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ANÁLISE

'Nada de Novo no Front', da Netflix, expõe dor causada por armas e guerras

Felix Kammerer no filme "Nada de Novo no Front", da Netflix - Divulgação/Netflix
Felix Kammerer no filme 'Nada de Novo no Front', da Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

Renan Martins Frade

Colaboração para o UOL

27/10/2022 12h00

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (27) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "Nada de Novo no Front", "Lilo, Lilo, Crocodilo" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Quer receber a edição da semana que vem no seu e-mail? Inscreva-se. Os assinantes UOL ainda têm mais de 10 newsletters exclusivas.


Basicamente existem dois tipos de filmes sobre guerras. O primeiro é aquele que, de forma consciente ou não, romantiza e glamouriza os acontecimentos do conflito, vendendo-os como grandes histórias de ação. Já o segundo está mais preocupado em revelar que não existem vencedores em uma guerra, deixando claro toda a dor que ela traz.

Nesta semana chega à Netflix o longa-metragem "Nada de Novo no Front", nova versão do clássico livro. Estrelada por Daniel Brühl, a produção claramente se enquadra no segundo caso - com uma história sobre as perdas humanas e o desgaste emocional e físico durante a Primeira Guerra Mundial.

Elogiada no último Festival de Cinema de Toronto, a produção também é um gancho para apresentar os chamados filmes "antiguerra". São longas que, de uma forma ou de outra, criticam esse excesso de militarização da sociedade, o armamento excessivo, os conflitos e a forma como, em situações extremas, perdemos a nossa humanidade.

Pode não parecer, mas é um tema que tem relação com o nosso Brasil e com o mundo atual, sim. Afinal, estamos justamente vendo uma militarização da nossa sociedade e conflitos urbanos intermináveis - em um debate que tem um tema central nas eleições deste domingo, 30. Isso sem falar das guerras "oficiais" que ocorrem pelo mundo, como na Ucrânia, Etiópia, Síria e muito mais.

Assista aos filmes a seguir e reflita: o que você quer para o Brasil, para o mundo e para as futuras gerações?

O Na Sua Tela desta semana ainda destaca a animação "Lilo, Lilo, Crocodilo", que chega aos cinemas, enquanto a Netflix traz "O Enfermeiro da Noite", drama com Eddie Redmayne e Jessica Chastain.

Está tudo a seguir.

O que tem de novo?

NADA DE NOVO NO FRONT

Nada de Novo no Front - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Adaptação do livro alemão, 'Nada de Novo no Front' é um exemplo de filme antiguerra
Imagem: Divulgação/Netflix

  • Assista ao trailer
  • Onde: Amanhã (28) na Netflix
  • O que tem de bom: Publicado pela primeira vez em 1928, "Nada de Novo no Front" é um dos grandes clássicos modernos da literatura alemã. Escrito pelo veterano Erich Maria Remarque, a obra começa com uma posição patriótica e eufórica de um grupo de soldados no front ocidental durante a Primeira Guerra Mundial, algo que, aos poucos, migra para um revelador relato de morte, dor e até mesmo da monotonia entre conflitos, na chamada guerra de trincheiras. A nova adaptação é dirigida por Edward Berger (de "Jack") e é estrelada por Daniel Brühl ("Bastardos Inglórios"). Com imagens fortes e uma fotografia que acompanha esse esmaecimento no coração dos personagens, este é um filme duro - e revelador.
  • O que te faz sentir: abandono, impotência


LILO, LILO, CROCODILO

Lilo, Lilo, Crocodilo - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
Mistura de musical com aventura, 'Lilo, Lilo, Crocodilo' é feito na medida para as crianças
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

