Topo

Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Como proteger céu das constelações de satélite? Desafio está lançado

Céu escuro noturno cobre o Observatório do Paranal do ESO - ESO/P. Horálek
Céu escuro noturno cobre o Observatório do Paranal do ESO Imagem: ESO/P. Horálek

03/03/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Após encontro do Comitê para o Uso Pacífico do Espaço Exterior, da Organização das Nações Unidas (ONU), um grupo de países e instituições de pesquisa compôs um documento solicitando a criação de um grupo de especialistas para estudar o problema das constelações de satélite em órbitas baixas.

Os especialistas estariam encarregados de informar o comitê sobre o avanço dos satélites de comunicação —como os Starlink— e seu impacto sobre o céu noturno.

O caso vem recebendo cada vez mais atenção da comunidade internacional, tendo em vista a contaminação de imagens astronômicas pelas constelações de satélites.

Alguns pensam que o problema poderia ser resolvido usando telescópios espaciais, mas os altos custos envolvidos e dificuldades técnicas tornam impossível a substituição total dos telescópios terrestres.

Não são só as imagens dos telescópios comuns que são afetadas.

A radioastronomia também sofre grande interferência dos satélites de comunicação, com a geração de ruído que impede a detecção de astros distantes.

Finalmente, o documento ressalta a importância da preservação dos céus não apenas por motivos científicos, mas também pela preservação cultural associada à observação celeste e a manutenção dos céus escuros como bem da humanidade.

O documento é assinado por alguns países-membro do comitê (Chile, Espanha, Eslováquia, Bulgária, República Dominicana, Peru e África do Sul) com apoio de diversos outros países, além de importantes consórcios astronômicos internacionais, como a União Astronômica Internacional, o Square Kilometer Array Observatory e o Observatório Europeu do Sul.

As constelações de satélites representam um grande desafio, já que não há legislações vigentes que protejam os céus ou impeçam o lançamento de milhares de objetos, desde que não representem risco para outros objetos já em órbita.

Ou seja, atualmente dependemos da boa vontade de grandes empresas da área de telecomunicações para minimizar os impactos negativos desta empreitada.

Assim, a criação de uma equipe permanente de especialistas, em conjunto com a atuação política da ONU, poderia ajudar a mitigar os efeitos dos satélites, influenciando diretamente as tomadas de decisão de países para proteger os céus.

A proposta segue um período de experiência de alguns anos, em que astrônomos amadores e profissionais se uniram para angariar dados sobre as constelações de satélites, incluindo seu brilho e o potencial de interferência sobre instrumentos na superfície terrestre.

A partir da experiência positiva, o comitê propõe então que uma equipe permanente seja criada, sob a égide direta da própria ONU.

Tomara que isso dê certo.

Não sou contra o lançamento de satélites, sei da importância da tecnologia de comunicação nos dias atuais, mas a falta de prestação de contas ou restrições às empresas responsáveis pelas constelações me deixa temeroso sobre o futuro da astronomia.