A religião do punk: Bad Religion abala as estruturas do Primavera Sound

Para punks veteranos, que usam coturnos há décadas, o grupo americano Bad Religion é praticamente uma religião de verdade. Impossível deixar de acreditar em caras que transmitem em sons acelerados uma visão política do mundo com tanta consciência e contestação do que anda errado por aí.

O Bad Religion se posicionou no palco Corona no segundo dia do festival Primavera Sound da mesmíssima maneira como se comporta num clube pequeno na Califórnia, onde os fãs se reúnem para celebrar longa vida ao punk rock. O grupo transmite uma clara impressão de que está se divertindo muito diante da plateia, embora suas letras não sejam nem um pouco alegres.

Tudo bem que, entre denúncias diretas, alguns clássicos da banda contenham um pouco de humor corrosivo. Mas é mais uma crítica ácida do que uma piada para divertir. No meio da plateia jovem que foi a Interlagos, era possível ver muito quarentão e cinquentão de camiseta do Bad Religion. Certamente, assistiram a alguns shows nas 11 vezes anteriores que a banda tocou por aqui. E, mais uma vez, o som da fúria estava em volume bem alto.

O Bad Religion tocou pouca coisa de seu mais recente álbum, "Age of Unreason", lançado pouco antes da pandemia. Mais preocupado em prosseguir sua turnê que comemora 40 anos de carreira, o grupo quer fazer de cada apresentação uma celebração do longo caminho percorrido até aqui.

Isso foi ótimo para o público que queria, e recebeu, alguns hinos punks incontornáveis, como "Infected", "Beyond Electric Dreams", "Tomorrow", "No Control", "Fuck You", "21st Century (Digital Boy)" e "American Jesus", que fechou a apresentação. O visual de tiozão do vocalista Greg Graffin e seus companheiros não poderiam ser mais enganador. A fúria deles bate facilmente muitos adolescentes revoltados.

A apresentação do Bad Religion contribuiu para que o Primavera tivesse uma dose equilibrada de punk rock. No sábado, foram os suecos do The Hives, com seu som de garagem ensurdecedor. Agora, no domingo, a performance matadora desses americanos dos quais não se pode falar que sigam a cartilha punk. Porque eles são um pouco os pais dessa coisa toda e preservam a sabedoria de fazer shows para abalar as estruturas.

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