  • Assista ao trailer
  • Onde: Nos cinemas - clique para comprar ingressos
  • O que tem de bom: "Lilo, Lilo, Crocodilo" é um dos livros infantis mais famosos do mundo. Publicado pela primeira vez em 1965, a obra de Bernard Waber conta a aventura de um réptil falante que vive em uma casa vitoriana em plena Nova York. Misturando atores de carne e osso e animação computadorizada, esta adaptação é um daqueles filmes musicais fofinhos para deixar as crianças com um sorriso no rosto.
  • O que te faz sentir: alegria, carinho


O ENFERMEIRO DA NOITE

O Enfermeiro da Noite - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Eddie Redmayne e Jessica Chastain contracenam em 'O Enfermeiro da Noite'
Imagem: Divulgação/Netflix

  • Assista ao trailer
  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Os vencedores do Oscar Eddie Redmayne e Jessica Chastain contracenam neste drama com contornos de suspense policial - e que ganha cara de terror por mexer com medos bem reais. No longa, uma enfermeira (Chastain), que precisa lidar com os seus próprios problemas de saúde, começa em um plantão noturno e é recebida calorosamente por um novo colega (Redmayne). No entanto, uma série de mortes misteriosas entre os pacientes acaba com a tranquilidade do turno - e inicia-se uma investigação para descobrir o que está acontecendo.
  • O que te faz sentir: repulsa, ameaça

Quando o cinema denuncia a futilidade e a dor das guerras

Nada de Novo no Front" é uma das mais famosas obras do chamado antiguerra - ou seja, um relato que expõe a frivolidade das mortes em um conflito armado.

Há diversos outros filmes que seguem a mesma linha, revelando outras críticas à guerra - que não precisa ser apenas aquela literal, mas também o estado belicoso em que a nossa sociedade mergulha cada vez mais.


1917

Nada de Novo no Front - imagem - Divulgação/Universal Studios - Divulgação/Universal Studios
'1917' tem muitas similaridades com 'Nada de Novo no Front'
Imagem: Divulgação/Universal Studios

  • Assista ao trailer
  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Há um paralelo grande entre "1917" (2019) e "Nada de Novo no Front". Ambas as obras se passam durante a Primeira Guerra Mundial, mas o filme de Sam Mendes pega um microcosmo para exemplificar os horrores do conflito. A história é sobre dois soldados (interpretados por Dean-Charles Chapman e George MacKay) que precisam superar diversas dificuldades, incluindo a "terra de ninguém" entre as trincheiras, para entregar uma importante mensagem - que salvará muitas vidas. A fotografia é linda (de Roger Deakins) e a conquista técnica é digna de elogios, com o longa feito para dar a impressão de que não há cortes, em um único plano-sequência. Tudo isso para nos aproximar dos horrores da guerra, em um eterno senso de atenção para o espectador - que se sente como um terceiro soldado, acompanhando os protagonistas.
  • O que te faz sentir: insegurança, aflição


SNIPER AMERICANO

Sniper Americano - imagem - Divulgação/Warner Bros.  - Divulgação/Warner Bros.
'Sniper Americano' traz um das grandes atuações da carreira de Bradley Cooper
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max, Globoplay
  • O que tem de bom: Sem elefantes na sala: "Sniper Americano" (2014) é um dos filmes mais delicados nesta seleção, muito porque pode ser facilmente mal compreendido pelo espectador. O longa é dirigido por Clint Eastwood, que foi integrante do Partido Repúblicano, mas que tem notoriamente visões antiguerra. Dessa forma, o filme aproveita a história real de Chris Kyle (aqui interpretado por Bradley Cooper, ótimo em cena) para revelar não só a crueldade da Guerra do Iraque, mas também como ela despedaça a alma de seus veteranos.
  • O que te faz sentir: amargura, culpa


APOCALYPSE NOW

Apocalypse Now - imagem - Divulgação/Lionsgate - Divulgação/Lionsgate
Charlie Sheen é um dos destaques de 'Apocalypse Now'
Imagem: Divulgação/Lionsgate

