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De drones a SMS: tecnologias que ajudam em tragédias como a de Petrópolis

Vinícius de Oliveira*

Colaboração para Tilt, em São Paulo

19/02/2022 04h00

Sem tempo, irmão

  • Mais de 500 militares trabalham no resgate às vítimas da tragédia em Petrópolis (RJ)
  • Equipes usam drones, imagens via satélite, refletores e headlamps
  • Tecnologia ajuda em buscas, mapeamento, resgates e na limpeza das ruas

Em tragédias como a que ocorreu nesta semana em Petrópolis (RJ), a tecnologia pode ser uma aliada importante no trabalho das equipes de resgate e de prevenção de danos. As inovações vão desde o maquinário pesado para desobstrução de vias até o uso de drones e imagens via satélite para monitorar a situação, mapeando áreas sob risco de novos deslizamentos.

De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, mais de 500 militares estão trabalhando no atendimento à população. As equipes especializadas em resgate em desabamentos contam com cães farejadores, drones, imagens via satélite, unidade rebocável de iluminação, refletores, headlamp (capacetes com iluminação) e lanternas comuns.

O órgão não detalhou como os drones estão sendo usados em Petrópolis, mas, em geral, eles ajudam no monitoramento das regiões afetadas com imagens aéreas.

O papel dos drones

O especialista em robótica educacional José Pacheco Almeida Prado, coordenador de ciência da computação da Faculdade Impacta, acrescenta que alguns tipos de drones podem levar carga útil, como maletas de primeiros socorros e suprimentos sem riscos para as pessoas.

"Os drones podem levar boias para quem está se afogando, levar suprimentos para áreas isoladas e também fazer um avistamento aéreo mais rápido que um helicóptero", destaca.

Com isso, é possível entender em pouco tempo quais são as áreas de risco e a magnitude do desastre. "Dá para saber onde estão as vítimas, as regiões onde são mais promissoras para busca de sobreviventes", completa.

A DJI, uma das principais fabricantes de drones do mundo, criou um site em que pessoas podem publicar relatos da tecnologia sendo usada no resgate e salvamento de vidas. De acordo com a plataforma, drones já foram usados em pelo menos 479 acidentes e salvaram 821 pessoas.

E os satélites?

Os satélites podem ser utilizados para identificar o rastro da lama deixada após os temporais. Foi o que mostrou as imagens divulgadas pelo MapBiomas, projeto que estuda as transformações do solo no Brasil.

Em entrevista a Tilt, Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, explicou que, diante do impacto das chuvas em Petrópolis, a empresa SCCON, que oferece serviços e dados geoespaciais, foi acionada para posicionar um satélite exclusivamente sobre a região.

As imagens foram feitas a partir do Skysat, da multinacional Planet, dona da maior constelação de satélites em atividade.

Os satélites também podem ser utilizados para monitoramento contínuo de territórios. Contudo, essa tecnologia enfrenta um obstáculo de difícil solução: as nuvens. Isto porque eles fazem uma rota que passa pelos mesmos locais em um horário específico do dia. Se o dia estiver nublado, fica impossível fazer qualquer observação.

Enxergando no escuro

Em situações de resgate, as primeiras 72 horas são fundamentais para retirar pessoas com vida debaixo dos soterramentos e escombros. Por isso, as equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros trabalham mesmo durante à noite.

Para garantir a visibilidade em locais com pouca ou nenhuma iluminação, as equipes contam com refletores similares aos utilizados em estádios, além de lanternas comuns e lanternas de cabeça, as headlamps, que permitem que os socorristas trabalhem com as mãos livres, iluminando a área à sua frente.

Um dos modelos mais populares é da marca Petzl. Pesando apenas 100 gramas, ela consegue iluminar até 65 metros à frente. A bateria recarregável dura até 12 horas e o feixe de luz tem uma intensidade de 220 lúmens —unidade de medida internacional que calcula o brilho de uma fonte luminosa.

Já a marca Ledlenser oferece um modelo mais potente. Pesando 177 gramas, a lanterna de cabeça Mh11 tem um feixe de luz de até 320 metros, com 1.000 lúmens de potência. A bateria dura até 100 horas e é recarregável.

Gerador de energia

Quando necessário, equipes de resgate contam ainda com unidades rebocáveis de iluminação. Trata-se de um equipamento composto por motor, gerador de energia, cabine, painel de comando e controle, sistema de estabilização, torre de iluminação, projetores, lâmpadas e tomadas externas. Apesar de ser transportável, é uma máquina bem pesada, com aproximadamente 1 tonelada.

As unidades rebocáveis servem para iluminar as áreas de atendimento do Corpo de Bombeiros, durante atendimento de ocorrências, e são transportáveis. Em edital publicado pela corporação para aquisição, esse tipo de equipamento tem que ter no mínimo 8,5 metros de altura, proporcionando iluminação de longas distâncias, e ter autonomia de pelo menos 65 horas por tanque de combustível.

Desobstrução de ruas

Além do equipamento usado para resgate, os socorristas usam maquinário pesado para limpeza e desobstrução de vias.

De acordo com a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Obra do Rio de Janeiro, a operação em Petrópolis conta com apoio de 37 picapes, 39 retroescavadeiras, 20 caminhões-pipa, cinco escavadeiras hidráulicas, oito bobcats (mini escavadeiras), três caminhões-guindastes, três caminhões-pranchas, duas vans, 41 caminhões basculantes e nove vac-all (equipamento usado na limpeza de resíduos secos).

Monitoramento e alerta

O Cemaden (Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais) do Rio de Janeiro continua acompanhando as condições meteorológicas por meio dos índices pluviométricos em todo o território fluminense.

Órgãos como ele, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e, no caso do Rio de Janeiro, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), possuem estações de monitoramento de clima espalhadas pelo território brasileiro. Elas operam instrumentos capazes de prever e acompanhar em tempo real os fenômenos naturais, como chuvas, ventos e outras mudanças climáticas.

Um dos caminhos para monitorar as chuvas é a utilização do pluviômetro, um equipamento bem simples capaz de captar a água da chuva. Geralmente, eles ficam a 1,5 metro do solo e têm cerca de 500 cm².

Quando os pluviômetros indicam índices muito altos de chuvas nas últimas horas, ou no acumulado dos últimos dias, o órgão envia alerta para as regiões de maior risco, alertando para a possibilidade de deslizamentos ou inundações.

Já a Defesa Civil envia gratuitamente por celular alertas de riscos de chuvas fortes, tempestades de raios, ventanias, deslizamentos e inundações. O serviço também serve como forma de prevenção a tragédias e conta com mais de 1,6 milhão de inscritos no Rio de Janeiro. Para se cadastrar, basta mandar um SMS com o CEP da sua região para o número 40199.

O sistema foi usado nessa sexta-feira, 18, para avisar sobre a previsão de chuva moderada na área que abrange o Morro dos Ferroviários, o Morro da Oficina, a comunidade 24 de Maio e os bairros Vila Felipe, Chácara Flora, Sargento Boening e São Sebastião, em Petrópolis. Também foram utilizadas sirenes para alertar a população.

*Com informações de Felipe Mendes e Marcella Duarte, em colaboração para Tilt.