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É melhor comprar celular e eletrônicos na Black Friday ou perto do Natal?

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Imagem: Freepik

Felipe Mendes

Colaboração para Tilt, em São Paulo

24/11/2021 04h00

A Black Friday acontece nesta sexta-feira (26) e a expectativa é grande para quem deseja comprar um novo celular ou eletrônicos com descontos. Ao mesmo tempo, com a atual alta dos preços e vários impactos no mercado causados pela covid-19, será que vale a pena investir agora ou é melhor aguardar algumas semanas e apostar que uma nova onda de promoções ocorra mais perto do Natal?

Segundo especialistas ouvidos por Tilt, a resposta depende muito mais da urgência do consumidor com relação ao produto que deseja do que com oscilações da economia nacional. Contudo, se você encontrar algo com bom custo-benefício nesta semana e puder investir, pode ser melhor garantir a compra.

É o que acredita o Josilmar Cordenonssi Cia, professor de economia e finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para ele, existem grandes chances de os preços subirem entre a Black Friday e o Natal por conta da inflação. Em todo caso, ele ressalta que, mesmo assim, a compra não deve ser feita por impulso.

"Se as pessoas estão querendo analisar um produto específico, elas devem estar monitorar os respectivos preços desde antes e analisar se a Black Friday vai trazer realmente um preço mais atraente ou não", aconselha o professor.

Está sonhando há algum tempo com um aparelho celular, por exemplo? Já pesquise antes de sexta-feira o modelo em plataformas de comparação de preços que ofereçam dados sobre a evolução de valores nas últimas semanas e meses. Assim, você terá embasamento para identificar se o custo-benefício vale a pena.

Cordenonssi Cia destaca que, se a comparação antes da Black Friday indicar que o preço está próximo ao de quatro ou seis meses atrás e o valor de sexta estiver nesse patamar ou abaixo disso, o consumidor deve aproveitar a promoção, já que muitos modelos ficaram mais caros no lugar de diminuir seu preço com o tempo.

Matheus Peçanha, pesquisador e economista do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), concorda com esse parâmetro de análise. E acrescenta que outro motivo para que exista a oscilação de preços entre esta sexta-feira e o Natal é por conta da falta de peças e componentes eletrônicos para a fabricação dos produtos.

"A falta de chips fez com que houvesse uma inflação nesses itens. Como essa matéria-prima tem voltado às linhas de produção, a Black Friday pode ser a oportunidade de comprar com preços talvez de seis meses atrás. Provavelmente no Natal essa conjuntura volte ao patamar de inflação que a gente estava vendo antes", afirma Peçanha.

Para Cordenonssi Cia, os preços dos eletrônicos teriam uma chance de não subir tanto até o Natal se a inflação caísse um pouco — no momento ela está acima de 10%.

Como não dá para depender exclusivamente dessa mudança, uma outra recomendação do professor é: se a grana está curta e você consegue aguardar mais alguns meses para investir no produto que deseja, aguarde mais uns meses. Ele acredita que a tendência é que os valores melhorem a partir do meio de 2022.

"Uma vez que passe esse problema logístico que o mundo inteiro está passando, que talvez aconteça para meados do ano que vem, se a pessoa puder esperar, talvez seja a melhor solução", afirma.

Falta de peças

O problema logístico ao qual os dois se referem envolve a crise dos contêineres. A pandemia de covid-19 fez com que as empresas de transporte se adequassem à queda da demanda. No caso dos eletrônicos, por exemplo, isso afetou na oferta de chips, o que acabou deixando os produtos mais caros.

A crise dos contêineres foi causada por conta do retorno das atividades acima do esperado e trouxe dificuldades com a importação de insumos, peças e produtos. O problema fez com que o preço dos fretes disparasse acima de 400%, no acumulado desde o ano passado, segundo levantamento divulgado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), o que acaba afetando diretamente o preço ao consumidor.

"As empresas que fazem transporte de produtos também estavam retraídas, achavam que a demanda diminuiria e deixaram navios, contêineres de lado. A volta acima do esperado gerou um atraso na entrega muito grande. Em muitos locais o estoque é muito limitado nesses produtos, e isso faz o preço subir, já que a demanda é muito maior que a oferta", explica Cordenonssi Cia.

Peçanha reforça que existe um equilíbrio diferente em termos de pandemia. O poder do comércio online já voltou ao patamar de antes da covid-19, segundo ele. "Isso acabou sendo mais pressão na estrutura de custos, o custo de logística aumenta, e acaba sendo repassado ao preço final, não tem jeito. Por isso a inflação nesses produtos vai tardar para arrefecer."

Além disso, a disparada do dólar cada vez maior afeta diretamente o preço dos produtos, principalmente os eletrônicos, que possuem componentes que são importados.

"Estamos com uma cadeia de logística atrasada, e o câmbio não tem perspectiva de voltar a se depreciar de modo a reduzir esses custos. Por isso que, se você encontrar um patamar de preço de um produto que você quer de três a seis meses atrás, está valendo super a pena comprar", destaca Peçanha.

Sendo assim, a Black Friday pode ser um bom momento de compra de produtos dependendo dos preços oferecidos. Mas lembre-se que antes de comprar é preciso muita pesquisa e ficar alerta para não cair em golpes.