Primavera Sound Barcelona 2024 esconde novas tendências nos palcos menores
Na edição de 2024 do Primavera Sound em Barcelona, a terceira pós-pandemia, as apresentações de headliners foram as mais decepcionantes do festival. Os shows que aconteceram ao final dos três dias do evento, da quinta (30) a sábado (1º), falharam na missão de serem os mais interessantes do festival — não por suas performances em si, mas pela falta de novidades que trouxeram. Para desempacotar o potencial do festival de estar à frente de tendências, é necessário procurar por outros palcos e atrações menores.
Desde o surgimento do festival Primavera Sound, quando o evento ainda era uma pequena mostra de bandas no museu Poble Espanyol, em Barcelona, seu principal atrativo foi o line-up que fugia do óbvio.
Em 2001, em sua primeira edição, o festival foi descrito pelo fundador Pablo Soler como "um showcase para grupos de noise e indie rock". Com o passar dos anos, essa descrição evoluiu um pouco, mas o foco do Primavera Sound seguiu sendo bandas e artistas que estiveram um pouco mais adjacentes aos grandes atos do pop e rock - artistas do indie, hip hop, alternativo, experimental e eletrônico.
Ao longo de suas duas décadas de existência, o festival conseguiu se manter na crista da onda do que é cool contando com headliners seminais como Spiritualized, Echo & The Bunnymen, Cat Power, Belle And Sebastian, Portishead, Sonic Youth, Run The Jewels, Four Tet e tantos, tantos outros.
Os palcos principais, Estrella Damm e Santander, estavam localizados um ao lado do outro no Parc Del Fórum, local onde o festival acontece desde 2005. Foram neles que, alternadamente, oito dos dez headliners se apresentaram - com exceção de FKA Twigs, que cancelou sua apresentação, e Charli XCX, que fez um show de encerramento num palco secundário.
As grandes reuniões, já características do Primavera, ficaram por conta dos shows marcantes do Pulp e Justice na quinta-feira. A dupla de franceses em especial surpreendeu com um show de live set com ritmo e groove, muito mais interessante do que a forma de estúdio de seu álbum lançado neste ano, Hyperdrama.
As estreias de Lana Del Rey e SZA também foram potentes e concentraram grande parte do público disperso do festival na sexta e no sábado. Mas o restante dos grandes shows, todos de artistas que já tinham se apresentado Primavera — Vampire Weekend, The National, Disclosure, PJ Harvey, Mitski e Charli —, apesar de terem sido apresentações sólidas e aplaudidas pelos fãs, não acrescentaram em nada à mística do festival como um ditador de tendências na música alternativa mundial. Para ver a verdadeira potência do Primavera Sound, foi preciso olhar para os outros palcos e atrações menores.
Um grande exemplo disto é o palco Boiler Room X Cupra, uma redoma redonda formada apenas de uma pequena cabine de DJ ao centro e um bar ao canto, mas que concentrou algumas das melhores apresentações do festival. Os DJs brasileiros, inclusive, se destacaram na curadoria: o carioca Ramon Sucesso levou seu beat bolha ao palco na quinta-feira, e a paulista Th4ys impressionou os gringos com sua mistura de funk mandelão e grandes hits eletrônicos.
À parte dos brasileiros, estrelas do pop, eletrônica e hip hop gringo também brilharam no Boiler Room, que transmitiu os sets ao vivo pelo canal do YouTube do projeto — como o set tímido mas emocionante de R&B da dinamarquesa Erika de Casier e o rap de Memphis do DJ Spanish Fly.
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Quero receberOs palcos alternativos do Primavera são interessantes não apenas pelo line-up, mas também pela experiência diferenciada de festival que proporcionam. Se um típico festival acontece num grande campo a céu aberto, áreas como o Auditori Rockdelux, um grande auditório que concentra shows de noise, metal extremo e música instrumental, e o Warehouse x Dice, um grande galpão de pista de dança, te tiram desse espaço e dão a impressão de que você está num teatro ou um clube.
É também nos cantos do festival onde acontecem shows das que prometem ser as próximas estrelas da música mundial, ou reuniões de artistas que, apesar de pequenos, têm lugares inquestionáveis entre os nomes importantes da música alternativa.
Uma das apresentações mais impactantes foi a da artistas ganense-americana Amaarae, que foi uma revelação na música pop em 2023 com seu álbum "Fountain Baby". Outro show inesquecível foi a reunião da dupla Clipse, do rapper Pusha T com seu irmão Malice, que apresentaram suas faixas clássicas do rap dos anos 2000 produzidas em parceria com Pharrell Williams, em especial "Grindin'".
É justo dizer que o potencial de ditar novas tendências, sonoras e estéticas, ainda está presente no Primavera Sound Barcelona 20 anos depois de ser fundado. Só é preciso olhar para além dos headliners.
A versão brasileira do festival, o Primavera Sound São Paulo, acontece nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro; o local e as atrações ainda não foram anunciados.
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