Buchecha expõe depressão após morte de Claudinho: 'Apático com o público'

Antes mesmo da fama, Claudinho já dizia para Buchecha que em breve os dois estariam se apresentando nos palcos dos principais programas da televisão brasileira. "Esse cara é sonhador demais", pensava Buchecha. A dupla fluminense se tornou um ícone do funk melody na década de 1990 e agora virou tema de um filme que estreia nesta quinta-feira (21).

A trajetória dos dois foi relembrada por Buchecha durante conversa com Zeca Camargo, no programa Splash Entrevista. "Pessoas como Claudinho, sonhadoras, têm um antídoto que, por mais que tenha gente que fale assim 'você tá louco, isso aí é uma utopia', elas não se abatem com essas palavras e vão além. Tenho certeza que as pessoas vão ver isso no filme e observar claramente a essência dele".

Com sucessos como "Conquista", "Quero te encontrar" e "Só love" no roteiro, a cinebiografia "Nosso sonho - A história de Claudinho & Buchecha", que teve produção musical assinada por Buchecha, conta a trajetória da dupla antes da fama e o sonho que partiu de Claudinho de ser MC. Eles viviam o auge quando Cláudio Rodrigues de Mattos, o Claudinho, morreu, em julho de 2002.

Já faz 21 anos que ele [Claudinho] nos deixou e a galera ainda continua consumindo nosso trabalho. O filme é mais do que um sonho, é uma realização muito grande e me deixa muito feliz. Buchecha

Buchecha sem Claudinho: 'Fiquei em depressão por um tempo'

Se Claudinho (interpretado por Lucas Penteado) era o lado mais sonhador e comunicativo da dupla de sucesso, Buchecha (Juan Paiva) era o compositor introspectivo por trás dos hits. "Se você ver os vídeos do nosso começo, ele falava [para o público] 'agora é com vocês', daí eu olhava para o chão, sempre muito retraído, muito pra dentro", relembrou Buchecha durante a entrevista. "Já Claudinho era aquele cara sorrisão aberto, um Cristo Redentor o tempo todo e acho que isso cativou muito o público."

Perder o amigo de infância e companheiro com quem dividia os palcos e inseguranças expôs o cantor à dor e ao medo. O artista contou que jamais pensou que um dia seria um "Claudinho sem Buchecha" —trecho do hit "Fico Assim Sem Você" (Abdullah e Cacá Moraes) que ele assume não gostar.

Eu tive um monte de restrições dentro de mim e questões que não conseguia lidar e, às vezes, até trazia isso publicamente com uma certa apatia com o público. Tu vai olhar [vídeos do começo da carreira] e falar 'cara, Claudinho parece um cara já pronto artisticamente, e o Buchecha ainda era aquele cara engatinhando'. Então, a perda dele foi muito difícil. (...) Fiquei um tempo em depressão, achei que não tinha virtudes e qualidades para continuar cantando. Buchecha

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Buchecha diz que encontrou refúgio em crianças para recomeçar

O novo fôlego para seguir em frente após a morte do amigo veio de um lugar inesperado.

Depois da morte de Claudinho, uma van escolar começou a passar diariamente na frente da casa onde Buchecha morava e os pequenos gostavam de gritar "Buchecha, cadê você? Eu vim aqui só para te ver". Ele escutava a homenagem do lado de dentro de seu quarto, onde ficava a maior parte do tempo sem ver a luz do sol. "Foi quando comecei a perceber que ainda tinha importância [para o público]".

Toda aquela timidez e insegurança foram se esvaindo aos poucos, com as crianças. A gente costuma dizer que criança é muito pura, ela gosta ou não gosta, e ali eu entendi que era um recado de Deus para mim. Eu imaginava que eram anjos novamente me trazendo para fora, quase que dizendo 'Lázaro, Lázaro, vem para fora, eu tiro a tua pedra e o teu peso que está sobre você e te trago para fora'. Eu obedeci essa voz das crianças e recebi carinho. Buchecha

Parceria com geração mais jovem

A relação com as gerações mais jovens vai além da motivação para continuar cantando. Buchecha também disse que está aberto a colaborações, com cantores de funk da atualidade, apesar de não se achar "100% pronto" para as melodias dissonantes e batidas cada vez mais aceleradas.

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Ele citou um convite que recebeu do DJ Rennan da Penha —expoente do funk 150bpm que hoje domina o gênero. "O Renan da Penha estava no auge dos 15bpm, aí ele veio para mim e falou 'pô, faz um som aqui para mim nesse beat'. Não conseguia formar uma frase, porque é muito acelerado. Aí eu falava assim, 'poxa, Renan, você quer matar o velho?'. Eu não tenho essa coordenação motora", brincou.

Confesso que fiquei meio que inseguro para fazer alguma letra, então eu vou com calma, procuro ouvir tudo, e me conectar com todos os gêneros, com todos os segmentos e com todos os artistas, mas eu falo assim 'poxa, mas eu tenho a minha a minha pegada'. Não tenho essa metamorfose artística. Buchecha

'Claudinho foi o maior responsável pela ascensão da dupla'

Se Claudinho ainda estivesse aqui, Buchecha tem certeza que os dois continuariam muito ligados e comemorando o lançamento do filme ao lado da família. "Ele merecia estar nesse momento usufruindo de tudo isso, porque o menino que lutou para alcançar é o maior responsável pela ascensão da nossa dupla".

Duas características de Claudinho viraram legado para Buchecha: o sorriso e a forma de se comunicar com o público.

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Apesar de eu ser o compositor, ele era o maior responsável, porque ele que vislumbrou essa ideia de inscrever a gente no festival e me tirou da impossibilidade das minhas inseguranças, e me trouxe para fazer tudo isso ser possível e tudo mais, e foi embora com 26 anos, então foi muito duro não tê-lo. (...) Procuro levar minha carreira como se ele ainda estivesse aqui de carne e osso. Buchecha

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