Thiago Gonçalves

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Opinião

Como a política em Brasilia ameaça um 'ministério realmente da Ciência'

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) publicaram uma nota conjunta na última segunda-feira (21) defendendo a importância de um "Ministério realmente da Ciência". A nota vem em resposta aos rumores de que o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCTI) seria utilizado na negociação com o Congresso em troca de favores políticos para a aprovação de medidas.

A mensagem vem em boa hora. Realmente, vimos no passado recente um ministério enfraquecido, o que acabou levando à diminuição drástica no financiamento à ciência brasileira nos últimos anos.

Este orçamento está sendo lentamente reconstruído no atual governo —inclusive com a recomposição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), uma injeção de quase R$ 10 bilhões em ciência, tecnologia e inovação — mas não podemos nos descuidar permitindo que essa recuperação seja interrompida.

Alguns críticos podem dizer que a ministra ou o ministro sozinhos não são os únicos responsáveis pelo orçamento, e que uma troca ministerial não teria um impacto tão grande. É verdade, o ministério não é composto por um indivíduo apenas, mas o impacto da troca pode ser maior do que se possa imaginar.

Devemos nos lembrar das indicações do segundo escalão. São diversos cargos fundamentais, como a presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), e toda a estrutura administrativa diretamente ligada ao ministério.

Essas agências são em grande parte responsáveis pela administração da verba destinada à ciência no país, e muitos dos cargos hoje são ocupados por cientistas experientes, que conhecem a realidade e desafio dos pesquisadores — uma atitude correta e importante por parte do atual governo federal.

Além disso, as agências são também responsáveis por desenvolver programas e estratégias a longo prazo, uma iniciativa fundamental para garantir a manutenção e impacto dos projetos de pesquisa brasileiros.

Eu já havia discutido há alguns meses o exemplo do telescópio espacial James Webb, planejado por várias décadas, e como um projeto dessa magnitude só é possível em um ambiente estável com garantias à continuação do financiamento a projetos de grande porte por um longo período.

Ao oferecer o MCTI como moeda de troca, podemos estar colocando em risco a ideia da ciência brasileira como projeto de Estado, fundamental para a nossa soberania.

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Se quisermos pensar na ciência brasileira do futuro, devemos defender o MCTI hoje e sempre.

"Ah, mas a política brasileira é assim mesmo, é um toma-lá, dá-cá".

Devemos então abaixar os braços e deixar o barco correr?

Não, eu acredito que a melhor solução é acompanhar a atuação dos parlamentares e votar naqueles que realmente defendem a nossa pesquisa, não em quem pensa apenas no valor das emendas. Por uma ciência forte aliada ao crescimento econômico e a justiça social.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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