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China já testa coleta de energia com painéis solares na órbita da Terra

Xurzon/Getty Images/iStockphoto
Imagem: Xurzon/Getty Images/iStockphoto

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt, em São Paulo

19/08/2021 14h32

A China já começou os testes para coletar energia solar no espaço a partir de painéis solares que serão colocados na órbita da Terra. O processo, caso dê certo, terá a vantagem de funcionar sem ser afetado pelas variações do clima ou pela noite.

De acordo com matéria do site South China Morning Post, a ideia é que até 2049 a capacidade total de energia dos painéis em órbita seja de 1 gigawatt, o equivalente ao maior reator nuclear atualmente.

Em entrevista à estatal China Science Daily, Zhong Yuanchang, professor e especialista em engenharia microeletrônica na Universidade de Chongqing, afirmou que os testes começaram a ser realizados usando balões que estão a 300 metros de altitude, como uma plataforma flutuante para transmissão de energia de micro-ondas. A ideia do governo chinês é colocar uma estação de 1 megawatt no espaço até 2030.

A chamada de Base Experimental da Estação de Energia Solar Espacial Bishan, ou Base Bishan, começou a ser construída em 2010 e recebeu um investimento de US$ 15,4 milhões (cerca de R$ 82,2 milhões, na cotação atual), mas o projeto chegou a ser paralisado devido a debates sobre custos e segurança tecnológica.

Contudo, foi retomado em junho deste ano. A ideia teria recebido forte apoio do setor de energia depois que o governo chinês anunciou a meta de ser neutro em emissão de carbono (como ação para frear as mudanças climáticas) até 2060.

A base de Bishan está programada para ser a primeira usina de energia em grande escala da China para testes, integração, observação e cultivo desta forma de aproveitamento de energia. Inicialmente, no entanto, os pesquisadores farão testes em transmissões de baixas atitudes, para depois passarem a altitudes de 2 km usando geração de energia de alta tensão e, por fim, transmitir energia sem fio da órbita terrestre.

Por que é importante?

Conseguir trazer energia solar diretamente da órbita terrestre é importante porque uma usina de energia solar é impactada pelas condições climáticas — e também porque consegue operar apenas durante o dia. Além disso, a atmosfera reflete ou absorve quase metade da energia da luz solar.

Se colocada a uma altitude de 36 mil km, uma planta solar poderia evitar a sombra da Terra e assim ver o Sol 24 horas por dia. A perda de energia na atmosfera também poderia ser reduzida para cerca de 2%, enviando a energia na forma de micro-ondas de alta frequência.

Contudo, não é tão simples essa transferência. Os cientistas chineses primeiro vão precisar provar que a transferência de energia sem fio funcionava a longa distância.

Quando a instalação de Bishan estiver concluída, eles planejam aumentar o alcance para mais de 20 km com um dirigível coletando energia solar da estratosfera, de acordo com o China Science Daily.

Quais os riscos?

A Base de Bishan traz consigo alguns riscos que os pesquisadores chineses terão de superar. Primeiramente, a zona experimental terá dois hectares e será cercada por uma zona cinco vezes maior que isso.

As pessoas que moram na região não estão autorizadas a entrar na zona de testes para sua própria segurança, segundo autoridades locais. Isso porque quando os enormes painéis se movem para buscar o Sol, eles podem produzir vibrações e causar falhas em sua ignição — por isso o local precisa de um bom controle de voo que mantenha a mira em um pequeno e isolado ponto na Terra.

Segundo o site South China Morning Post, um trem a mais de 10 km de distância do local de testes pode ter problemas como perda repentina de comunicação, porque a frequência das micro-ondas energizadas afetaria o sinal wi-fi.

De acordo com as informações já divulgadas pelo governo chinês, o local de testes de Bishan será uma instalação de uso duplo para pesquisadores militares e civis.