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Passeio perigoso: como seria se pudéssemos viajar no tempo?

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt, em São Paulo

23/11/2021 04h00

Poucos temas encantam tanto as pessoas quanto a possibilidade de viajar no tempo. Imagine só poder ver como será o futuro ou, ainda, voltar ao passado e ter a possibilidade de compreender melhor situações? E se desse para mudar algo que já aconteceu de maneira a evitar eventos futuros?

É uma possibilidade que já foi abordada de diversas formas, especialmente em filmes. Quem aqui não viu os clássicos "De Volta Para o Futuro", não é mesmo? Mas será que no mundo real isso é possível? E como seria em uma realidade onde essas viagens temporais pudessem ocorrer? A ciência explica tudo isso.

Tem que acelerar muito

Viagem no tempo é um assunto complexo. O conceito de tempo na nossa percepção é uma grandeza que "se mexe" em apenas uma direção: para frente, ou seja, para o futuro e num ritmo constante. Não é possível avançar mais rápido e chegar antes no futuro, nem fazer o tempo andar para trás e chegarmos a algum lugar no passado.

O mundo macroscópico em que vivemos no nosso dia a dia pode ser bem descrito pelas Leis de Newton: podemos nos deslocar no espaço, mas não no tempo.

Em 1905, o físico Albert Einstein publicou uma teoria revolucionária, a partir da observação de que nada pode se mover mais rápido do que a luz. Segundo a Teoria da Relatividade Restrita, na medida em que nos aproximamos da velocidade da luz no vácuo, ou seja: 299.792,458 quilômetros por segundo, ou pouco mais de 1 bilhão de quilômetros por hora, coisas estranhas começam a acontecer.

O tempo se dilata. A massa dos corpos aumenta. O espaço se contrai.

Para colocarmos em perspectiva, um objeto em altíssima velocidade como a Estação Espacial Internacional viaja a impressionantes 27.700 km/h. Ainda assim, uma fração quase irrelevante da velocidade da luz.

Quanto mais rápido se está, mais lentamente o tempo passa, já que segundo essa teoria, não é possível desvincular espaço e tempo. Isso foi demonstrado comparando relógios ultra precisos, um voando em um avião e outro deixado na terra.

Impossível na prática (até o momento)

Há dois motivos principais para que não seja possível que um ser humano experimente uma dilatação temporal em níveis mais extremos a ponto de caracterizar uma viagem no tempo.

A primeira delas é que não há formas conhecidas, tanto em termos de materiais e de fontes de energia, capazes de acelerar um corpo —como o humano— a velocidades próximas da luz.

Outro problema é que os efeitos relativísticos não afetam apenas o tempo, mas também o espaço e a massa. Em velocidades próximas à da luz, a massa de um corpo aumenta e a energia necessária para potencializar um pouquinho essa velocidade fica muito grande. Quanto mais próximos do objetivo, mais energia é necessária para acelerar, fazendo com que seja impossível alcançar a velocidade da luz.

Sendo assim, a única forma de se acelerar a essa velocidade seria encontrar uma solução para esses dois problemas. Nada simples...

Fingindo que as limitações não existem

E se deixássemos de lado essas limitações e considerássemos para uma situação hipotética na qual seria possível alcançar a velocidade da luz, experimentar uma passagem de tempo "mais lenta" e, nessa velocidade, partíssemos em uma viagem de ida e volta ao centro da nossa galáxia?

Bem, o que aconteceria é que o tempo passaria mais lentamente para nós, viajantes, do que para quem ficou aqui na Terra. Na prática, isso significa que ao retornarmos estaríamos em um momento futuro no planeta, já que nossa viagem durou muito menos tempo do que o passado por aqui.

Isso seria uma espécie de viagem ao futuro.

Contudo, por mais que se tenha uma "fórmula" para viajar ao futuro, como o tempo na Terra se move em apenas uma direção, não há qualquer argumento teórico para viagens ao passado.

Esqueça, portanto, aquele sonho antigo de visitar a Terra na época dos dinossauros só para ver como as coisas eram por aqui —o que também explica o fato de não encontrarmos viajantes do futuro andando por aí.

Viagem hipotética

Nada impede, porém, que façamos um exercício de imaginação. Se as viagens no tempo, em qualquer direção, fossem possíveis, abriria-se espaço para algumas questões insolúveis.

Imagine só que você se encaminhe para o passado e acabe causando um acidente com algum antepassado a ponto de inviabilizar a sua existência. É o tal do paradoxo do avô, no qual uma pessoa acaba causando a morte do avô e, assim, inviabiliza o nascimento do seu pai ou da sua mãe. Por tabela, sua própria existência.

Neste caso, se a pessoa em questão continuasse viva, teria se criado uma linha do tempo alternativa? Parece improvável.

Viagens do tempo também poderiam causar efeitos dos mais diversos:

  • de negativos: alguém por exempço indo para o passado, fazendo uma aposta em loteria já sabendo os números e colhendo posteriormente os frutos dessa "trapaça temporal"
  • de positivos: ter a possibilidade de evitar crimes e desastres antes que eles ocorram ou viajando para o futuro e voltando com soluções ainda não desenvolvidas, como a cura de determinadas doenças.

De qualquer maneira, com o que sabemos e com o que temos à disposição no momento, viagem no tempo ainda deve continuar sendo um assunto exclusivo da nossa imaginação e possível apenas em obras de ficção científica.

Fonte:
Leandro Russovski Tessler, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (IFGW-Unicamp)