Topo

Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

James Gunn assume a DC, mas arrumar a casa do Superman vai dar trabalho

Henry Cavill como Superman - Warner
Henry Cavill como Superman Imagem: Warner

Colunista do UOL

27/10/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Antes de mais nada, a boa notícia: o diretor James Gunn e o produtor Peter Safran foram escolhidos como copresidentes da DC Studios. A função da dupla será, começando agora, supervisionar a direção criativa de todo o universo DC, seja em filmes, séries ou projetos em animação. Ou seja, chega de dúzias de chefs mandando na mesma cozinha.

O anúncio encerra a busca que procurava encontrar um "Kevin Feige" para o universo de heróis por trás de Superman, Batman e cia. Desde que David Zaslav assumiu o controle da Warner Bros. Discovery, o executivo queria um nome para unificar os produtos com o selo DC, uma bagunça que levava surras constantes da rival Marvel.

James Gunn deixou o cinema independente e entrou no jogo dos blockbusters ao dirigir os dois primeiros "Guardiões da Galáxia" justamente para a Marvel.

Demitido devido à polêmica de tweets de humor nada requintado publicados uma década atrás, Gunn foi chamado para a DC, onde dirigiu "O Esquadrão Suicida" e criou a série "Pacificador". No horizonte ele tem "Guardiões da Galáxia Vol. 3", agendado para maio do ano que vem.

Já Peter Safran foi empresário de Gunn por anos, antes de lapidar seu talento como produtor. Com currículo eclético, especialmente no cinema independente, ele marcou um golaço ao conduzir a série "Invocação do Mal" e seus derivados, além de assinar a produção de "Aquaman", "Shazam!" e, por óbvio, "O Esquadrão Suicida".

Com esse currículo, Gunn e Safran se completam na função de guardiões da DC. O primeiro lida com o aspecto criativo do universo; o segundo é mais versado no lado corporativo. É uma união que finalmente promete tirar os super-heróis da editora da lama em que se encontram, especialmente no cinema.

Crachá no peito, a dupla agora tem um trabalho hercúleo pela frente. O primeiro deles é bater um papo com toda a turma que hoje toca um projeto da DC para, então, encontrar algum sentido na bagunça. Obviamente o primeiro que eles precisam chamar para um café é Dwayne Johnson.

Não existe hoje astro mais entusiasmado para vender seu peixe do que Johnson. Ao longo dos últimos meses, seu trabalho em tempo integral foi se tornar o rosto de "Adão Negro", estreia do anti-herói no cinema.

Nas últimas semanas, entretanto, o artista anteriormente conhecido como The Rock deu a entender, mesmo sem sair das entrelinhas, que ele estaria de alguma forma à frente de uma nova DC.

Ok, não são poucos seus méritos. O maior deles talvez tenha sido resgatar Henry Cavill como Superman. Herança do universo concebido por Zack Snyder, a versão de Cavill para o Homem de Aço começou razoavelmente bem com, errr, "O Homem de Aço", mas degringolou em "Batman vs. Superman" e em "Liga da Justiça" - esse um desastre com duas versões ruins.

O trabalho de Gunn e Safran agora é entender como "Adão Negro" se encaixa nos novos planos que miram a unificação desse universo - e, de tabela, dizer para Johnson segurar o entusiasmo. Começar do zero não é mais uma opção, já que, de cara, eles herdaram Cavill e sua versão do Superman.

Gunn já mostrou ser possível criar um reboot de leve com "O Esquadrão Suicida". O filme de 2021 foi um fracasso nos cinemas, mas não por sua inegável qualidade, e sim por ser lançado não só no meio da pandemia, mas também simultaneamente na HBO Max. Ainda assim, Gunn criou uma história original, sem abrir mão de alguns elementos do péssimo "Esquadrão Suicida" de 2016.

O mundo apresentado em "Adão Negro" precisa, agora, dialogar com os três outros filmes que compartilham a mesma cronologia e já estão na fila para ser laçados: "Shazam! Fúria dos Deuses", "Aquaman e o Reino Perdido" e "The Flash". Esse último tem o bônus da dor de cabeça chamada Ezra Miller, que passou boa parte de sua pandemia se encrencando com a lei.

Os encontros dos novos chefes da DC também devem incluir Patty Jenkins, atualmente desenvolvendo a terceira aventura da Mulher-Maravilha. Uma coisa é certa: se Gunn e Safran já estivessem à frente da DC, uma aberração como "Mulher-Maravilha 1984" jamais teria saído do papel.

A incógnita ainda é o papo com Matt Reeves. "Batman" não incendiou as bilheterias mas teve uma carreira decente o bastante para que seu diretor pudesse desenvolver uma série de produtos derivados, no cinema e em streaming, com o microcosmo do Homem-Morcego. Meu chute é que eles vão puxar o freio de mão e reavaliar as opções.

Até porque temos Henry Cavill como Superman, acompanhado de Gal Gadot (Mulher-Maravilha), Jason Momoa (Aquaman) e, vá lá, Ezra Miller (Flash). Se o futuro de Ray Fisher como Cyborg é não ter futuro, como fica o Batman nessa configuração?

Volta Ben Affleck, que já era do clubinho? Ficamos com Michael Keaton, agendado para fazer seu retorno como o Cavaleiro das Trevas em "The Flash"? Existe espaço para considerar Robert Pattinson?

Dúvidas, dúvidas. Mas, quer saber? A essa altura eu acredito que ter esse tipo de dúvida é até saudável, considerando que, até duas semanas atrás, os heróis da DC estavam totalmente sem rumo. É melhor acompanhar as decisões tomadas por quem entende não só esse universo de super-heróis, mas também do cinema pop moderno, do que ver aventureiros entrando e saindo do jogo.

Uma mudança já foi para melhor. Quando finalmente confirmou seu retorno como Superman, Henry Cavill ressaltou sua vontade em ver o herói em uma aventura temperada pelo otimismo.

A imagem que ele compartilhou traz um Homem de Aço vestindo um uniforme de cores mais brilhantes, deixando de lado as sombras equivocadas de Zack Snyder. Até o cabelo em "s" deu as caras. James Gunn gosta de super-heróis. A campanha pelo cuecão vermelho por cima da calça começa já!