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Briga com Spotify e busca por 'stalker': como Taylor Swift move o mundo tec

Taylor Swift arrasta multidões e mobiliza toda atenção midiática por onde passa. Os seus shows no Brasil geraram uma avalanche de conteúdo, fazendo com que mesmo quem nunca escutou uma música da cantora soubesse algo sobre sua passagem no Brasil.

Na lista de artistas que usaram a tecnologia para impulsionar as suas carreiras, Taylor Swift viu um espaço em branco e lá escreveu o seu nome.

É impossível separar a trajetória da cantora da forma pela qual a tecnologia se desenvolveu nos últimos anos. Craque das redes sociais, a cantora soube construir uma personalidade nas redes que mistura intimidade com os fãs e a divulgação (muitas vezes surpresa) de seus lançamentos.

Esse fenômeno de mídia foi tristemente ampliado, nos últimos dias, pelo falecimento de Ana Clara Benevides, uma fã que passou mal durante o primeiro show da cantora no Rio de Janeiro, realizado em condições de extremo calor e com muitas críticas sobre a organização. Nossa solidariedade à família e aos amigos nesse momento tão difícil.

Vamos recapitular alguns momentos e circunstâncias que mostram o quanto a carreira de Taylor Swift se confunde com as transformações tecnológicas dos últimos anos.

Quem mexeu nos meus direitos autorais?

Uma das apostas mais ousadas de Taylor Swift, que virou a indústria musical do avesso, foi a regravação dos seus primeiros álbuns depois que sua antiga gravadora vendeu o acervo para um desafeto da cantora.

Taylor, então com 15 anos, assinou um contrato com a gravadora Big Machine Records, pela qual sairiam os seus primeiros seis álbuns. Em 2018, a cantora mudou de gravadora e tentou comprar os direitos sobre os masters, os originais de suas gravações. A Big Machine acabou vendendo para o empresário Scooter Braun, que passou a controlar os direitos de reprodução e distribuição dessas gravações.

Essa situação era insustentável para Taylor Swift, na época já uma das maiores artistas globais, já que ela se viu sem controle sobre a utilização de suas próprias obras, incluindo a possibilidade de veto a certos usos comerciais ou adaptações.

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Diante desse cenário, Taylor resolveu abandonar as gravações originais, que tocavam sem parar nas rádios e nas plataformas de streaming, e lançou o projeto de regravação dos seus primeiros álbuns, que agora passariam a vir acompanhados da indicação de que essas novas gravações são a "versão da Taylor" ("Taylor's version").

A cantora conseguiu fazer isso porque, além de interpretar as músicas, ela é também a compositora das canções. Com isso, ela pode autorizar novas gravações de suas composições por terceiros ou investir na produção de novos fonogramas.

Por isso, a sacada do nome Taylor's version é brilhante. A cantora dá aos novos trabalhos um selo de autenticidade que parece faltar nas gravações anteriores. É como se a artista dissesse que, se pudesse controlar todos os aspectos da produção, é assim que os seus grandes sucessos teriam soado. As gravações anteriores, da noite para o dia, viraram a versão da gravadora, a versão dos outros.

Usando muito bem as redes e conhecendo as plataformas de streaming, a cantora ainda reduziu o valor das gravações originais ao pedir para os fãs ouvirem só as novas versões.

Fora do streaming de música

O potencial de Taylor Swift transformar modelos de negócio foi testado durante a disputa com o Spotify. A queda de braço começou em 2014, quando ela tirou todas as suas músicas da plataforma.

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Essa decisão foi tomada depois um impasse na negociação com a Spotify. A cantora queria disponibilizar seu novo álbum apenas para assinantes pagos, enquanto a direção da plataforma insistia que o acervo dela pudesse ser acessado por todos os usuários, independentemente de assinatura, já que a plataforma se remunera com anúncios.

Swift argumentou que o modelo de streaming gratuito suportado por anúncios desvalorizava o trabalho dos artistas. Por outro lado, o Spotify sustentava que o modelo de streaming era uma solução para os problemas da indústria musical, incluindo a queda nas vendas de álbuns e a disseminação da pirataria.

Em junho de 2017, Taylor Swift anunciou seu catálogo voltaria ao Spotify e a outras plataformas de streaming que ofereciam um modelo gratuito suportado por anúncios.

Esse debate entre a cantora e o Spotify deu visibilidade às tensões entre artistas e plataformas de streaming sobre questões de remuneração e valorização da música. Não só muito presente, a discussão indicou a existência de diversos modelos de negócio que podem ser desenvolvidos pelas plataformas, com diferentes impactos na forma de monetização dos serviços e dos próprios artistas.

Reconhecimento facial na multidão

Como a visibilidade de Taylor Swift é gigantesca, não é de se assombrar que algumas pessoas passem a desenvolver um comportamento obsessivo com relação à cantora. Por isso, Taylor não só reforçou a segurança como também empregou ferramentas tecnológicas para identificar pessoas que notoriamente a perseguiam.

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A produção de um show da cantora no Rose Bowl, na Califórnia, usou tecnologia de reconhecimento facial em 2018 para identificar possíveis perseguidores. Foi montada uma cabine que exibia ensaios para o show. Quando os fãs paravam diante dela, suas imagens eram registradas e analisadas por um sistema de reconhecimento facial.

Essas imagens, segundo reportado, eram enviadas para uma central de comando em Nashville que as cruzava com um banco de dados de conhecidos perseguidores da cantora. O uso de reconhecimento facial levanta questões importantes sobre proteção de dados e segurança, ainda mais em espaços públicos ou de frequência coletiva.

Uma artista nas redes

Taylor Swift é conhecida por sua habilidade em usar as redes sociais para construir e manter uma comunidade engajada de fãs. A cantora frequentemente se comunica diretamente com seus fãs nas redes, respondendo a tweets ou comentando em postagens no Instagram.

A mistura entre vida profissional e pessoal nessas plataformas já não é novidade tem algum tempo, mas a cantora faz essa mistura como poucos, equilibrando informações sobre a carreira com conteúdos que mostram momentos que parecem mais íntimos e menos produzidos.

A cantora é conhecida ainda por surpreender seus fãs nas redes, lançando músicas com pouco ou nenhum aviso prévio. Em julho de 2020, durante a pandemia de covid-19, a artista revelou a existência do álbum "Folklore" algumas horas antes de seu lançamento. Folklore foi o álbum mais vendido em 2020, vencendo ainda o Grammy de álbum do ano.

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Cada um desses lançamentos reflete a habilidade de Swift em criar um evento em torno de sua música, utilizando as redes sociais e outras plataformas para gerar antecipação e ampliar o alcance de novos conteúdos. Essa estratégia não apenas mantém a sua enorme presença na mídia, mas também fortalece a conexão com sua base de fãs.

Ao final de cada show da artista, uma onda de fotos e vídeos com imagens do palco e reações dos fãs invade as redes sociais. No Brasil não foi diferente, com destaque para os vídeos registrando a euforia (ou o desapontamento) com a introdução surpresa da música "ME!", que divide opiniões entre os swifties, em um dos shows no Rio de Janeiro. Os fãs estavam lá e eles se lembram all too well.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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