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  • Onde: Belas Artes a La Carte
  • O que tem de bom: Considerado um dos maiores filmes de guerra da história, "Apocalypse Now" (1979) é um relato extremamente duro, psicológico até. O longa do diretor Francis Ford Coppola ("O Poderoso Chefão") apresenta um grupo de soldados com uma missão secreta: matar um insano coronel renegado (interpretado por Marlon Brando) no contexto da Guerra do Vietnam. A partir disso, vemos o horror do conflito armado - com cenas de embrulhar o estômago e que nos deixam sem ar, como a do ataque de napalm ao som de "Cavalgada das Valquírias", matando civis inocentes (incluindo crianças). Um difícil relato da frivolidade das guerras. Além de Brando, o elenco conta também com nomes como Martin Sheen, Robert Duvall, Laurence Fishburne, Harrison Ford e Dennis Hopper.
  • O que te faz sentir: asco, recriminação


DR. FANTÁSTICO

Dr. Fantástico - imagem - Divulgação/Sony Pictures - Divulgação/Sony Pictures
'Dr. Fantástico' tem Peter Sellers em três papeis diferentes
Imagem: Divulgação/Sony Pictures

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  • Onde: para aluguel ou compra em Apple TV, Loja Prime Video, Google Play e YouTube
  • O que tem de bom: Às vezes, a melhor forma de destacar as falhas de algo é transformando-as em humor. Foi isso que Stanley Kubrick fez em "Dr. Fantástico" (1964): ele pegou um dos maiores nomes da história da comédia, Peter Sellers, e o colocou no centro de uma trama sobre um general que ordena um ataque nuclear contra a União Soviética. O público é convidado a acompanhar de dentro da sala de guerra aquilo que vira uma pataquada, em uma crítica ferrenha à Guerra Fria e aos poderosos com acesso ao botão vermelho do apocalipse.
  • O que te faz sentir: embaraço, insegurança


IMPÉRIO DO SOL

Império do Sol - imagem - Divulgação/Warner Bros.  - Divulgação/Warner Bros.
Christian Bale e John Malkovich contracenam em 'Império do Sol'
Imagem: Divulgação/Warner Bros.

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Steven Spielberg é um dos maiores cineastas da história, e a narrativa antiguerra também é uma característica de seu trabalho. Situado na China durante a invasão japonesa no decorrer da Segunda Guerra Mundial, traz um jovem britânico - interpretado por Christian Bale, em seu primeiro grande papel - que se perde dos pais e precisa amadurecer em um ambiente de completo caos. Baseado em uma história real, o longa transforma uma história de amadurecimento, com a morte da inocência, em um relato (metafórico e literal) sobre a morte dos inocentes. Dessa forma, Spielberg pega um assunto extremamente relacionável para todos nós e o ressignifica em algo poderoso.
  • O que te faz sentir: ressentimento, frustração

NASCIDO EM 4 DE JULHO

Nascido em 4 de Julho - imagem - Divulgação/Sony - Divulgação/Sony
Tom Cruise é a grande estrela de 'Nascido em 4 de Julho'
Imagem: Divulgação/Sony

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  • Onde: Star+
  • O que tem de bom: Um dos grandes filmes da carreira de Tom Cruise, em uma verdadeira amostra da sua profundidade enquanto ator dramático. Dirigido por Oliver Stone (um condecorado veterano da Guerra do Vietnam), "Nascido em 4 de Julho" (1989) conta a trajetória real de Ron Kovic (Cruise), um jovem idealista que vai lutar no conflito asiático, onde é ferido em batalha. Paraplégico, se converte em um um veterano desiludido que tem problemas com álcool. Dessa forma, vemos como o nacionalismo exacerbado pode nos cegar - levando, em nome da política e de interesses comerciais, soldados e a população a um sacrifício inexplicável. Um libelo antiguerra, que, além da trilha original de John Williams ("Star Wars"), tem canções marcantes de Bob Dylan, Van Morrison e Dan McLean. Ah, veja também "Platoon", outro filme de temática parecida também assinado Stone e disponível no Prime Video.
  • O que te faz sentir: culpa, remorso


