricante de chips de memória sul-coreana, também se posicionou, por meio do seu presidente-executivo, Lee Seok-hee. A afirmação é de que "não é preciso se preocupar" já que a empresa garantiu ter um grande volume de matéria-prima para produção de chips.

Já o panorama da empresa japonesa Ibiden é um pouco mais crítico. A companhia produz substratos de embalagens para chips.

Apesar de afirmar ter insumos suficientes para produção, o fornecimento de gás néon proveniente da Rússia e Ucrânia pode ser um problema: "estamos um pouco preocupados", declarou por meio de um porta-voz.

E a Apple? A fabricante de chips malaia Unisem, que em sua cartela de clientes incluiu a empresa da maçã, declarou que não espera nenhum impacto na produção de chips. Isso porque a matéria-prima de produção não vem da Rússia. Além disso, o maquinário é proveniente principalmente dos Estados Unidos, Japão, Coreia, Cingapura e localmente.

Já a ASML, que fornece máquinas para fabricantes de semicondutores, utiliza uma parcela menor do que 20% de gases de origem Russa ou Ucraniana. A saída vai ser expandir os mercados e recorrer à China, Estados Unidos e Canadá para aumentar sua oferta, conforme os dados de JPMorgan.

Não é a primeira crise

Em 2014, o mercado de chips sofreu um baque similar. Na época, foi aprovado o envio de tropas Russas à Crimeia, até então território Ucraniano, por pedido do presidente Vladimir Putin. A tensão teve início com a derrubada do presidente ucraniano Viktor Yanukovich por meio de protestos.

Aproveitando a "fragilidade" governamental, foi proposto internamente entre os habitantes um referendo pró anexação à Rússia. Putin chegou a declarar que a Crimeia "sempre foi e sempre será parte da Rússia" — reconhecendo a soberania frente ao território.

Toda essa tensão gerou um aumento nos preços do gás néon, o mesmo utilizado na fabricação de componentes eletrônicos, que retorna como uma preocupação na crise Rússia-Ucrânia. No entanto, na época, a indústria da fabricação de chips conseguiu administrar a crise e retomar a produção.

Conflito entre Rússia e Ucrânia

Ontem (24), a Rússia invadiu o território ucraniano e atacou instalações militares por todo o país. Nesta sexta-feira, as tropas russas entraram em Kiev, a capital da Ucrânia, por volta das 13h50 (horário local) no segundo dia da ofensiva russa.

Na madrugada, um foguete disparado pela Rússia atingiu um prédio de Kiev, deixando três feridos. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acusou a Rússia de atacar áreas residenciais de Kiev, o que autoridades russas negam.

No primeiro dia do conflito armado, um bombardeio durante a madrugada na cidade de Chuhuiv, a 530 quilômetros de Kiev, deixou pelo menos um morto. A vítima é uma criança que estava em um prédio de cinco andares atingido durante o ataque, ainda que a Rússia houvesse dito que não haveria ataques a civis ucranianos.

Nessa mesma cidade, um complexo de apartamentos foi alvo de um ataque aéreo durante a ofensiva russa ao país vizinho e deixou idosas feridas. Uma das imagens, com uma mulher ensanguentada, se tornou uma das mais marcantes registradas neste início de invasão.

Em resposta ao número de vítimas, a ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou estar "gravemente preocupada" e que está recebendo relatos crescentes civis afetados pela guerra

"Os civis estão aterrorizados com uma nova escalada, com muitos tentando fugir de suas casas e outros se abrigando onde possível", disse a porta-voz da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani. Ela acrescentou que "a ação militar da Federação Russa viola o direito internacional" e "coloca em risco inúmeras vidas e deve ser imediatamente interrompido."

*Com matérias do UOL Notícias.