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Chefe do Instagram diz que o app não vicia, mas fez vista grossa com jovens

Adam Mosseri, presidente do Instagram, em depoimento ao Senado dos EUA - ELIZABETH FRANTZ/REUTERS
Adam Mosseri, presidente do Instagram, em depoimento ao Senado dos EUA Imagem: ELIZABETH FRANTZ/REUTERS

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

08/12/2021 19h22

Para Adam Mosseri, presidente do Instagram, o aplicativo não é "viciante", ao contrário do que apontam estudos internos da empresa vazados nos últimos meses (o caso ficou conhecido como Facebook Papers). Mas o executivo admite, ao menos uma vez, ter feito "vista grossa" à presença de jovens com menos de 12 anos na rede social, o que é proibido pelas regras da plataforma.

As afirmações foram ditas por Mosseri hoje (8) durante depoimento ao Subcomitê de Proteção ao Consumidor, Segurança de Produto e Segurança de Dados, espécie de "CPI das big techs" mantida pela Comissão de Comércio, Ciência e Transportes do Senado dos Estados Unidos.

Os senadores questionaram o executivo sobre as revelações recentes do Facebook Papers de que a Meta, dona da rede social, sabia de estudos internos que mostravam que a plataforma era considerada tóxica por adolescentes.

Ao ser confrontado pela afirmação do senador Richard Blumenthal de que "o Instagram é viciante", Mosseri rebateu: "com todo o respeito, não acredito que estudos indiquem que nossos produtos são viciantes".

"Estudos na verdade mostram que em 11 de 12 condições difíceis que adolescentes enfrentam, eles dizem que o Instagram os ajuda", completou o executivo, em referência a outros dados do mesmo estudo, vazado em setembro —a única condição em que a rede social não ajuda, no caso, é em relação à autoimagem de jovens, segundo o mesmo levantamento.

Em seguida, o presidente da rede social defendeu a iniciativa da Meta de desenvolver uma versão do aplicativo só para crianças com até 12 anos. "Sabemos que crianças de 10 a 12 anos estão online, elas querem usar plataformas como o Instagram e é difícil para empresas como a nossa verificar a idade de pessoas tão novas que nem têm documentos", argumentou Mosseri.

Segundo o executivo, o objetivo do projeto suspenso do "Instagram Kids" era de que até mesmo a versão infantil do Instagram fosse liberada apenas para crianças que tivessem o consentimento dos pais.

'Vista grossa'

Mosseri também ignorou a crítica da senadora Amy Klobuchar de que, entre as opções de controle parental anunciadas para o Instagram que começarão a funcionar em 2022, há a permissão de que crianças usem o app por até 3 horas ao dia.

"Você acha que 3 horas por dia é um tempo apropriado para que crianças fiquem no Instagram?", questionou Klobuchar.

"Os pais sabem o que é melhor para os seus filhos, então o tempo apropriado é uma decisão deles", respondeu Mosseri, sem explicar por que o tempo máximo de limite não é menor.

O executivo também disse que o Instagram já toma atitudes para detectar e proteger contas de crianças no Instagram, e que, por padrão, agora todos os perfis de adolescentes são configurados como privados —ou seja, seguidores precisam ser aprovados pelo dono da conta antes de ver os posts.

Mesmo assim, a senadora republicana Marsha Blackburn afirmou que, num experimento de sua equipe, conseguiu criar um perfil público de uma adolescente pelo site do Instagram acessível pelo computador. Mosseri admitiu que a função de tornar todos os perfis de jovens privados por padrão está disponível só para celular, mas disse que "em breve" será expandido aos PCs.

A mesma senadora questionou Mosseri sobre uma live que o executivo dividiu com a influenciadora norte-americana JoJo Siwa em junho deste ano. Na ocasião, a influencer, que tem hoje tem 18 anos, admitiu usar o Instagram desde os 8, e Mosseri deu risada dizendo: "não quero saber disso".

Mosseri afirmou apenas que aquela foi "uma oportunidade perdida" de reforçar que crianças com menos de 12 anos não devem usar o Instagram sem consentimento dos pais. Mas desconversou ao ser perguntado sobre se o Instagram incentiva adolescentes a usar a rede social.

Vale lembrar que um dos documentos vazados por Frances Haugen, ex-funcionária da Meta, mostra que a empresa considera a queda de usuários jovens no Instagram um problema que coloca em risco a "existência" da plataforma.

Qual é a solução?

Para Mosseri, além de reforçar ferramentas de controle parental, é preciso criar um sistema universal de verificação de idade que funcione no celular das pessoas que acessam o Instagram, e não só dentro dos aplicativos. "Este é um problema de toda a indústria", disse.

O executivo também defendeu a criação de um órgão independente responsável por criar padrões para todos as redes sociais do mercado, indicando "como verificar a idade, projetar experiências adequadas à idade e construir controles parentais".

No entanto, para Mosseri, esse órgão deveria ser montado e financiado pelas próprias empresas de redes sociais, e não se comprometeu a apoiar a criação de uma agência reguladora estatal que faça o mesmo.

Além disso, respondendo às críticas de que o algoritmo do Instagram é viciante por conta do seu ranking de engajamento, que passa na frente os posts mais populares, Mosseri disse que a empresa está trabalhando "há meses" em uma versão do feed por ordem cronológica, que deve ser lançada em 2022.

Vale lembrar que o feed do Instagram era montado em ordem cronológica por padrão desde o lançamento do app, em 2010, até 2016, quando a empresa, já comandada por Mark Zuckerberg e pela Meta (então chamada Facebook) decidiu que o feed por ordem de engajamento apresentava "a melhor experiência".