Topo

Roberto Sadovski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'What If...?' traz novas versões de velhas histórias em um mundo sem regras

Colunista do UOL

11/08/2021 02h44

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Não existe nenhuma conexão entre "What If...?", primeira série animada da Marvel, e o vasto universo compartilhado do estúdio. Não há pistas sobre acontecimentos futuros, não há gatilhos emocionais, não existe cena pós-créditos. O desenho, entretanto, confirma uma máxima: quanto mais fora da casinha o produto com o selo Marvel, melhor ele é.

Inspirada em uma série de quadrinhos publicada esporadicamente desde 1977, "What If...?" é um exercício narrativo divertido, uma resposta bacana a perguntas que ninguém sequer cogitou fazer. É também mais uma prova de confiança da Marvel em seu material e seu alcance: para saborear cada episódio animado se faz necessário conhecimento prévio de tudo que o estúdio produziu desde 2008.

what vigia - Disney/Marvel - Disney/Marvel
O Vigia (Jeffrey Wright) é o guia pelas realidades alternativas da Marvel
Imagem: Disney/Marvel

O garimpo, felizmente, vale a pena. Com histórias contidas em episódios de pouco mais de meia hora - eu tive acesso aos três primeiros, e são ótimos! -, "What If...?" reproduz a mesma estrutura do gibi que a inspirou. Sua maior adição, por sinal, é um personagem que pode crescer no cânone da Marvel: o Vigia, que tem voz de Jeffrey Wright.

É ele quem coloca as peças no tabuleiro ao começo de cada aventura. O cenário é sempre familiar, como a experiência que fez de Steve Rogers um supersoldado, a abdução de uma criança pelos Saqueadores de "Guardiões da Galáxia" e as primeiras conversas de Nick Fury com um Tony Stark ainda verde em sua armadura. Uma pequena alteração, um gesto diferente e a linha de tempo é alterada em uma nova cadeia de acontecimentos.

A abertura do primeiro episódio pergunta "o que aconteceria se" fosse Peggy Carter, e não Steve Rogers, a receber o soro do supersoldado. O que se segue é um mundo estranhamente familiar e completamente diferente. No segundo episódio, é o príncipe T'Challa, e não Peter Quill, que é levado ao espaço para se tornar o Senhor das Estrelas. Já o terceiro traz um questionamento que, só em ser verbalizado, já tira metade da graça da coisa.

Se o conceito já soa divertido e descomprometido, a execução é absolutamente brilhante. A Marvel caprichou na produção e entregou uma série animada de beleza deslumbrante, que lembra a fluidez do traço limpo produzido pelos estúdios Fleischer para o Superman nos anos 1940. O resultado reproduz cenários familiares a quem acompanha este universo e aumenta a aposta ao construir cenas de ação que muitas vezes superam a dinâmica dos filmes.

what tchala - Disney/Marvel - Disney/Marvel
Chadwick Boseman em uma despedida agridoce para o príncipe T'Challa
Imagem: Disney/Marvel

A cereja no topo do bolo é o elenco. Existe uma certa camaradagem nos bastidores da Marvel que pode ser observada aqui, quando atores do primeiro time como Hayley Atwell, Michael Douglas, Tom Hiddleston e Josh Brolin repetem seus papéis como Peggy Carter, Hank Pym, Loki e Thanos. Sua participação aumenta a conexão com filmes e séries do estúdio, mas também levantam a questão da ausência de colegas como Chris Evans e Robert Downey Jr., cujos personagens são dublados por outros profissionais.

É agridoce, portanto, a volta de Chadwick Boseman como T'Challa. Sua despedida prematura do príncipe de Wakanda resultou em um capítulo de alta voltagem emocional. É coincidência que seja o episódio em que a personalidade do herói africano esteja em primeiro plano, mostrando como sua influência e seu coração poderiam ter alterado totalmente as engrenagens de eventos cósmicos trágicos.

É um adeus adequado a um ator de imenso talento e coração gigante, que nos faz de fato questionar "o que aconteceria se...?". Só por isso, "What If...?", com suas reviravoltas e surpresas, vale uma espiada.