ATÉ O ÚLTIMO HOMEM

Até o Último Homem - imagem - Divulgação/Diamond Films - Divulgação/Diamond Films
Andrew Garfield foi indicado ao Oscar pela atuação em 'Até o Último Homem'
Imagem: Divulgação/Diamond Films

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  • Onde: HBO Max
  • O que tem de bom: Um outro filme desta seleção para mostrar que ser contra guerras e armas não é um mero discurso entre direita e esquerda. Afinal, "Até o Último Homem" (2016) é dirigido por um cineasta que é classificado como "ultraconservador": Mel Gibson. A produção é sobre uma pessoa real, o cabo Desmond Doss (Andrew Garfield), que era um fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia que seguia à risca o mandamento de "não matarás" - e, por isso, não empunha armas de fogo de qualquer tipo. Mesmo sendo o que é chamado de "objetor de consciência", o que o fazia incompatível com o serviço militar, Doss escolheu servir na Segunda Guerra Mundial - protagonizando assim uma das maiores histórias de bravura no conflito, salvando 75 vidas. Tudo isso sem dar um tiro.
  • O que te faz sentir: bravura, inspiração


VICE

Vice - imagem - Divulgação/Imagem filmes - Divulgação/Imagem filmes
Christian Bale está irreconhecível em 'Vice'
Imagem: Divulgação/Imagem filmes

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  • Onde: Prime Video
  • O que tem de bom: Muitas vezes, guerras e conflitos são apenas ferramentas em grandes jogos de poder, nos quais a vida pouco importa. "Vice" (2018) é sobre isso. A biografia satírica do ex-vice-presidente dos EUA, Dick Cheney (novamente Christian Bale, aqui irreconhecível em cena), e dirigida por Adam McKay ("A Grande Aposta"), revela o jogo de forças que levou o país para as Guerra do Afeganistão e do Iraque. Se o meme "chorindo" fosse um filme, certamente seria esta comédia aqui. Por isso, não se apegue tanto a uma representação real dos fatos, encarando mais como uma ficção baseada em acontecimentos reais que nos faz refletir.
  • O que te faz sentir: impotência, indignação


SICÁRIO: TERRA DE NINGUÉM

Sicario: Terra de Ninguém - Divulgação/Paris Filmes - Divulgação/Paris Filmes
'Sicario: Terra de Ninguém' aborda a guerra às drogas
Imagem: Divulgação/Paris Filmes

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  • Onde: UOL Play, Paramount+
  • O que tem de bom: A guerra às drogas também é uma guerra - por mais que não tenha a mesma atenção ou provoque a mesma indignação que o atual conflito na Ucrânia, por exemplo. "Sicário: Terra de Ninguém" (2015) traz um desses "fronts", na divisa entre EUA e México, onde agentes do FBI (Emily Blunt e Daniel Kaluuya), em uma força-tarefa com um agente da CIA (Josh Brolin), enfrentam o Cartel de Sonora, liderado por um ex-promotor (Benicio del Toro). Com vários tons de cinza, este thriller de ação denuncia uma situação complicadíssima, sendo definido por muitos como um "'Apocalipse Now' da Guerra às Drogas".
  • O que te faz sentir: raiva, recriminação

Dicas do time do UOL

Filmes para curtir no Halloween

Na próxima segunda, 31, ocorre o Halloween - ou, como muitos preferem, o Dia das Bruxas. Em julho, uma edição do Na Sua Tela destacou alguns filmes de terror psicológico para você assistir no streaming, com dicas que caem como uma luva para curtir neste fim de semana. Clique aqui para conferir.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
O filme Sniper Americano trata da Guerra do Iraque e não da Guerra do Afeganistão, como informado anteriormente. O texto foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL