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Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'O Projeto Adam': Ryan Reynolds quer salvar, sozinho, o cinema da molecada

Ryan Reynolds e Walker Scobell em "O Projeto Adam" - Netflix
Ryan Reynolds e Walker Scobell em 'O Projeto Adam' Imagem: Netflix

Colunista do UOL

13/02/2022 06h14

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Ryan Reynolds tem 45 anos de idade. Vou chutar, portanto, que ele cresceu com uma dieta caprichada de filmes dos anos 1980, quando havia menos propriedades intelectuais sendo exploradas e muita coisa inédita sendo criada.

Era também uma época em que uma criança com seus 10, 12 anos de idade conseguia abraçar aventuras nas quais ele conseguia se enxergar na tela. E eu nem falo só de blockbusters como "E.T." ou "Os Goonies".

Havia um vasto convite à aventura para pré adolescentes, representado por filmes diversos como "Os Heróis Nâo Tem Idade " e "Daryl", como "Deu a Louca nos Monstros" e "Querida, Encolhi as Crianças".

"O Projeto Adam" parece trazer Reynolds em modo nostálgico ao máximo. É uma fantasia sobre um garoto que encontra o seu eu mais velho, de volta ao passado para combater o que parece ser uma invasão alienígena e, entre outras coisas, salvar seu pai.

Tem a atmosfera suburbana que Steven Spielberg fez funcionar tão bem em seu "E.T.", tem um tempero de "O Voo do Navegador" com sua viagem no tempo, tem o apelo lúdico de um "Viagem ao Mundo dos Sonhos".

Como estes filmes, "O Projeto Adam" é também uma ideia original. Traduzindo para a Hollywood do novo século, seria algo quase impossível de tirar do chão. Ryan Reynolds, que não é um estranho a grandes empreitadas corporativas como "Deadpool", parece determinado a provar que, neste cenário, é possível mirar em um público jovem sem precisar tirar sua inspiração de um gibi.

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Ryan Reynolds em 'Free Guy'
Imagem: 20th Century Studios

Isso ficou evidente ano passado quando ele bancou "Free Guy - Assumindo o Controle", dirigido pelo mesmo Shawn Levy que já arriscara histórias originais para a mesma faixa com a trilogia "Uma Noite no Museu" e com seu excelente "Gigantes de Aço".

"O Projeto Adam" traz Reynolds e Levy juntos mais uma vez, agora em um projeto que os aproxima ainda mais da sensibilidade infantojuvenil que dominou uma fatia considerável de atenção nos anos 1980.

Não que projetos com elenco em pela ebulição hormonal tenham desaparecido. O próprio Levy levou ao streaming a série "Strangers Things", que sobrevive dessa mesma nostalgia. J.J. Abrams fez "Super 8", com elementos parecidos, sob produção de Spielberg. Em 2019, Joe Cornish fez o extremamente divertido, e criminosamente ignorado, "O Menino Que Queria Ser Rei".

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O elenco bombando hormônios da série 'Harry Potter'
Imagem: Warner

Ah, e temos a série "Harry Potter", claro, que trouxe seus protagonistas crescendo literalmente sob o olhar do público ao londo de oito filmes em uma década. "It - A Coisa" colocou a petizada enfrentando um demônio poderoso e também se tornou um fenômeno.

São propriedades intelectuais, o que obviamente não tira o seu mérito, mas que sublinha ainda mais a tarefa complicada que Ryan Reynolds assumiu ao insistir na produção de filmes originais para um público que, convenhamos, anda muito bem servido nos cinemas e no streaming e parece não estar lá muito interessado em dar uma espiada pela janela.

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'Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa' provou a força dos super-heróis
Imagem: Sony

"Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa" já rendeu, afinal, mais de US$ 1.5 bilhão. É um sucesso absoluto que confirma a soberania atual dos filmes de super-heróis no cinema. A Marvel também chacoalhou o streaming em 2021 e não pretende desacelerar, com projetos como "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" e "Cavaleiro da Lua" dispostos a manter a bola quicando.

A concorrência vem com fôlego redobrado, que a Warner/DC preparando-se para seu novo "Batman" (que terá dois spin offs no HBO Max para fazer companhia a "Pacificador"), e recentemente exibiu um teaser louvando seus heróis e seu cardápio para o cinema em 2022, com "Adão Negro", "Flash" e "Aquaman e o Reino Perdido".

Não me entenda mal. Eu adoro super-heróis, "Star Wars", "O Senhor dos Anéis" e todo o pacote que a cultura pop constantemente renova e reapresenta para um público ávido. Quero muito ver "Obi-Wan Kenobi" e mal posso esperar para voltar à Terra-Média em "Os Anéis de Poder". Reencontrar velhos amigos é sempre confortável e divertido.

Mas se eu tivesse 12 anos e alguém me mostrasse esse trailer de "O Projeto Adam", eu não descansaria até sentar confortavelmente no sofá com um balde de pipoca e ser transportado em uma viagem ao desconhecido. Sim, no sofá. É uma produção Netflix.