Roberto Sadovski

Roberto Sadovski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

A roupa nova do rei: primeira imagem de 'Superman' divide os fãs

Enquanto as filmagens de "Superman" seguem a todo vapor, o diretor James Gunn achou que era a hora certa para compartilhar a primeira imagem de David Corenswet como o Homem de Aço. Foi como alimentar fogo com mais gasolina. Em poucos minutos, a foto do herói, em pose casual, tomou o mundo de assalto — ao menos o mundo virtual.

Não demorou para pipocar vídeos e textos debruçados sobre a imagem. Uma foto, segundo o próprio Gunn tirada no set, foi criticada, "consertada", aplaudida, dissecada, explicada. Um microscópio forjado na cultura pop tentando decifrar, em uma simples foto, algum segredo da aventura que chega aos cinemas no próximo ano.

Ame o novo Superman, odeie o novo Superman, não importa: neste mundo de informações supersônicas, o "fale bem ou mal, mas fale de mim" foi materializado exatamente como o estúdio provavelmente planejara.

Na verdade, essa polarização apaixonada é exatamente o que os donos da marca buscam. O cinema pós-pandemia ainda não reencontrou seu chão. Para cada fenômeno "Barbenheimer", dúzias de outros filmes não encontram seu público no cinema.

A arrecadação nas bilheterias experimenta recuperação claudicante, com filmes de menor orçamento se dando bem pelo simples fato de ser mais fácil recuperar os custos.

Escolhido por James Gunn para ser o novo Superman, David Corenswet aparece em primeira foto oficial da aventura
Escolhido por James Gunn para ser o novo Superman, David Corenswet aparece em primeira foto oficial da aventura Imagem: Warner

Candidatos a blockbuster, no entanto, custam caro, e precisam de retorno mastodôntico. Ano passado, para ficar em exemplos mais próximos, apostas dadas como certas, baseadas em propriedades intelectuais poderosas, derraparam nas bilheterias. "The Flash", "Indiana Jones e a Relíquia do Destino" e "Missão: Impossível - Acerto de Contas" viram o público dando de ombros. Na matemática dos estúdios, esse cenário é fatal.

É aqui que entram em cena os fãs. Essa massa amorfa que, nessa época regida por redes sociais, foram convencidos de ter o poder em ditar os rumos de seus personagens prediletos no cinema. É uma ilusão, claro, alimentada por um sistema que precisa manter essa crença. Ao ser colocado como parte do jogo, o fã torna-se mais propenso a pagar o ingresso e conferir o resultado de sua "contribuição".

O barulho dos fãs, seja positivo ou negativo, cria um cenário em que um filme, por ainda estar em produção, poderia ter os rumos alterados se a gritaria alcançar altos decibéis. Ao divulgar a primeira imagem de "Superman", o estúdio estimula os aplausos e também a crítica, que não raro se torna até agressiva. É como se a aprovação popular, nessa parte do processo, influenciasse o resultado.

Continua após a publicidade
Henry Cavill em sua estreia como Superman em 'O Homem de Aço'
Henry Cavill em sua estreia como Superman em 'O Homem de Aço' Imagem: Warner

Não é assim que funciona a produção de um filme, claro. No caso de "Superman", uma peça importante na engrenagem do altamente competitivo universo dos super-heróis no cinema, a ideia é mesmo disparar o burburinho.

De todas as grandes produções pop de 2024, arrisco que "Deadpool e Wolverine" é a mais aguardada justamente porque o estúdio, amparado pelas mãos hábeis de seu astro Ryan Reynolds, aprendeu direitinho a estimular a discórdia e a criar a ilusão de entregar "o que os fãs querem".

Claro que nem o fã sabe exatamente o que quer. Coloque cinco entusiastas de "Star Wars" numa sala e peça para que eles decidam o futuro da série, e o resultado certamente serão cinco propostas em atrito. "Superman" é um exemplo ainda mais bizarro, já que o único objeto de controvérsia seria o design do traje do herói — o fã, veja só, dá uma importância absurda para isso.

A revelação é tão frustrante quanto reconfortante: em "Superman", David Corenswet terá o visual... do Superman! Uma textura aqui, uma inspiração diferente para o emblema ali, um padrão de cores mais claro/mais escuro do que a turma espera, o já famoso calção por cima das calças. Tudo ali representa exatamente o Homem de Aço que o mundo conhece há mais de oito décadas.

Christopher Reeve e Brandon Routh como Superman
Christopher Reeve e Brandon Routh como Superman Imagem: Warner
Continua após a publicidade

Fora das páginas dos quadrinhos, nunca houve mesmo espaço para invencionices. Em 1978, Christopher Reeve vestiu muitíssimo bem um traje colante em "Superman - O Filme". Quando Brandon Routh assumiu a capa em "Superman - O Retorno", já em 2006, havia uma leve modernização em cima do mesmo chassis. Zack Snyder se livrou do calção por cima das calças em "o Homem de Aço", e o traje usado por Henry Cavill pareceu... incompleto.

Mas veja como são as coisas. Quando Snyder revelou a primeira imagem de Cavill como o Superman em "O Homem de Aço", a gritaria online foi a mesma. Alguns aplaudiram, outros detestaram e a vida seguiu. O mais bacana dos ícones da cultura pop é como artistas diferentes os reinventam ao longo dos anos, deixando-os reconhecíveis, ainda que certamente diferentes.

A bola da vez agora é David Corenswet em "Superman". Daqui até julho de 2025, quando a produção chega aos cinemas, pode esperar mais revelações, um punhado de trailers, um oceano de especulações e o fandon dividido — como não poderia deixar de ser.

O importante é manter a bola quicando e estimular a demanda até o momento em que o filme chegar ao cinema. Particularmente, o novo Superman parece um velho conhecido que ganhou roupas novas. Está de bom tamanho.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes